Ator-fetiche do movimento Nouvelle Vague, Jean-Paul Belmondo faria 90 anos em 2023. Seu estilo de atuação lacônico e sutil deram vida a inúmeros personagens marcantes do cinema francês sob a lente de diretores como Peter Brook,  Jean-luc Godard, François Truffaut, Louis Malle, Jean-Pierre Melville, Claude Chabrol e Vittorio De Sica. Caras durões, vigaristas, padres e paródias de 007.

Apesar de frequentemente comparado a Humphrey Bogart, Marlon Brando e James Dean, seu charme zombeteiro e distante tornaram Belmondo uma presença única nas salas de cinema.

Para prestar homenagem aos seus 90 anos, a Cinemateca Brasileira traz ao público - entre os dias 31 de maio e 04 de junho - 10 longas-metragens protagonizados pelo ator. As sessões são gratuitas e os ingressos são distribuídos na bilheteria uma hora antes do início de cada sessão. 

Palestra “Jean-Paul Belmondo e a reinvenção moderna do jogo autoral”, com Pedro Guimarães.

Inicialmente identificado com a Nouvelle Vague, o trabalho de Jean-Paul Belmondo no cinema ultrapassa, no entanto, o movimento estético que reinventou o modo de se estar no cinema para atores e atrizes. O jogo de Belmondo, que se iniciou antes da revolução via Godard, Truffaut e seus companheiros, trazia o frescor do jogo burlesco e descompromissado de regras morais, lembrando bastante os atores cômicos do período do cinema silencioso. Ao mesmo tempo, Belmondo foi chamado a interpretar grandes papéis no cinema policial, retomando cânones do gênero de inspiração americana num momento em que os gêneros eram questionados e revisitados por novos cineastas.

Pedro Guimarães é professor e pesquisador do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação e do Programa de Pós-graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor do livro Helena Ignez, atriz experimental (em coautoria com Sandro de Oliveira, Sesc Ed, 2021), coordenador do GEAs (Grupo de Estudos sobre o Ator no Audiovisual) e desenvolve pesquisas sobre estudos atorais, gêneros cinematográficos e história e estética do cinema e do audiovisual.

Confira a programação completa:

31/maio, quarta-feira

18h -  Duas almas em suplício (Moderato cantábile)

França/Itália, 1960, 95min, P&B, 14 anos

Direção: Peter Brook

Elenco: Jeanne Moreau, Jean-Paul Belmondo, Pascale de Boysson, Jean Deschamps, Didier Haudepin, Valeric Dobuzinsky

Sinopse: Anne e Chaven são um casal de estranhos que testemunha um assassinato e decide buscar mais informações sobre a vítima, se apaixonando um pelo outro no processo.

Comentários: Baseado num romance da escritora francesa Marguerite Duras, Belmondo interpreta o par romântico misterioso de Jeanne Moreau, que venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 1960.

20h- A francesa e o amor (La française et l'amour)

França/Itália, 1960, 143min, P&B, 14 anos

Direção: Michel Boisrond, Christian-Jaque, René Clair, Henri Decoin, Jean Delannoy, Jean-Paul Le Chanois, Henri Verneuil

Elenco: Darry Cowl, Noël Roquevert, Paulette Dubost, Sophie Desmarets, Pierre Mondy, Roger Pierre, Jean Desailly, Valérie Lagrange, Paul Bonifas, Marie-José Nat, Claude Rich, Yves Robert, Jacques Fabbri, Dany Robin, Paul Meurisse, Jean-Paul Belmondo, Ellen Kessler, Annie Girardot, François Périer, Francis Blanche, Robert Lamoureux

Sinopse: As sete fases da vida da francesa moderna são abordadas por sete diretores: a infância, a adolescência, a virgindade, o casamento, o adultério, o divórcio, a solteirice.

Comentários: Sucesso de público na França, com mais de 3 milhões de espectadores, o filme apresenta Belmondo no segmento L'Adultère (O adultério), dirigido por Henri Verneuil, mesmo diretor de Macaco no inverno. 

01/junho, quinta-feira | 18h

18h - Quem matou Leda? (À double tour)

França/Itália, 1959, 88min, cor, 16 anos

Direção: Claude Chabrol

Elenco: Madeleine Robinson, Antonella Lualdi, Jean-Paul Belmondo, Jacques Dacqmine, Jeanne Valérie, Bernadette Lafont, André Jocelyn, Mario David, László Szabó

Sinopse: A amante do rico Henri Marcoux é assassinada e a família acusa o leiteiro de ter cometido o crime. Mas o noivo da filha de Marcoux suspeita que ela pode ter sido assassinada por outra pessoa.

Comentários: Primeiro filme colorido do diretor Claude Chabrol, e seu primeiro thriller psicológico, estilo que viria a ser predominante em sua carreira. Usando com perícia os flashbacks e vinhetas, Chabrol cria um perturbador enredo de infidelidade, obsessão e assassinato num vinhedo em Provença. Belmondo interpreta um personagem chamado László Kovács, que era o pseudônimo usado por seu personagem Michel Poiccard em Acossado (Jean-Luc Godard, 1960). 

20h - Duas mulheres (La ciociara)

França/Itália, 1960, 101 min, P&B, 16 anos

Direção: Vittorio De Sica

Elenco: Sophia Loren, Jean-Paul Belmondo, Raf Vallone, Eleonora Brown, Carlo Ninchi, Andrea Checchi, Pupella Maggio, Emma Baron

Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, Cesira, uma mulher viúva, bem-sucedida e proprietária de uma mercearia em Roma, decide fugir da pequena cidade em que vive com a filha, Rosetta, de 13 anos, em busca de um lugar mais seguro. Elas viajam para uma pequena aldeia, onde encontram um jovem comunista, Michele, com quem compartilham a simpatia pelos seus ideais.

Comentários: Baseado em um romance do escritor italiano Alberto Moravia, o filme rendeu o Oscar de Melhor Atriz pra Sophia Loren, a primeira vez que uma interpretação em língua estrangeira foi premiada. Belmondo contracena com Loren como o jovem Michele.

02/junho, sexta-feira

16h - Léon Morin: O padre (Léon Morin, prêtre)

França/Itália, 1961, 117min, P&B, 12 anos

Direção: Jean-Pierre Melville

Elenco: Jean-Paul Belmondo, Emmanuelle Riva, Irène Tunc, Nicole Mirel, Gisèle Grimm, Marco Behar, Monique Bertho, Monique Hennessy

Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial a viúva Barny, ateia, manda sua filha judia para viver em uma fazenda antes que os alemães invadissem sua cidade. Quando ela descobre que o irmão de seu chefe fora mandado a um campo de concentração por ser judeu, decide batizar a filha na religião católica e assim se aproxima do padre Léon, por quem acaba sentindo uma grande atração.

Comentários: Baseado num romance da escritora francesa Béatrix Beck, o filme discute questões teológicas enquanto desdobra temas como repressão sexual e a guerra. Protagonizado por Emmanuelle Riva e Belmondo, em uma performance sutil e sensual.

18h - Técnica de um delator (Le doulos)

França/Itália, 1962, 108min, P&B, 14 anos

Direção: Jean-Pierre Melville

Elenco: Jean-Paul Belmondo, Serge Reggiani, Jean Desailly, René Lefèvre, Marcel Cuvelier, Philippe March, Fabienne Dali, Monique Hennessy

Sinopse: Um criminoso, traidor de criminosos, se prepara para um grande assalto com um amigo de confiança, que pode ser tão traiçoeiro quanto ele mesmo.

Comentários: Baseado em um romance do francês Pierre V. Lesou, o filme é um dos pontos altos da carreira de Jean-Pierre Melville, diretor que apreciava filmes de crime, sobretudo os noir americanos. Aqui, a masculinidade urbana e violenta é transposta para as ruas de Paris e tem Belmondo como o personagem-título.

20h - A Sereia do Mississipi (La Sirène du Mississipi)

França/Itália, 1969, 123min, cor, 16 anos

Direção: François Truffaut

Elenco: Catherine Deneuve, Jean-Paul Belmondo, Nelly Borgeaud, Martine Ferrière, Marcel Berbert

Sinopse: Louis Mahe, um empresário bem-sucedido, reside na Ilha de Reunião, próximo a Madagascar, África. Após um longo período trocando cartas com uma pretendente a esposa, ele está prestes a buscá-la nas docas, onde acaba de chegar no transatlântico Mississipi. Eles terminam se casando, mas somente depois Louis percebe o golpe o qual estava sendo vítima: a mulher com quem se casou não era a mesma com a qual trocava cartas, e estava em busca apenas de seu dinheiro.

Comentários: Dedicado ao diretor Jean Renoir e estilizado como um thriller de Alfred Hitchcock, o filme é uma adaptação de um romance do escritor americano Cornell Woolrich. François Truffaut resolveu gravar a maioria das cenas em ordem cronológica, para desenvolver de forma natural o relacionamento dos personagens principais, interpretados por Belmondo e Catherine Deneuve.

03/junho, sábado 

13h - Macaco no inverno (Un singe en hiver)

França, 1962, 105min, P&B, 14 anos

Direção: Henri Verneuil

Elenco: Jean Gabin, Jean-Paul Belmondo, Suzanne Flon, Gabrielle Dorziat, Hella Petri, Marcelle Arnold, Charles Bouillaud, Anne-Marie Coffinet, Geneviève Fontanel, Sylviane Margollé

Sinopse: Albert é dono de uma pousada que prometeu nunca mais beber se ele e sua esposa sobrevivessem à guerra. Sobreviveram e o alcoólatra reformado mantém sua promessa. Mas os tempos mudaram e logo após a guerra Albert entra em contato com Gabriel, um jovem propenso a pesados ataques à garrafa. Gabriel está em conflito por visitar sua filha em uma escola próxima e, em um momento de nostalgia, Albert entra com ele em uma grande farra, mas com resultados desastrosos.

Comentários: Baseado no romance de mesmo nome do escritor francês Antoine Blondin, o filme é estrelado por Jean Gabin e Belmondo como uma dupla dinâmica e sonhadora.

04/junho, domingo 

13h - O ladrão aventureiro (Le voleur)

França/Itália, 1967, 120min, cor, 14 anos

Direção: Louis Malle

Elenco: Jean-Paul Belmondo, Geneviève Bujold, Marie Dubois, Julien Guiomar, Paul Le Person, Christian Lude, Françoise Fabian, Marlène Jobert

Sinopse: Em Paris, por volta de 1900, Georges Randal é criado por seu tio rico, que rouba sua herança. Georges espera se casar com sua prima Charlotte, mas seu tio quer que ela se case com um vizinho rico. Como um ato de vingança, Georges rouba as joias da família do noivo e gosta tanto da experiência que embarca em uma vida de roubo.

Comentários: Baseado em um livro do escritor francês Georges Darien, o filme foi um sucesso de público na França. Belmondo interpreta Georges, que se rebela contra a burguesia gananciosa do início do século XX.

15h30 - Uma mulher é uma mulher (Une femme est une Femme)

França/Itália, 1961, 85min, cor, 16 anos

Direção: Jean-Luc Godard

Elenco: Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Jean-Paul Belmondo

Sinopse: Angela, uma dançarina de cabaré, deseja ter um bebê e tenta convencer seu namorado, Émile, a ir adiante com a ideia, mas ele não concorda. Ela então procura o amigo de Emile, Alfred, para realizar seu desejo.

Comentários: Primeiro filme colorido de Jean-Luc Godard e o primeiro a ser lançado com a atriz Anna Karina, o filme é uma espécie de “musical neorrealista”, segundo as palavras do próprio diretor. Cores, humor e a trilha do compositor Michel Legrand ajudam a dar o tom de um dos filmes mais acessíveis de Godard, lançado no pico de popularidade de Belmondo.

17h - Palestra “Jean-Paul Belmondo e a reinvenção moderna do jogo atoral”, com Pedro Guimarães;