Português (Brasil)

|Crítica| 'Branca de Neve' (2025) - Dir. Marc Webb

|Crítica| 'Branca de Neve' (2025) - Dir. Marc Webb

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Branca de Neve' / Walt Disney Studios

 

Título Original: Snow White (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Marc Webb
Elenco: Rachel Zegler, Gal Gadot, Andrew Burnap, Andrew Barth Feldman e Patrick Page.
Duração: 109 min.
Nota: 0,5/5,0

 

A preocupação em agradar os fãs morre na incapacidade de Marc Webb encenar cenas musicais e na replicação vazia e estéril de um filme resolvido na pós-produção

Por que refazer suas próprias animações em live action (ou em animação fotorrealista, como é o caso de O Rei Leão)? Os remakes sempre existiram de forma massiva em Hollywood, inclusive adaptações de animações para filmes com atores e cenários reais, o problema passa longe de ser o refazer uma obra, a questão se volta muito mais para como a Disney se utiliza de tal prática. A premissa de fazer um remake sempre é a de renovar o produto original, seja trazendo uma nova visão criativa, seja atualizando elementos ultrapassados para uma nova realidade. No caso da Disney, a desculpa está em atrair um público mais jovem a conhecer aquelas histórias, em teoria, de filmes mais “antigos” (quando animações da década de 1990 são vistas como antigas é porque o buraco está fundo mesmo). Claro que isso passa longe de ser verdade, visto que Moana, animação com menos de 10 anos e feita já em um 3D bem acabado e atual, terá sua versão em live action, em produção, no momento. Também não é algo restrito a Disney, o live action de Como Treinar o Seu Dragão, com trailer já divulgado, mostra isso. Só que é justamente a casa do Mickey que estabeleceu essa prática, aposta nela massivamente e incutiu na cabeça do público uma demanda que nem sequer existia. Quem realmente implorava por live action de A Bela e a Fera, Branca de Neve, Aladdin, Dumbo etc? 

A verdadeira questão mercadológica (e esses produtos são apenas isso) é: por que vender só uma vez o que pode ser vendido duas ou mais? No processo, há essa desvalorização da animação, a ideia atual de que importa o realismo, sobretudo em obras com atores, mesmo quando se trata de mundos mágicos, fazendo os desenhos serem vistos como uma “arte menor”. Essa é a desculpa perfeita para simplesmente refazer, sem nenhuma preocupação artística e com diretores operários submissos aos estúdios, a mesma obra já existente e ganhar rios de dinheiro com um único conceito: “Olha só como está igualzinha à animação”. Óbvio que essa estrutura também molda o público a esperar o mesmo do original e se incomodar com qualquer alteração, como escalações não idênticas aos desenhos, como aconteceu com A Pequena Sereia e agora com a atriz Rachel Zegler vivendo Branca de Neve. Seria a suposta reatualização pensando em diversidade que incomodaria apenas aos preconceituosos (essa já é uma base de provocação pensada), fazendo assim a Disney mais uma vez lucrar com as discussões fervorosas na internet (o que nem sempre garante boa bilheteria, é verdade), vendo aí a oportunidade de ter o seu filme falado, servindo de marketing gratuito.

Entretanto, em meio a todo esse turbilhão de planejamentos de mercado, o que é esquecido é justamente o que mais importa: o filme. No caso de Branca de Neve, a obra sofre dobrado, visto que críticas do ator Peter Dinklage sobre a representação dos anões no cinema levou o estúdio a transformar os personagens clássicos em atores de diferentes estaturas, o que gerou revolta nos fãs, fazendo a Disney mais uma vez voltar atrás, mas agora com o longa já em produção, e resolver tudo em computação gráfica, com anões digitais. Ou seja, fica claro que não há visão criativa, o que importa é agradar desesperadamente o maior número de compradores para esse produto (que por acaso é um filme). Parece que a Disney não aprendeu nada com a trilogia sequel de Star Wars e as mudanças de rumo para agradar o fandom, que ao final não foram bem recebidas por ninguém.

Branca de Neve passa por um processo parecido e ainda pior do que os outros live action, isso porque essa história já foi levada às telas em live action inúmeras vezes, inclusive recentemente. A desculpa do estúdio é que esse é o live action original (cai quem quer, não é mesmo?). Em meio a todos esses elementos extrafílmicos, o resultado poderia ser previsto: uma obra sem personalidade, que vive para replicar e não para divertir, emocionar ou reformular o já existente. 

Tudo piora não só pelo controle do estúdio, que transforma o longa em um amontoado de composições e personagens mal acabados em CGI, mas também ao que compete (pelo menos em teoria) a Marc Webb. O cineasta é incapaz de dar um toque mínimo aos relacionamentos propostos, Zegler e Andrew Burnap não só não tem nenhuma química, como a narrativa deles juntos não tem qualquer desenvolvimento, e o mesmo vale para a relação da protagonista com a madrasta malvada (vivida por Gal Gadot, que é incapaz de reagir ou se expressar e parece uma parede que só consegue dar sorrisinhos forçados de canto de boca, isso sem falar quando se revolta, transformando-se em uma caricatura típica de uma atriz ruim na mão de um diretor quase tão fraco quanto).

Se o diretor não consegue dirigir o seu elenco e é bastante prejudicado por não ter papel no roteiro e na pós-produção (que viram as bases dessas produções gigantes controladas pelo estúdio para lucrar facilmente pela nostalgia), nada justifica a incapacidade dele em encenar números musicais. Trata-se de um musical repleto de elementos fantasiosos, mas Webb não consegue nem captar a magia pelo ambiente e os seres ali presentes (com exceção de alguns poucos momentos na casa dos anões que o longa ganha cores mais vivas), e muito menos é capaz de posicionar os personagens em tela e filmar as coreografias desses números musicais. Os atores se acumulam frente a câmera, com esta quase sempre posicionada na mesma altura deles, muitas vezes os filmando de costas, sem uma decupagem e montagem que saiba articular esses elementos cênicos. Vira um amontoado de pessoas se sobrepondo, enquanto alguém canta em algum lugar do quadro. A magia do original mais parece um fan film executado por inteligência artificial.

Compartilhe este conteúdo: