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|Crítica Mostra 2023| 'No Adamant' (2023) - Dir. Nicolas Philibert

|Crítica Mostra 2023| 'No Adamant' (2023) - Dir. Nicolas Philibert

Crítica por Victor Russo;

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'No Adamant' / Nicolas Philibert

 

Título Original: Sur l'Adamant (França)
Ano: 2023
Diretor Nicolas Philibert
Elenco : Mamadi Barri, Walid Benziane, Sabine Bèrliere e Jean-Paul Hazan.
Duração: 109 min.
Nota: 2,5/5,0

 

Nicolas Philibert rejeita a exposição inicial e capta o seu cinema humanitário com intimidade, mas sem nunca atingir um clímax 

Somos imediatamente lançado em um lugar que parece um bar, uma espécie de barco ou plataforma flutuante chamada Adamant presa à terra apenas por uma pontezinha. Lá as pessoas cantam, tocam, conversam e vivem normalmente. Como um bar, logo vemos o lugar esvaziado. Essa impressão inicial nada tem a ver e ao mesmo tempo tudo tem a ver com o que é o Adamant. Um centro para pessoas com algum tipo de questão mental, que está longe de ser um pub, mas, ao mesmo tempo, é exatamente onde essas pessoas se sentem livres para viver, socializar e se conectar com práticas artísticas, como músicas, desenhos, pinturas e filmes. Esse estabelecimento funciona quase como uma península de Paris em um rio, o que não poderia ser mais metafórico para pessoas que fazem parte da sociedade, enquanto também vivem sendo jogadas para fora dela.

Tal abordagem inicial, que vai perdurar por quase todo o longa, foge da expectativa inicial do cinema humanitário, sempre destinado a mostrar a ação de poucas pessoas a fim de ajudar outras em situação de vulnerabilidade. Aquela lógica de que quando os governos não se preocupam com suas populações, cabe ao próprio povo por conta própria tomar esse local. Entretanto, quase sempre esse tipo de documentário preza por uma exposição inicial que situe o público da causa que será retratada. Philibert não faz isso, toma um caminho quase inverso, ele guarda as informações mais cruciais para textos ao final do longa, o que, na verdade, nem seria mais tão necessário e é até meio contraprodutivo em relação à toda proposta da obra.

Ao invés da explicação e das entrevistas, o cineasta escolhe a intimidade cotidiana, o que, não chega a ser uma novidade no filme humanitário ou que aborda um centro específico da sociedade. Vemos então aquelas interações, relações com as mais variadas artes e os relatos dessas pessoas que surgem naturalmente, sem qualquer rigor estético. É como se elas tivessem na câmera a chance de serem ouvidas, ainda que falassem timidamente. Mais duro é perceber que os ali presentes têm consciência da desordem mental e percebem o efeito dos remédios. São dizeres de conformação, deixando ao espectador a dor de ouvi-los em seu pesar, mas também de observá-los vivendo.

Todavia, "No Adamant" nunca realmente atinge um clímax, um momento de real ápice dramático. Isso acaba por ser resultado do próprio senso de comunidade que o documentário cria, importante para estabelecer o Adamant sem individualidade. Mas, ao mesmo tempo, isso acaba por tornar o lugar protagonista e seus personagens apenas coadjuvantes. Dessa forma, a busca por criar grandes momentos com essas pessoas e suas ações nunca surtem o efeito que Philibert deseja. No fim, é mais um documentário em que a história real e sua importância social se agigantam frente à abordagem formal.

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