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|Crítica| 'Wonka' (2023) - Dir. Paul King

|Crítica| 'Wonka' (2023) - Dir. Paul King

Crítica por Victor Russo.

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'Wonka' Warner Bros.

 

Título Original: Wonka (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Paul King
Elenco : Timothée Chalamet, Calah Lane, Keegan-Michael Key, Olivia Colman, Rowan Atkinson e Hugh Grant.
Duração: 117 min.
Nota: 3,5/5,0
 

Paul King acredita na fantasia e faz do CGI o seu maior aliado para proporcionar uma magia que os efeitos práticos apenas não seriam capazes de realizar

Poucos gêneros são tão presentes e ao mesmo tempo rejeitados atualmente por Hollywood quanto a fantasia. Se por um lado, os filmes de heróis, com deuses, alienígenas e os mais variados tipos de poderes dominaram as bilheterias e orçamentos nos últimos 15 anos, por outro, todo esse amor pelo fantástico que era a base dos blockbusters do começo do século (“O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Homem-Aranha”, “Corpo Fechado”, “X-Men” etc) foi transformada em uma obsessão por supostos realismos e complexidades, a ponto de nada existir sem uma resposta “científica”, uma busca doentia pela lógica, uma necessidade constante de tornar todo vilão em um ser “com tons de cinza” (expressão que perdeu sua força pela banalização) e, sobretudo, uma estética que visando o real no final só terminou por destruir a magia e as cores no cinema, como se uma imagem ter vida tornasse esses filmes bregas, palavra que é um crime aos olhos dessa nova estética industrial que Hollywood criou. 

Nesse sentido, King defende e ama a fantasia como poucos atualmente, e a exibe não só por meio de acontecimentos inexplicáveis que não buscam nenhuma validação no real, mas, sobretudo, em como mergulha sua estética em um mundo vivo e cheio de cores, enquanto se utiliza do CGI não a fim de simular a realidade, forma como a técnica quase sempre é valorizada, mas justamente indo no caminho contrário, fazendo da computação gráfica uma aliada para chegar a lugares que a câmera cinematográfica e os truques da sétima arte (efeitos práticos) seriam incapazes de atingir. Assim, King se desloca com leveza por esse mundo, atravessando grades, indo aos céus e retornando em outro lugar, além de acompanhar os enérgicos números musicais. A fantasia deixa então de ser apenas um elemento de crença, torna-se todo um conjunto estético necessário para fazer “Wonka” funcionar. Para embarcar no filme é preciso se desprender do mundo real e se deixar levar por esse universo tão distante do nosso, ainda que reflita os problemas que vivemos diariamente (o mais claro aqui está na falsa ilusão da meritocracia e na união da classe trabalhadora como única possibilidade de quebrar todo o sistema dominante do capital que joga por suas próprias regras).

Wonka se permite então ser brega, como o Oompa Loompa de Hugh Grant, ou os vários vilões caricatos que estabelecem um maniqueísmo claro e cabível nessa história assumidamente infantil. Isso fica ainda mais evidente nos doces e nas mágicas desse Willy Wonka (Timothee Chalamet), astuto, mas bondoso, uma versão (por enquanto) bem diferente das de Gene Wilder e Johnny Depp, o que é bastante condizente com essa proposta mais lúdica e menos sombria de King. A loja ganha forma, os chocolates assumem todas as cores possíveis, assim como a feitura desses não poderia ser mais inexplicável. Todo esse universo adquire esse poder de tocar pela simplicidade, como se um mero chocolate fosse capaz de mudar o mundo. É a vitória do sonho no cinema, que vem desde a essência do musical, até esse contraste estabelecido inicialmente, quando as músicas, danças e projeções do Wonka são cobradas por um fiscal do mundo real. Nesse sentido, de forma mais colorida e juvenil é claro, King parece se inspirar na resistência de M. Night Shyamalan, criando uma ode pelo acreditar no fantástico e se deixar levar pela realidade daquele mundo da tela, sem espaço para o ceticismo do nosso mundo real. 

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