Português (Brasil)

|Crítica| 'Zona de Exclusão' (2024) - Dir. Agnieszka Holland

|Crítica| 'Zona de Exclusão' (2024) - Dir. Agnieszka Holland

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Zona de Exclusão' / A2 Filmes

 

Título Original: Zielona Granica (Polônia)
Ano: 2024
Diretora: Agnieszka Holland
Elenco : Jalal Altawil, Maja Ostaszewka, Behi Djanati Atai, Tomasz Wlosok e Dalia Naous.
Duração: 152 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Ao praticamente abrir mão do melodrama, Agnieszka Holland rejeita o próprio cinema e se afasta daquela crise humanitária, ainda que o texto e a fotografia revelem uma certa ingenuidade 

É bastante curioso pensar que Zona de Exclusão e Eu, Capitão foram premiados na mesma edição do Festival de Veneza. Ambos olham para a crise dos refugiados africanos (e do Oriente Médio também no caso do primeiro) que tentam entrar na Europa, mas a ótica cinematográfica não poderia ser mais diferente. Enquanto o italiano tem no continente europeu uma idealização da vida dos sonhos e coloca o seu protagonista para ser agredido e torturado frente à câmera para só assim poder chegar no seu destino com a mesma esperança que tinha no início, o polonês tem uma lente muito mais ampla e distanciada da questão. Nesse sentido, Holland não só se coloca de forma muito mais consciente na posição de quem vê a crise de um lugar seguro do que Matteo Garrone, como parece entender bem melhor o que acontece nas fronteiras do seu país do que o Italiano.

Então, se Garrone tenta adaptar na marra o sofrimento do protagonista ao seu cinema de fantasia, Holland faz o exato contrário. Muito conhecida por obras que adaptam histórias ou situações reais e históricas, muitas vezes envolvendo guerras, a diretora polonesa tem como a principal marca de seu cinema o melodrama, quase sempre bastante apelativo. Nesse sentido, Zona de Exclusão seria o palco perfeito para, como Garrone, se debruçar única e exclusivamente sobre o sofrimento daqueles personagens oprimidos. Até a vilania principal está bem direcionada no longa, já que, por mais que a Polônia e outros personagens sejam parte do problema, a cineasta aponta o dedo para a Bielorrússia e o seu ditador Alexander Lukashenko como os grandes responsáveis por toda a crise humanitária instalada nessa fronteira, uma porta de entrada para a União Europeia. Entretanto, ao retirar a cor já nos primeiros segundos, fragmentar a narrativa em capítulos em torno do tema central, mas com diversos personagens tendo algum tipo de protagonista, sendo muitos deles poloneses e não refugiados e, sobretudo, tendo muito cuidado ao retratar a violência sofrida pelos mais afetados por tudo aquilo, Holland nega essa manipulação mais direta do espectador pela dor de pessoas fragilizadas. O longa ganha até um caráter que se aproxima mais do documentário, como se a cineasta tivesse apenas organizando as peças de um contexto maior, expondo para o mundo aquela situação e denunciando a forma como a Europa seleciona quais refugiados vai aceitar em seu domínio.

Se ao fazer isso, Holland tem um controle muito maior do que abordar, tendo até uma familiaridade muito maior com o assunto, fica também bastante evidente que o filme busca um rigor narrativo, a ponto dessa manipulação velada da cineasta se tornar mais clara do que o planejado. São diálogos posicionados milimetricamente para surtir um efeito, personagens usados apenas como peças, ignorados assim que o longa já preencheu aquele pré-requisito temático e, principalmente, uma estilização por meio do preto e branco contrastado ou de enquadramentos e movimentos de câmera que mesmo que soem apelativos e óbvios, chamam a atenção por esse caráter meio objetivo. É como se, ao olhar mais de perto, aquela percepção de que estamos simplesmente vendo uma crise humanitária sendo exposta para o mundo desse lugar a escolhas milimétricas, com objetivos manipulativos, ao final, não se diferenciassem tanto assim do que se espera da diretora. Ainda que aqui, essa suavização conseguisse extrair uma força maior das situações, como o super close no garoto finalmente conseguindo se alimentar no meio da floresta depois de tantas batalhas serem travadas.

Compartilhe este conteúdo: