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|Crítica| 'Meu Nome é Gal' (2023) - Dir. Dandara Ferreira & Lô Politi

|Crítica| 'Meu Nome é Gal' (2023) - Dir. Dandara Ferreira & Lô Politi

Crítica por Victor Russo.

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'Meu Nome é Gal' / Paris Filmes

 

Título Original: Meu Nome é Gal (Brasil)
Ano: 2023
Diretoras: Dandara Ferreira e Lô Politi
Elenco : Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Camila Márdila, Luis Lobianco, Dan Ferreira e Dandara Ferreira.
Duração: 90 min.
Nota: 2,0/5,0
 

“Meu Nome é Gal” não consegue estabelecer uma estética capaz de conectar os seus temas (que são essencialmente próximos), a ponto de se explicar sempre que diz algo novo e se tornar quase uma paródia de si mesmo

O novo filme da dupla Dandara Ferreira e Lô Politi segue essa tendência que está mais para uma coincidência das cinebiografias nacionais de grandes nomes artísticos muito presentes no imaginário popular. Longe de ser uma novidade no nosso cinema mais comercial, muitas delas seguindo até a fórmula mais comum ao gênero, o que soa mais curioso é a proximidade com que essas obras foram lançadas. Ainda mais se, ao lado de “Meu Nome é Gal”, “Nosso Sonho”, “Angela” e “Mussum, o Filmis” (podemos adicionar ainda a do Silvio Santos que está por vir), temos o documentário “Elis e Tom” e a animação espanhola “Atiraram no Pianista”, ambos repetindo nomes e uma parte da história da música brasileira do filme de Gal Costa, ainda que este vá se desenvolver um pouco posteriormente. O mais triste é que, justamente por estarem, cada um com as suas particularidades, meio amarrados a uma fórmula supostamente mais vendável, nenhuma dessas obras consegue ser artisticamente muito marcante, apesar dos grandes nomes retratados.

Dessa vez, as diretoras até escolhem um recorte mais interessante, fugindo da ideia de contar a vida inteira da biografada, apesar de ter elipses bem problemáticas, e olhando para a Gal do início da carreira, já em plena ditadura militar, e o seu crescimento repentino como enfrentamento a esse regime que elevava ainda mais a sua repressão. Entretanto, essa escolha temporal não é capaz de definir exatamente as escolhas do filme e o que temos é uma mise-en-scène que representa essa indecisão do longa. Drama intimista, comédia caricatural de auditório, abordagem realista e crítica da ditadura ou um olhar mais exagerado, quase parodístico dos integrantes da Tropicália? O filme simplesmente é incapaz de articular esses elementos em uma unidade estilística.

Então, se abre filmando de perto o corpo e o rosto de Sophie Charlotte, que faz o que pode aqui para criar a sua versão da Gal Costa, essa proximidade que a câmera sugere só retorna com o filme explicando entre as suas elipses qual é o conflito moral da protagonista em poucos determinados momentos. Só que há uma incapacidade tremenda em retratar esse crescimento de Gal como artista na visão popular, se reduzindo a momentos bobos, como duas mulheres na rua dizendo que aquela não poderia ser a Gal Costa, já que era uma hippie, ou o Caetano Veloso (Rodrigo Lelis) comentando enfaticamente que o João Gilberto havia dito que ela era a maior cantora do Brasil. Da mesma forma, toda a representação da ditadura ou da tropicália cai no mesmo lugar de se restringir a umas poucas falas explicativas. Nada é realmente mostrado, com exceção de um final de show em que Caetano é xingado pela plateia.

É como se nada realmente se conversasse, da intimidade de Gal que não retorna em seus shows (repare como as suas apresentações são filmadas da forma mais genérica, entrecortando entre planos abertos, figurantes na plateia e a personagem vista de longe, nunca se restringindo apenas ao palco ou à figura central), o empresário Guilherme que nada mais é do que Luis Lobianco sendo um de seus personagens do Porta dos Fundos, com um tom completamente oposto àquela suposta urgência da ditadura que nunca vemos, imagens de arquivo jogadas para criar contexto e, para finalizar, essa necessidade de gritar para o público a presença de personagens famosos, como se as cineastas quisessem dizer “olha o Caetano”, “agora a Maria Bethânia”, “o Gilberto Gil também está aqui”, e por aí vai. Só que nada disso é realmente desenvolvido ou bem articulado, em um filme indeciso que quer ser muitas coisas, mas não vai além de um amontoado de ideias e coisas que “precisavam ser ditas”, nunca se importando com o mais importante: como dizê-las.


 

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