Português (Brasil)

|Crítica| 'Alien: Romulus' (2024) - Dir. Fede Álvarez

|Crítica| 'Alien: Romulus' (2024) - Dir. Fede Álvarez

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Alien: Romulus' / 20th Century Studios

 

Título Original: Alien: Romulus (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Fede Álvarez
Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu.
Duração: 119 min.
Nota: 3,5/5,0

 

Fede Álvarez pausa a expansão da franquia e se volta para a origem, ressignificando-a visualmente 

Alien é mais uma das muitas franquias bilionárias que a Disney herdou ao expandir seu monopólio, com a compra da antiga 20th Century Fox, que vinha com uma grande interrogação sobre o que o estúdio planejava para o universo. De forma geral, a ideia é bastante mercadológica, como é de se esperar do modus operandi da empresa, essas franquias serão exploradas até não fazerem mais dinheiro, e, quando isso acontecer, depois de uma pausa, voltarão em forma de nostalgia. Entretanto, Alien: Romulus é um caso raro dentro dessa visão maior, a partir do momento que sim, tem um caráter de mercado, uma daquelas premissas que só seriam aprovadas se tivessem de acordo com os interesses do estúdio, e, em linhas gerais, o longa segue uma proposta bastante replicada nos últimos anos, sobretudo após Star Wars: O Despertar da Força, o que Pânico V ironizou nessas retomadas de franquias que referenciam o passado, mas substituem os seus personagens/atores, sendo uma espécie de reboot e sequência ao mesmo tempo, a fim de, dessa forma, contemplar tanto os fãs do passado quanto um público novo e mais jovem que pretendem atingir (o que falhou diversas vezes, mas ainda segue sendo dominante). Porém, não podemos cair no erro bobo de resumir tudo ao roteiro ou a expansão de universo, esquecendo o filme em si como o objeto de atenção. Nesse sentido, Alien: Romulus está mais para o bom Predador: A Caçada e menos para o mediano Planeta dos Macacos: O Reinado (ambos também ex-Fox e agora da Disney), ao ter um entendimento do espaço sedimentado por aquela franquia e pensar no filme em questão e não na dependência para com os seguintes.

A comparação entre os três filmes faz ainda mais sentido quando vemos os diretores envolvidos nos projetos, Fede Álvarez (Romulus) já havia trabalhado com franquias estabelecidas e deixado sua marca, sendo o filme mais marcante o bom Evil Dead (2013), que deu vida nova a esse universo esquecido, assim como Dan Trachtenberg (A Caçada) foi o responsável por Rua Cloverfield 10, outro bom filme e, nesse caso, bastante diferente do anterior. Já Wes Ball (O Reinado) vinha apenas da fraca trilogia Maze Runner, que partia de uma premissa até interessante, mas não passava de mais uma saga genérica que tentou surfar a onda do protagonista jovem tentando romper uma sociedade opressora em um futuro distópico (tendência que ganhou força com Jogos Vorazes e foi replicada à exaustão com Doador de Memórias, saga Divergente, Maze Runner e tantos outros), e, sendo assim, não era inesperado que seu novo trabalho seria uma tentativa pouco audaciosa de replicar o que Matt Reeves havia feito com Planeta dos Macacos, sobretudo em termos de dramaticidade e computação gráfica, ao mesmo tempo que entregava de bandeja para o estúdio essa projeção para um futuro infinito e replicado.

Então, a partir de agora, esquecemos os filmes que não nos concernem nessa crítica e foquemos apenas em Álvarez e seu novo trabalho. Em meio ao equilibrismo imposto ao diretor, ou melhor, que ele mesmo tomou como caminho (já que um diretor menos preocupado com a sua obra poderia simplesmente ceder totalmente à visão do estúdio e fazer um longa genérico qualquer), o retorno ao filme de 1979, até referenciado diretamente a partir da figura de Ian Holm (mais um ator que faleceu e teve sua volta digitalmente conferida em um filme da Disney, mas deixemos o debate ético para outra hora), é, em maior escala, de gênero e espaço dramático. Ou seja, não era por acaso que apenas Oitavo Passageiro era encarado como um filme de terror, já que a partir do ótimo Aliens houve uma guinada tão grande para ação que foi até possível se pensar e realizar aqueles crossovers ridículos com o Predador (essa sim, uma franquia que já tinha nascido na ação dos macho movies nos anos 1980), para depois retornar em Prometheus e Covenant mais como ficção científica e mitologia (apesar de alguns momentos voltados para o terror), em uma expansão das bases fundadoras do universo. Álvarez não rejeita completamente o que veio depois do iniciador, da quantidade de aliens do segundo filme às novas formas de vida e sua expansão pela galáxia dos mais recentes, começando até em uma colônia futurista e exploratória que vai lembrar Blade Runner, Vingador do Futuro e outros filmes de ficção científica. Só que esses elementos são mais desvios bem-vindos do que a base da obra.

A partir do momento em que entramos naquela estação espacial abandonada, o que temos é uma impossibilidade de fuga, enquanto os aliens vão se despertando, dinâmica semelhante ao primeiro filme, mas um tanto ressignificado, o que faz sentido pelo momento da franquia, ao aumentar o espaço da nave e, por consequência, elevar a quantidade de criaturas ameaçadoras, assim como James Cameron fez no segundo longa. Só que, diferente de Cameron, que já tinha consigo uma Ripley (Sigourney Weaver) estabelecida querendo o confronto, Álvarez comanda uma Rain (Cailee Spaeny) ainda mais frágil e jovem, tentando resolver a maioria das situações muito mais com a cabeça e o coração do que com a fisicalidade, assim como era a Ripley no primeiro longa. E, dessa forma, o longa caminha como Oitavo Passageiro, com uma tripulação sem conhecimento daquelas criaturas e o terror sendo construído nesse lugar restrito.

Só que o grande diferencial de Álvarez é o reconhecimento do que veio antes, impedindo-o assim de apenas replicar. Ele tem a base, mas decide criar a partir dela, ou melhor, compor. Como uma sinfonia, o cineasta se move com cuidado, concebendo cada plano com detalhismo, pensando em cada imagem e como elas serão combinadas, usando-se de elementos da mise-en-scene, como a escuridão ou as luzes de emergência, não para tornar tudo imperceptível, mas para criar uma espécie de inferno belo, uma combinação de claro escuro que permite evidenciar claramente ou esconder essa ameaça quando convém. Esse trabalho de artesão ganha corpo também pelo roteiro, que vai adicionando pecinhas cuidadosamente para usá-las posteriormente e pensar o espaço e a imagem a partir delas. A gravidez, a tecnologia de ver o corpo por dentro, o ácido dos aliens, a gravidade ou falta dela, entre muitas outras coisas, são alguns dos elementos que vão ser apresentados para depois aparecerem em imagens bem compostas que em nada tiram a tensão das cenas. Álvarez se permite até brincar com sutileza ao fazer um alien (que sempre foi sabido sobre seu formato fálico remeter a um pênis) sair de uma espécie de casulo no formato de uma grande vagina, o que facilmente passaria pela classificação indicativa, que é de 16 anos muito mais por conta da violência explícita e bela que só reforça a maturidade de Álvarez enquanto cineasta.

Compartilhe este conteúdo: