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|Crítica| 'A Menina Silenciosa' (2023) - Dir. Colm Bairéad

|Crítica| 'A Menina Silenciosa' (2023) - Dir. Colm Bairéad

Crítica por Victor Russo.

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'A Menina Silenciosa' / Imovision

 

Título Original: The Quiet Girl (Irlanda)
Ano: 2023
Diretor Colm Bairéad
Elenco : Catherine Clinch, Carrie Crowley, Andrew Bennett, Michael Patric e Kate Nic Chonaonaigh.
Duração: 94 min.
Nota: 3,0/5,0
 

A mesma simplicidade que dá uma doce ternura ao filme e nos direciona o olhar para os detalhes, não o permite ir muito além do lugar mais comum do filme com criança

Muitos filmes com crianças protagonistas marcaram, para o bem ou para o mal, a história do cinema. Essa simples premissa, calcada na escolha de quem guiará a narrativa, sobretudo (e como é mais comum nesse tipo de obra) em filmes que colocam essas personagens em dificuldades (é só perceber quantos longas se usam das crianças como escape chocante para guerras e traumas), já liga um certo sinal de alerta. Isso porque, lidar com crianças, quase sempre vistas como seres puros e frágeis, é uma facilidade muito grande, já que praticamente obriga o público a se apegar imediatamente, ao mesmo tempo que o faz sentir umas 10x mais cada situação em comparação com o mesmo ocorrido em relação a um adulto. Nesse sentido, obras trágicas, como “Vá e Veja” e “Alemanha, Ano Zero” são quase milagres cinematográficos em meio a tantos “A Vida É Bela” e “O Menino do Pijama Listrado” que dominam esse tipo de abordagem. Ao mesmo tempo, as obras que focam na fofura desses seres em formação geralmente parecem mais inofensivas, mas não desprovidas de muleta narrativa. Colm Bairéad rejeita o sofrimento total ou qualquer tipo de tortura imagética, ao mesmo tempo que, também não se resume a explorar apenas o lado mais bonitinho da infância. 

Ainda assim, Cait (Catherine Clinch) é usada sob uma ótica do apego fácil e da situação de vulnerabilidade. Por mais que não haja uma tentativa de chocar pelo sofrimento da menina, Colm tem na sua situação de falta de amor um combustível para o filme se desenvolver. É bem verdade que a escolha da garota ajuda o filme a sustentar, sobretudo inicialmente, a quietude dela que dá nome ao filme (e posteriormente vai ser relativamente subvertida). Assim, o cineasta nos direciona para os detalhes, quase como se nos convidasse a entender o que Cait está sentindo apenas por observar suas expressões e postura acanhada, assim como suas atitudes (o se esconder no matagal e embaixo da cama, o fazer xixi na cama e por aí vai). Mais do que a opressão violenta que estamos acostumados a ver nesse tipo de filme, o diretor faz da casa e da família da protagonista um lugar hostil pela falta de amor e perspectiva. Uma distância emocional que cala essa garota e dificulta o seu desenvolvimento social. 

A grande mudança nessas férias de verão não acontece repentinamente, visualmente o longa até mantém um certo distanciamento, bem típico dessa exploração da Irlanda rural. Não é como se Cait simplesmente chegasse em um lugar convidativo por sua aparência, o que fica bastante claro no receio dela ao adentrar aquele ambiente desconhecido. O que aconchega a protagonista é o relacionamento humano, um amor crescente que ela nunca sentiu, que vai fazê-la não só forçar uma situação para permanecer mais tempo no local, como, principalmente, torna a garota cada vez mais falante e aberta, não só com o casal, mas com outras pessoas da região. E é justamente por tais relações serem desenvolvidas pelos detalhes mais sutis, como o interesse de Colm por decupar cenas que ressaltam planos próximos, como toques de afeto, que a escolha por usar flashes que relembrem essa relação, a fim de reforçar a dor da garota ao perder as pessoas que a ensinaram a amar e ser amada, acaba por ser uma manipulação bem simplória (a trilha sonora vai funcionar nesse sentido também durante boa parte do filme) que nada tem a ver com toda uma construção estética mais convidativa ao espectador perceber por conta própria.

"A Menina Silenciosa” se fortalece então por meio de sua simplicidade, desse foco nas pequenas coisas. Só que justamente essa falta de uma pretensão maior impede que o filme vá muito além daquilo que o gênero costuma fazer, caindo bastante naquela estética muitas vezes rotulada pejorativamente como “filme de festival”. Tem seu charme, consegue ser tocante pela sua ternura e doloroso pela falta de perspectiva de um futuro melhor, mas pouco tem de realmente marcante, para além da ótima atuação da talentosa Catherine Clinch.

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