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|Entrevista| 05 Perguntas Para: Claudio Borrelli - Diretor de 'Urubus'

|Entrevista| 05 Perguntas Para: Claudio Borrelli - Diretor de 'Urubus'

Longa de estreia do diretor paranaense, 'Urubus' narra parte da história do pixo em SP através dos olhos de um grupo de jovens da periferia e de uma estudante de arte.

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Nascido em Curitiba, Paraná, Claudio Borrelli estudou cinema na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, período em que também trabalhou como estagiário na célebre produtora de Roger Corman. Iniciou a carreira como diretor de filmes publicitários e nos apresenta agora 'Urubus', seu primeiro longa-metragem, que estreia dia 01 de junho nos cinemas via O2 Play.

Estrelado por Bella Camero, Gustavo Garcez e Graça de Andrade, o filme - produzido por Fernando Meirelles - segue a vida de um grupo de pixadores da periferia de São Paulo e o encontro de um deles com uma jovem estudante de arte. Dessa faísca saem grandes planos, como a invasão da Bienal de SP em 2008, repercutida em todo o mundo.

O longa é baseado nas memórias do pixador e artista plástico Cripta Djan, que escreveu o roteiro ao lado de Borrelli e é um dos nomes que ajudou a difundir o pixo como arte.

Confira nossa entrevista:

 

Filmes & Filmes: Olá Claudio. Primeiramente parabéns pelo trabalho e que o filme tenha muito sucesso no circuito. Gostaria de saber qual a sua relação com o pixo antes da produção do longa. Você já conhecia a fundo esse mundo ou precisou ter alguma imersão com o Cripta Djan?

Claudio Borrelli: Muito obrigado! 

Eu conhecia a pichação como o resto da população de São Paulo: nos muros e nos prédios. A imersão com o Djan foi fundamental, não só nas diversas conversas que tivemos, como nos DVD que ele fazia retratando todo o universo da pichação. Isso durante uma década, até o início da filmagem.

 

F&F: O filme tem a produção executiva do Fernando Meirelles. Como funcionou essa hierarquia dentro da produção? Você chegou, junto com o Cripta Djan, com a ideia para ele e a O2 ou o contrário?

CB: Eu tive um encontro com o Fernando e conversamos bastante , pois ele já tinha percorrido todo o caminho que eu estava trilhando naquele momento. Ambos viemos do topo da publicidade, filmamos nossos longas com não atores e financiamos nossos próprios filmes. Não havia um nome melhor para embarcar com a gente nesse projeto.

 

F&F: Você é conhecido por dirigir inúmeras peças publicitárias, mas 'Urubus' é seu primeiro longa-metragem. Como funcionou para ti essa transição entre as duas linguagens?

CB: Não acho que tenha existido uma transição propriamente dita, mas sim uma adaptação. Apesar do enorme preconceito com diretores de publicidade por parte do mercado, o fato de fazer publicidade nunca me fez um “publicitario” , eu continuei sendo um diretor de cinema contando histórias curtas de publicidade. Assim como Michelangelo não tornou-se parte do clero por ter pintado a capela Sistina. As ferramentas são as mesmas, a duração é que muda.

 

F&F: Em uma obra sobre o pixo, é óbvia a importância da cidade como personagem quase que central da trama. Como foi a escolha das locações, principalmente no centro de SP?

CB: A essência do movimento da pichação é a ocupação da cidade, e o centro da  cidade de São Paulo é totalmente ocupado por ela. As locações escolhidas foram os lugares usados normalmente pelos pichadores… os points, o Anhangabaú, o trem, as estações. Era inevitável que a cidade se tornasse o personagem central. Mas confesso que só percebi isso com o filme montado, e por meio do feedback de pessoas que assistiram às primeiras montagens.



F&F: Bella Camero é uma força da natureza e após assistir ao filme, pareceu uma escolha óbvia. Mas Gustavo Garcez e o restante do elenco são todos 'marinheiros de primeira viagem', incluindo os pixadores reais. Como foi o trabalho de preparação deles para atuar?

CB: Sim, a Bella é uma força da natureza. Ela é mais do que isso: é um presente para qualquer diretor. Eu te aponto onde isso pode ser identificado no filme. Na cena em que a curadora da Bienal de Berlim pergunta “você é um deles?”. A resposta da Bella é pequena, sutil e gigante, porque responde a tudo, expondo todas as dúvidas, os medos e os desejos do personagem - tudo em um único close.

O Gustavo, assim como o Bruno, o Júlio, o Matias, o Robert,  o Leo, o Nego San… todos foram gigantes. Talvez eles tenham trazido com eles a essência do ator, fazendo lembrar os tempos de Actors Studio, de onde saíam as pérolas do cinema mundial. Isso seria impossível sem o trabalho da Fátima Toledo, que, em pouco menos de 4 meses, fez com que eles vestissem a roupa dos personagens. Como eu digo sempre que me refiro a ela, a Fátima é “gênia”.

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