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|Crítica| 'O Corvo' (2024) - Dir. Rupert Sanders

|Crítica| 'O Corvo' (2024) - Dir. Rupert Sanders

Crítica por Victor Russo.

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'O Corvo' / Imagem Filmes

 

Título Original: The Crow (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Rupert Sanders
Elenco: Bill Skarsgard, FKA Twigs, Dannu Huston, Laura Birn e Jordan Bolger.
Duração: 111 min.
Nota: 2,0/5,0

 

Muito mais inofensivo do que se anunciava, Rupert Sanders apresenta ideias interessantes, mas falha ao executá-las

Quando foi anunciado e, principalmente, ao ter o primeiro trailer divulgado, o remake do filme cultuado de 1994 (longe de ser tão bom quanto se faz parecer hoje em dia) imediatamente virou piada nas redes sociais, e se você não sabe disso é compreensível, já que a divulgação passa longe de ser massiva como normalmente acontece com outros blockbusters e adaptações de HQ. A impressão que ficava era de que, mesmo com um diretor acostumado a fazer longas de grande orçamento e um protagonista em alta como Bill Skarsgard, não passaria de apenas um resgate do universo aos moldes daquelas sequências/remakes que saíram direto para as locadoras na década de 1990, como o terrível O Corvo - Cidade dos Anjos. Entretanto, trata-se de um caso curioso, em que o material de divulgação vende um longa muito pior do que a obra real., O Corvo (2024) passa bem longe de ser um bom filme, assim como está a anos-luz de distância de um produto qualquer de baixo orçamento. Sem pesquisar, apenas assistindo ao que se apresenta em tela, já seria possível pensar em algo entre 40 e 70 milhões de dólares, dinheiro gasto no chamado longa de médio-orçamento, que timidamente está retornando, mas é uma raridade entre as caríssimas adaptações de HQ/filme de herói que ainda dominam o mercado.

O remake inclusive tem um mínimo de coragem ao não simplesmente replicar o original, mas dar uma atenção especial para os personagens, para a construção visual e para as cenas de ação, ainda que o romance que se estende durante todo o primeiro terço do filme seja incapaz de criar todo aquele furor apaixonado que o texto sugere, muito até pela montagem que corta de um lugar para o outro e pouco mantém os momentos de contato físico ou conexão entre os personagens. Nesse sentido, a pretensão por ser mais “complexo” do que o original se apresenta como um tiro no pé. A economia do de 1994, ao apresentar uma relação já pré-existente, não só exigia menos envolvimento do espectador como agilizava o processo para o que realmente interessa: a vingança e as sequências de ação. Tudo que envolve Eric (Bill Skarsgard) e Shelly (FKA Twigs) é encenado às pressas, com um texto tão genérico que se torna possível adivinhar qual linha de diálogo virá a seguir, e o que era para ser a potência dramática do longa, aquilo que nos faria sentir toda a dor da vingança do protagonista, soa mais como um longo impeditivo para a obra chegar onde realmente deseja. Ainda assim, a preocupação por criar uma mitologia mais ampla, nem sempre bem explicada ou com tantos elementos, é verdade, é uma escolha condizente com o momento presente do cinema, a busca, quase sempre vazia, por uma complexidade, aqui frouxa, mas firme o suficiente para construir algo pelas próprias pernas, fazendo até do vilão caricato de sempre de Danny Houston minimamente mais interessante do que o do original.

Só que, como já dito, o verdadeiro interesse está em tudo aquilo que acontecerá nas suas sequências finais, quando Eric finalmente se transforma no Corvo e o filme tenta mergulhar em um submundo estilizado e cheio de violência gráfica. É de se considerar que Sanders têm ideias, pensa os planos, não é um filme que peca pelo descompromisso ou por escolhas genéricas resolvidas na pós-produção. Há uma noção de enquadramentos, uma montagem (sobretudo no terço final) a fim de combinar imagens e até um interesse no uso das músicas. Nesse sentido, após aquelas passagens mais acinzentadas e o romance sem sal, o filme ganha vida visualmente, com destaque para cenas de ação minimamente coreografadas e com uma violência bastante explícita, ainda que meio fetichista para nerd que não está acostumado a ver filme +18, com destaque para a montagem alternada que tenta criar um paralelo entre as lutas sangrentas na escadaria de entrada da ópera e o que acontece no palco do mesmo lugar, em uma clara tentativa de replicar o que John Wick: Parabellum havia feito com o balé. Mais uma vez, sobram ideias e boas intenções, falta capacidade de executar o planejado, os planos que alternam entre um lugar e outro nunca encontram uma similaridade visual, os movimentos não são contínuos, viram apenas quebras para provar um discurso. O único momento da sequência que funciona dentro desse joguinho são as palmas da plateia logo após Eric matar o último capanga da primeira leva, e até isso Sanders desperdiça, ao repetir a mesma piada, tirando toda a graça que havia da primeira vez. Dessa forma, não ser uma catástrofe talvez seja o maior elogio para O Corvo, o esforço está lá, falta talento mesmo para o mesmo cineasta do remake de Ghost in the Shell e de Branca de Neve e o Caçador.

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