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|Crítica| 'O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim' (2024) - Dir. Kenji Kamiyama

|Crítica| 'O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim' (2024) - Dir. Kenji Kamiyama

Crítica por Victor Russo.

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'O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim' / Warner Bros.

 

Título Original: The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Kenji Kamiyama
Elenco: Brian Cox, Gaia Wise, Luke Pasqualino, Miranda Otto e Christophr Lee
Duração: 134 min.
Nota: 2,5/5,0

 

A história de uma personagem esquecida e os traços de anime perdem o fator novidade quando o longa parece mais interessado em um mar de fan service e inserções apenas para filmes futuros

Ao mesmo tempo em que O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é um reflexo do período atual da indústria, em muito ele se diferencia da maioria dos reboots, remakes, prequels e sequências que vêm sendo feitos. Por mais lucrativo que tenham sido os longas de Peter Jackson, sobretudo a trilogia O Senhor dos Anéis com toda a sua merecida aclamação, nada indicava que esse seria um mundo que teria novas obras (a série da Amazon Prime Video nada tem a ver com os longas), mas o período de desespero dos estúdios ligou o botão de alerta e nele está escrito: nada de novo, sugue ao máximo suas franquias de sucesso ou transforme em sequência longas únicos minimamente populares. Nessa levada, Twister, Gladiador e Os Fantasmas Se Divertem tiveram continuações, Alien retornou e mais muitos filmes já estão nos planos, assim como O Planeta dos Macacos, Pânico, Halloween e outras franquias do terror estão em desenvolvimento para um novo ciclo e até Harry Potter, percebendo o fracasso das prequels, terá um reboot em formato de série para o Max (menos de 15 anos após o último filme). Era óbvio que o mesmo aconteceria mais cedo ou mais tarde com as adaptações da Terra Média pela Warner. Só que se trata de um caso um pouco diferente, visto que J. R. R. Tolkien dedicou grande parte de sua vida a construir aquele mundo fantástico, criando língua, canções, eras, raças e tudo que se pode imaginar nesse marco da literatura de fantasia, tendo não só mais de uma centenas de histórias e personagens ricos para serem adaptados para o cinema, como muitas brechas e contos inacabados que podem ser igualmente levados para as telinhas ou telonas. Com o cuidado certo, O Senhor dos Anéis pode ter obras incríveis por muitos e muitos anos. 

Nesse sentido, O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é uma combinação entre as duas possibilidades, uma mistura do escrito e o em aberto. Enquanto Hera existe no universo, ela não está realmente presente. Ou melhor, não com este nome e importância. Cabe a Kenji Kamiyama e aos quatro roteiristas do longa criar esse mito em torno da personagem antes conhecida apenas como “a filha sem nome de Helm”, cercando-a de nomes conhecidos e elementos que marcam o imaginário dos fãs (até dos menos assíduos e restritos aos filmes), e reconhecendo-a como esse pedaço de história que não ficou popular, algo bem integrado nos desejos e atitudes dela. É como se a protagonista fosse esse primeiro ponto de conciliação entre o novo e o estabelecido, essa busca do longa por expandir o universo com um refresco de inesperado, presente de forma ainda mais clara pelo que o destaca desde os primeiros materiais de divulgação, a abordagem não mais em live action, mas com uma animação com traços de anime, algo que tem virado moda nessa tentativa dos estúdios de se expandirem para novos cantos a fim de atingir novos públicos (tanto The Witcher quanto Star Wars já haviam apresentado obras semelhantes e superiores nos últimos anos). 

Só que, se essa estilização oferece uma beleza na apresentação daqueles cenários que já conhecemos dos filmes, como Edoras e o Abismo de Helm, um detalhamento nos figurinos e, sobretudo, uma fluidez nas sequências de ação e na possibilidade de normalizar acontecimentos sobrehumanos, no todo, ela soa mais como um enfeite bonito do que algo realmente integrado à estruturação da narrativa. Trata-se de um filme que clama por essa novidade, mas o faz a partir de muito fan service. Essa história, que parece mais um apêndice de um universo tão vasto, trai-se em uma busca por abraçar, como o Vigia na Água (nome dado ao kraken deste mundo), diversas possibilidades de novos filmes com seus muitos tentáculos, trazendo Isengard, Gandalf, Saruman, orcs, anéis, Sauron indiretamente, olifantes, mercenários, entre tantos outros elementos que parecem nunca pertencer realmente a história de Hera e dos cavaleiros da marca, sendo desvios que tiram o peso desse olhar direcionado para o conflito em Rohan. Não bastasse isso, há ainda uma ânsia de piscar incessantemente para os fãs, não só criando espelhamento entre esses novos personagens para aqueles que só conhecem O Senhor dos Anéis por obras audiovisuais, sendo os mais claros Helm com Théoden, Hera com Éowyn, e, principalmente, Frealaf com Éomer, mas repetindo momentos marcantes, como o discurso do Rei de Rohan em O Retorno do Rei, e diversos enquadramentos e momentos com As Duas Torres, sendo o mais claro a chegada de Frealaf com o seu exército exatamente pelo mesmo local, com os mesmos enquadramento e iluminação que Éomer no segundo longa da trilogia, após ele também ter sido banido por seu tio e rei. Assim, o filme não ofende e serve como um novo pontapé para a franquia, mas derrapa feio em se construir como algo único, fechado e diferente como se imagina.

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