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|Crítica| 'American Fiction' (2024) - Dir. Cord Jefferson

|Crítica| 'American Fiction' (2024) - Dir. Cord Jefferson

Crítica por Victor Russo.

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'American Fiction' / Amazon Studios

 

Título Original: American Fiction (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Cord Jefferson
Elenco : Jeffrey Wright, John Ortiz, Erika Alexander, Leslie Uggams e Sterling K. Brown.
Duração: 119 min.
Nota: 2,0/5,0

 

Na busca por fazer comentários espertinhos sobre a indústria, Cord Jefferson superficializa o debate ao criar uma caricatura temática e se transforma justamente no que pretende criticar

Tornou-se tradição nos últimos anos sátiras que comentam sobre a indústria ou sobre a política americana serem indicadas ao Oscar, ganhando para alguns o status de “oscar bait contemporâneo”. A fórmula é sempre a mesma, uma premissa interessante, aqui focada em como a indústria se usa de diretores negros, limitando-os a apenas filmes com temáticas raciais, sobretudo forçando uma superficialização do debate, já que perceberam que esses filmes vendem, mas rejeitam qualquer possibilidade desses cineastas fazerem outro tipo de filme. Essa premissa, como sempre, vai propor um debate sobre a indústria, só que Jefferson (em seu filme de estreia), assim como tantos outros antes dele, traz não só a tese, mas também a única conclusão possível. É a percepção comum da indústria de que o público é incapaz de pensar, quando, na verdade, esses espectadores são cada vez mais moldados a não refletir, sendo bombardeados por respostas para todas as perguntas que se apresentam, e, com isso, esperando cada vez mais que tudo seja respondido da forma mais simplificada possível para não restar dúvidas. Jefferson é o da vez a se colocar em um pedestal do conhecimento e rejeitar a presença dos espectadores pensando e construindo uma visão junto a ele. 

Mais do que isso, seguindo o mesmo padrão engraçadinho de sempre, Jefferson superficializa o debate ao transformar tudo em uma grande caricatura, enquanto se eleva mais uma vez ao inserir algumas quebras na narrativa tradicional, como o final falso ou os personagens da ficção dentro da ficção conversando com o escritor, mas que, no fundo, são sacadas para lá de manjadas. Ao fazer dos personagens e situações uma caricatura, o cineasta parece rir dos personagens apenas, reforçando ainda mais essa visão meio egoica dos diretores de sátiras dos últimos anos, incapazes de gerar interesse por personagens interessantes conduzindo essas provocações. 

Só que, se “Ficção Americana” não tem nenhum brilho e insere subtramas para tudo quanto é lado sem realmente ligar para nenhuma delas (o irmão com os muitos namorados, o casamento da empregada, a mãe doente e a outra escritora, interpretada por Issa Rae, parecem apenas enfeites, desvios que até o filme pouco se importa), a grande cilada que o filme entra ao seguir a cartilha é o de justamente se transformar naquilo que critica. Então, se aponta o dedo para uma indústria que se usa de cineastas negros e seus filmes, tentando limitá-los e superficializá-los, como uma forma de lucro que agrada ao público, sobretudo branco, justamente por não incomodar, por ser uma provocação domada, Jefferson faz o mesmo ao criar essa caricatura engraçadinha com um óbvio objetivo de aparecer em prêmios por ser “crítico” e “importante”, quando, na verdade, a crítica que o filme faz pouco incomoda, e a sua importância sobre o debate racial se enfraquece tanto que é capaz de agradar até o mais racista votante do Oscar. 

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