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|Crítica| 'Inverno em Paris' (2024) - Dir. Christophe Honoré

|Crítica| 'Inverno em Paris' (2024) - Dir. Christophe Honoré

Crítica por Raisa Ferreira.

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'Inverno em Paris' / Pandora Filmes

 

Título Original: Le Lycéen (França)
Ano: 2024
Diretor: Christophe Honoré
Elenco: Paul Kircher, Vincent Lacoste, Juliette Binoche, Pascal Cervo e Erwan Kepoa Falé.
Duração: 123 min.
Nota: 2,5/5,0

 

Com inspiração documental, Christophe Honoré retrata o desenvolvimento emocional efusivamente adolescente a partir de um luto inesperado

O mundo cor-de-rosa é geralmente atrelado a uma ilusão em como se enxergam as coisas, tornando-as mais agradáveis do que realmente são. Mas, em Inverno em Paris, a fotografia coloca óculos coloridos para exibir um universo nada feliz, ainda que muito jovem e cheio de descobertas. A principal delas, quando pensamos em filmes coming of age e no que parece ser mais crucial a Lucas (Paul Kircher), a sexualidade, já é muito bem resolvida antes que sua história seja partilhada com a pessoa espectadora. O adolescente gay, com uma relação casual dentro da escola, dá depoimentos sobre um acontecimento doloroso vivido, falando direto para a câmera ou em uma narração em off. Encenando seu filme a partir dessa ideia documental, Christophe Honoré dá a impressão de que seu protagonista tem controle do que será contado e em que momento cada momento será narrado. Lucas já começa o longa com todas as informações, não as vive conforme o tempo nos é relatado, mas pode segurar para revelar a morte do pai ou o que exatamente fez em certo dia em Paris. Em certo sentido, o garoto tem de fato muita agência nessa narrativa, já que sua família também o dá espaço para lidar com suas questões como bem entende. A perda repentina do pai impede quem assiste de conhecer o homem e como ele se relacionava com o filho mais novo, então só restam poucos pedaços de desabafos do garoto que teme ter sido uma decepção por ser gay. É esse luto de um desconhecido que é tão íntimo do adolescente, que desperta seu desenvolvimento emocional, muito pautado em um exagero típico dessa fase da vida. Tudo para Lucas é extremamente dramático, emotivo e complicado, suas respostas são inflamadas e suas ações envolvem sua corporeidade, usando o sexo como meio e formas de se ferir ou dar prazer como testes quase científicos de se compreender enquanto pessoa no meio desse luto. 

Inverno em Paris quase sempre vai usar seu filtro rosa pastel para mostrar tudo, aplicando uma melancolia inocente ao filme. Porém, em momentos, há uma estilização maior que busca tons azulados ou avermelhados, banhando de forma mais dura as cenas. Da mesma forma que Lucas é trabalhado por meio de sua juventude complexa, com um texto puxado para um lado poético que o faz um garoto exagerado que vê profundidade e dor em tudo, a estética do filme busca esses recursos mais estilizados para empregar certo tom, principalmente em cenas que remetem ao sexo, como que reforçando a importância dessa expressão de forma mais artística. Honoré quer que o longa seja assim, complexo e poético, mas em dados momentos sua câmera dinâmica se assemelha a uma sitcom documental, não apenas removendo a carga dramática, como também a ridicularizando. É o caso quando Lucas grita sozinho em seu quarto após a morte do pai, uma cena que provoca riso em meio a uma grande dor. Ao que parece, como a obra toda caminha, não é intenção do diretor que seu protagonista seja visto como uma pessoa mimada que quer chamar atenção, ao menos não no sentido mais cru e risível da coisa, mas algumas de suas cenas acabam dando esse resultado ao somar todos os fatores. 

Este drama busca humanidade, atravessando uma jornada particular a partir dos próprios relatos de quem a vive, porém, mesmo que pensemos que Inverno em Paris considera a fase da vida de Lucas e tudo que ela envolve, seu retrato fica entre o cômico e um exagero meio egoísta, que afasta o que deveria ser mais importante, uma aproximação de quem assiste com seu emocional, de forma a se conectar empaticamente. São suas escolhas que pautam os próximos acontecimentos, sendo o único fora de seu controle a morte do pai, deixando os outros personagens orbitando ao redor de suas atitudes impensadamente calculadas. A exceção é provavelmente Lilio, um homem gay mais velho que serve para o jovem como uma figura de admiração, por não ter outro exemplo semelhante que o inspire. Esse laço entre ambos até traz algo mais substancial à trama, mas quando visto perante o todo, não tem força suficiente para estruturar o restante. Sendo algo muito particular, Honoré abraça a ideia de complexidade de Lucas praticamente idealizando seus comportamentos e erros e, assim, se é possível à pessoa espectadora se identificar com tal retrato, provavelmente o resultado tende a ser mais agradável e bonito. No entanto, se esse vínculo inexiste, sobra a obra em si, um grande exagero que é mais um entre tantos filmes sobre luto, traumas e amadurecimento por meio do corpo e sexo. 

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