Português (Brasil)

|Crítica| 'Uma Família Feliz' (2024) - Dir. José Eduardo Belmonte

|Crítica| 'Uma Família Feliz' (2024) - Dir. José Eduardo Belmonte

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Uma Família Feliz' / Pandora Filmes

 

Título Original: Uma Família Feliz (Brasil)
Ano: 2024
Diretor: José Eduardo Belmonte
Elenco : Grazi Massafera, Reynaldo Gianecchini, Luiza Antunes e Juliana Bim.
Duração:115 min.
Nota: 2,0/5,0

 

Buscando referência no thriller hollywoodiano, José Eduardo Belmonte “enquadra e ilumina bem”, mas não consegue sustentar a narrativa óbvia com as lacunas e a trilha que se anuncia

Por mais que se possa questionar o resultado final de suas obras, Belmonte é um dos diretores brasileiros mais prolíficos dos últimos anos, buscando em gêneros e estilos específicos, mas sem abandonar uma preocupação por uma fotografia “bem feita”, chamando até a atenção para cada quadro e escolha de iluminação, muitas vezes milimetricamente calculados. Só que, como é comum em seu cinema, essa busca por um refinamento estético e seriedade não tem como resultado final uma unidade narrativa que se fortaleça por essas escolhas. Pelo contrário, essa necessidade em filmar com sombras, em criar sugestões ao posicionar os personagens em cena a fim de criar um possível significado, transforma-se em uma espécie de adereço que se desvia do que o longa realmente é. Uma Família Feliz tem então aí o seu valor maior, na busca pelo “bem feito”, mas que pouco conversa com todo o restante.

O longa que olha demais para o fazer hollywoodiano, escancara nesse cálculo evidente a espera por um plot twist ao final, que já é sugerido pela sequência de abertura, in media res, mantendo aquela lembrança com poucas informações vivas na nossa mente, enquanto o longa retrocede e começa a construir essa família prestes a desmoronar. Entretanto, o mesmo cálculo formal, que até gera algum efeito, aparece em cada escolha para o avançar dessa história, da montagem muitas vezes desconexa à seleção de cada cena com o objetivo específico de primeiro deixar uma pista e depois explicar essa pista (o remédio que é revelado como câncer em uma das garotas, a descoberta da esposa anterior que morreu e a sugestão de vilania do marido [Reynaldo Gianecchini], a protagonista [Grazi Massafera] excluída que depois explicita não ser mãe das irmãs etc). Ao mesmo tempo, as supressões óbvias de momentos específicos é o que ainda mantém a atenção do espectador. A pergunta que se levanta é: quem está fazendo isso? O olhar acusatório se direciona para o marido, já que acompanhamos a esposa. Entretanto, não vemos muitos acontecimentos dos seus dias, possibilitando que ela tenha questões psicológicas, como é acusada. Não importa, a verdade é que aguardamos o plot twist de revelação, o filme se volta para isso e todo o restante vira uma longa espera para a chegada desse momento.

No meio do caminho, somos levados por escolhas para lá de questionáveis. Se Belmonte dá atenção para cada detalhe visual, o mesmo não acontece em como dirige as cenas, sobretudo os atores, ou em como faz questão de anunciar o que o espectador deve sentir, com uma trilha sonora que só revela que há um mistério ali e devemos nos preocupar, algo que se aproxima até da hollywood clássica, mas sem nenhuma imaginação, fazendo com que toda cena, como se programada, terminasse com essa trilha de suspense subindo, até um corte abrupto para o silêncio. Só que nada supera a dificuldade de Reynaldo e das crianças em passar a emoção que Belmonte espera. Tudo soa forçado, caricato, ainda que o tom pareça buscar uma credibilidade séria e realista. 

No final, quando o longa chega a sua revelação, o interesse já se esvaiu em meio a tantas idas e vindas e cenas constrangedoras. O plot twist se enfraquece por já sabermos a sequência que virá depois dele e ainda resta uma cena pós-créditos de constrangimento difícil de descrever (e que pouparei aqui para não dar spoilers). Sobra apenas uma intenção de fazer um thriller que converse com diversos públicos, mas a execução não podia ser mais desconjuntada.

Compartilhe este conteúdo: