|Crítica| 'Terrifier 3' (2024) - Dir. Damien Leone
Crítica por Victor Russo.
'Terrifier 3' / Diamond Films
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Damien Leone esquece um pouco a expansão da mitologia para retroceder ao seu fetichismo adolescente e nada mais
Por coincidência ou não, Terrifier 3 vai se parecer em ideia e estrutura com outros dois filmes (ruins) recentes de horror, os dois primeiros Halloween da trilogia de David Gordon Green. Claro que aqui são cinco anos, não 40, mas temos em Sienna (Lauren LaVera) a final girl que sobreviveu e aguarda pelo retorno do serial killer indestrutível, agora já consciente do que precisa fazer para vencê-lo. A introdução da entidade demoníaca talvez seja a única ideia nova para a mitologia que o cineasta expandiu bastante no segundo filme. Nesse sentido, o longa vai lembrar bastante Halloween Kills, um filme de meio de franquia que pouco faz para além de exibir as mortes, como se fosse um capítulo consciente da sua falta de importância, ainda que Leone faça questão de conectar de maneira bem explicativa o início do seu filme de natal aos eventos do anterior, que já terminava com uma cena pós-crédito implorando por uma sequência. E abrir com Art (David Howard Thornton) matando crianças é uma forma do cineasta lembrar a falta de qualquer tipo de humanidade do seu vilão e o quanto ele se delicia com seu choque barato e sádico.
Entretanto, se o longa é menos misógino do que os anteriores, sobretudo em relação ao primeiro, é perceptível a pretensão crescente de Leone, consciente que o seu produto antes de baixíssimo orçamento agora é uma espécie de ícone de um nicho dos consumidores de cultura pop. Ele dobra a aposta então nas mortes e nas piadas envolvendo esse personagem tão assassino quanto infantil. Sienna nada tem de protagonista, a final girl é jogada de lado para uma trama familiar e de trauma (mais uma semelhança com o Halloween, de 2018), quase que só preenchendo o tempo até Art chegar nela, estrutura idêntica ao filme de Green, que bota uma porrada de jovem genérico para morrer antes de Michael Myers encontrar Laurie e sua família. Só que, se no filme de Green havia um interesse pela expectativa de Laurie, no de Leone isso praticamente é descartado. Como um produto típico de especial de natal ( só que lançado no Halloween) o longa está contente o suficiente apenas com a repetição de mortes, um diferencial visual em relação ao longa de 2018, lá dominado por um escuro acinzentado, enquanto o de 2024 tem um prazer em mostrar tudo com cores vivas e máximo de gore que o cineasta é capaz de imaginar. No processo, é difícil aguentar a chatice que é o núcleo de Sienna.
Entretanto, a questão é mesmo como Leone lida com a exposição da violência, algo banal no horror e que gera um prazer esperado no espectador de slasher. O cineasta, que aqui até faz questão de algumas referências óbvias, como a O Iluminado no início ou a aparição de Tom Savini na televisão (essa mais legal), um mestre dos efeitos práticos e maquiagens em filmes de horror, claramente não sente prazer apenas pelas mortes, mas se diverte junto com o seu psicopata. Não é uma questão mais de temer por quem Art vai matar, mas de vibrar e humilhar a cada tortura e desmembramento. O que soa completamente bizarro em um filme que tenta em algum lugar inserir uma discussão sobre o consumo de true crime e como as pessoas se divertem com isso, ao mesmo tempo que Leone se atira na própria ironia. Só que, para um filme que tem prazer pelo ato de matar de forma extremamente sádica, é bem impressionante o quão comum é a decupagem de cada uma dessas mortes, sem qualquer inventividade, mas repleto de uma torcida bem adolescente. Art ter virado um ícone diz muito sobre a nossa sociedade atual, a infantilização do público e o apreço pelo sadismo a ponto de se identificar com um psicopata com mente de criança vestido de palhaço que se diverte triturando um saco escrotal com a serra elétrica. E por “se diverte” podemos ler “Leone se diverte”, sente prazer com isso ou com Vicky sentindo um orgasmo ao enfiar repetidas vezes um pedaço de vidro na sua vagina, nos lembrando nesse e em outros momentos o quão misógina é a franquia e a visão do cineasta. Essa é a mente brilhante que muitos acreditam ser o futuro do slasher, um adulto com mentalidade de 15 anos que está aí por ter viralizado no Tik Tok. Triste momento para o gênero.