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|Crítica Mostra 2024| 'Oeste Outra Vez' (2024) - Dir. Erico Rassi

|Crítica Mostra 2024| 'Oeste Outra Vez' (2024) - Dir. Erico Rassi

Crítica por Victor Russo.

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'Oeste Outra Vez' / O2 Play

 

Título Original: Oeste Outra Vez (Brasil)
Ano: 2024
Diretor: Erico Rassi
Elenco: Ângelo Antônio, Antônio Pitanga, Babu Santana, Adanilo e Daniel Porpino.
Duração: 97 min.
Nota: 4,5/5,0

 

Os carros dão lugar aos cavalos, os homens se enfiam em perseguições com rifles e pistolas, enquanto os códigos do faroeste são recontextualizados e as mulheres deixam a cena para rirmos desses homens dependentes e de mira falha

Um homem, que descobriremos ser Totó (Ângelo Antônio), estaciona o seu carro impedindo a passagem de outra caminhonete, dirigida por Durval (Babu Santana). Os dois saem do carro e começam a trocar agressões, enquanto uma mulher deixa o veículo de Durval e sai andando para longe daquela briga. É a última aparição de uma personagem feminina em Oeste Outra Vez, logo na primeira cena. Assim, Erico Rassi evidencia o seu olhar não só para os homens de hoje, mas para esse recorte histórico de como o cinema, sobretudo o faroeste, sempre retratou essas figuras. Não se trata exatamente de mais um faroeste revisionista, muito menos de uma simples sátira usando o gênero tipicamente americano como pano de fundo. A recontextualização para um cenário bastante brasileiro, tanto pelo local afastado e bastante deserto em que nem celular chega, quanto pelo agir de cada um, o buteco com a pinga e a sinuca, e por aí vai. Ao invés de simplesmente atualizar o western para o Brasil de hoje, Rassi faz um processo inverso inicialmente, mas que não é também uma homenagem e nem apenas uma referência ou nostalgia. É o reconhecimento do cinema como forma de representar realidades a partir da seleção de pontos de vistas e perspectivas, entender como essa arte moldou percepções e como se pode jogar com esses símbolos enraizados.

Os personagens abandonam então o carro e pegam os cavalos para essa perseguição típica do gênero, enquanto portam armas que parecem de um ou dois séculos atrás. Mas não são mais os cowboys, pistoleiros e foras-da-lei do passado, com todo o glamour que um gênero dominante na Hollywood clássica esbanjou. Também não é a percepção do cowboy ultrapassado de um O Homem Que Matou Facínora ou mesmo Os Imperdoáveis. Aqui são homens comuns, que parecem não trabalhar, apenas viver de ir ao boteco e chorar pelos amores perdidos, mas que embarcam nessa aventura, como se quisessem brincar de velho oeste. Mas aquele faroeste já não existe mais, e toda a imponência do gênero e da figura masculina como ser dominante frente a mulheres, com algumas poucas exceções, que apenas serviam ou eram donzelas para serem salvas, agora são percebidas com uma nova graça. O feminino se tira da equação porque pode, percebem que não são obrigadas a viver com aqueles seres patéticos, possivelmente abusivos e violentos (nem chega a ser questões tão presentes aqui), que não sabem amar ou se expressar emocionalmente, e choram escondidos quando ficam solitários naquele mundo que não sabem viver.

Rassi não exclui então os símbolos clássicos, nem os modifica por completo, mas faz deles piadas sobre e com aqueles homens. Os grandes planos abertos não são mais uma forma de apenas demonstrar aquele vasto oeste inabitado pela chegada do trem e da “civilização”, mas serve também para apequenar aqueles homens e revelar suas deficiências. O mesmo acontece com o escuro, essa noite que toma conta e os esconde em sua insignificância. Homens que não conseguem dormir sozinhos, que se abrem só até certo ponto com seus parceiros de viagem, e que mentem para tentar demonstrar uma virilidade que não existe, seja dizendo ter sido um jagunço ou ao esconder que a esposa não morreu, apenas o deixou para encontrar um outro mais jovem. O filme cita as figuras femininas, que não são objetos de indignação desses homens, apenas de saudade e incapacidade de se completar. Não existem mais John Wayne e Clint Eastwood com suas miras implacáveis, sobram esses senhores com armas na mão, mas errando tiros à queima roupa em outros desprotegidos. Mais uma vez a noite e o plano aberto funcionam, não apenas para esconder essas mortes e violências, como, principalmente, pela incapacidade desses homens de serem aqueles ideais exibidos por décadas em faroestes americanos. Ao final, até os mais temidos não sabem se expressar ou se comunicar, até as ameaças vêm em cartinhas mal escritas. Resta a eles, então, apenas se juntarem em botecos para beberem pinga, jogarem sinuca e dançarem. 

E o mais divertido é como Rassi não simplesmente torna essas figuras em seres patéticos para serem chacota, mas nos aproxima deles e as piadas aparecem justamente na hora de se comunicar. No final, é o diretor quem está no controle, evidencia com seus zooms e panorâmicas para onde devemos olhar, ou quebra um núcleo para apresentar os perseguidores, também de perto, respondendo com violência às suas frustrações contra outros homens, que não são covardes, apenas parecem mais dignos da companhia daquelas mulheres, e, por isso, Rassi os esconde ao longe no plano, eles não são interessantes para esse recorte. Esse controle começa já com a mulher que vai embora enquanto a câmera olha para ela e termina com a apresentação de um solitário na casa vazia e os outros representados pela câmera que se afasta do bar lotado e barulhento.

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