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|Crítica| 'Salamandra' (2024) - Dir. Alex Carvalho

|Crítica| 'Salamandra' (2024) - Dir. Alex Carvalho

Crítica por Raissa Ferreira.

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'Salamandra' / Pandora Filmes

 

Título Original: Salamandra (Brasil)
Ano: 2024
Diretor Alex Carvalho
Elenco: Marina Foïs, Maicon Rodrigues, Anna Mouglalis, Bruno Garcia e Allan Souza Lima.
Duração: 116 min.
Nota: 2,5/5,0
 

Preenchendo os espaços com o silêncio e as barreiras de comunicação, Alex Carvalho encontra a linguagem pelos corpos mas deixa seu conflito confuso

Catherine (Marina Foïs) é sempre vista em Salamandra como uma alienígena ao local que visita, silenciosa, fitando com seus olhos os hábitos dos outros ou parada no sol, a mulher muito branca contrasta as pessoas negras que passam ao seu redor nas praias quase vazias de Pernambuco. A barreira do idioma é muitas vezes usada com facilidade para que essa protagonista permaneça misteriosa, fria e fechada, trocando pouquíssimas palavras com os outros, e até mesmo quando alguém fala francês, Catherine já esteve tão quieta durante as cenas anteriores que os diálogos pouco aprofundados não destoam do todo. É assim que Alex Carvalho cria um longa que é mais uma análise complicada sobre essa mulher que não deixa jamais que seu interior seja compreendido, do que sobre as ações ao seu redor. A encenação encontra nos corpos sua linguagem, ainda que Gil (Maicon Rodrigues) fale livremente o português, são os gestos, olhares e o sexo que atuam como conversas do casal e enquanto a personagem vai evoluindo, aprendendo a pertencer a essa terra estrangeira, segue o corporal acima do verbal, a forma como ambos podem dizer algo. Nesse trabalho, qualquer coisa que necessite uma maior compreensão racional se perde um tanto, por isso, quando o filme caminha mais na tensão de uma trama de intrigas, crimes e mentiras, é como se o espectador se colocasse na mesma posição de incompreensão de Catherine, observando tudo sem saber exatamente o que está acontecendo. Sua resposta é novamente a ação do corpo, dos sentimentos, a raiva, o fogo e o corpo queimando ao sol, dizem muito mais do que as tentativas de estabelecer golpes e conflitos.

A mulher mais velha encontra no Brasil um refúgio de uma vida que parece ter sido perdida e cheia de privações de acordo com seu semblante cansado e a voz quase nunca ouvida, a retração do corpo que vai se perdendo em oposição à irmã, já com vida estabelecida em Recife, solta, de pele bronzeada e diálogo constante. Catherine então, que sempre cuidou do pai, encontra outro homem que serve como guia dela nesse novo território desconhecido, que é tanto Pernambuco quanto seu próprio corpo. Se aventura com Gil mesmo trocando quase nenhuma palavra com ele, permitindo que o rapaz conduza suas ações, mas sempre levando cada encontro ao momento em que o sexo se torna a conversa principal. Os closes que se aproximam das expressões da protagonista exploram seu prazer como se fosse algo inédito a ela, novo, uma experimentação como a primeira vez em uma festa brasileira ou comendo uma farofa. Catherine caminha em Recife e Olinda como uma criança descobrindo a terra, com dificuldade para ser compreendida e para compreender, até que sua pele vai se tornando mais laranja e seu português melhora, mas, mesmo assim, se apega em Gil como único guia possível para a linguagem de seu corpo. Depois de problemas, suspeitas e conflitos, não tenta dizer nada, não há diálogo que busque, só deseja o encontro de suas bocas e peles. É assim que na dificuldade de entender que golpe tomou no processo, não vai atrás de respostas e sim novamente do sexo e a raiva é a única reação possível quando compreende que perdeu seu condutor. A rejeição de Gil trabalha a mesma linguagem estabelecida por Salamandra, são poucas as palavras que fazem sentido no filme, e o “não” é a que liga o fogo dentro de Catherine, que só age movida por seus desejos, nunca pela racionalidade. 

Porém, é importante dizer que na ideia, tudo é melhor executado do que na prática, em que o homem é tanto o condutor do desejo quanto o único a emanar alguma sensualidade, enquanto Catherine é puramente alguém seca e desesperada pelo toque. O desenvolvimento superficial do filme caminha muito mais no lado europeu do que brasileiro, com certa frieza para tudo e uma exploração psicológica esvaziada que deixa o sexo truncado, não fluído e caloroso como imagina-se em uma lógica como essa. Então, enquanto os silêncios predominam e o diretor compreende que são as emoções e os corpos que devem falar mais alto, Salamandra até vai por uma direção mais coerente, embora suas cenas não passem a intensidade do que propõe, do que o flerte com um suspense difícil de compreender. 

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