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|Crítica| 'Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2' (2024) - Dir. Rhys Frake-Waterfield

|Crítica| 'Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2' (2024) - Dir. Rhys Frake-Waterfield

Crítica por Victor Russo.

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'Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2' / Imagem Filmes

 

Título Original: Winnie-the-Pooh: Blood and Honey 2 (UK)
Ano: 2024
Diretor: Rhys Frake-Waterfield
Elenco : Scott Chambers, Ryan Oliva, Lewis Santer, Marcus Massey, Tallulah Evans e Simon Callow.
Duração: 100 min.
Nota: 1,0/5,0

 

Com mais orçamento, Rhys Frake-Waterfield transforma a piada em mitologia, enquanto se dedica apenas a violentar visualmente os corpos femininos

Prática muito recorrente no cinema trash, sobretudo de horror, tendo A Morte do Demônio como caso mais emblemático e Terrifier com certo impacto recentemente, Ursinho Pooh - Sangue e Mel 2 é mais uma franquia a começar com um filme de baixíssimo orçamento e, após o sucesso do primeiro longa, começar a planejar uma mitologia, que ignora, altera ou transforma aquilo que veio antes. Nesse caso, Rhys Frake-Waterfield tem a consciência de que o longa do ano passado era uma espécie de piada, a ideia de pegar um personagem infantil que caiu em domínio público e transformá-lo em um vilão sanguinário. Não há nada além disso, são só mortes e um filme extremamente genérico e mal encenado, que fetichiza a violência, mas nem sequer sabe como mostrá-la. 

Após o “sucesso” do original, palavra que só é usada por conta do orçamento baixíssimo de 50 mil dólares, que rendeu pouco mais de cinco milhões, pouco, mas um lucro expressivo dado os custos, Frake-Waterfield recebeu uma injeção monetária e um vislumbre de futuro para o que agora começa a se transformar em um universo, deixando abertura para sequência e spin off. Dessa forma, o caminho que o cineasta segue é o de praticamente ignorar o original, transformando-o apenas em uma piada metalinguística dentro dessa sequência (que pouco tem de sequência), e começando uma mitologia quase do zero. A questão é que o diretor parece rir do anterior, como se fosse uma obra de brincadeira e inferior, enquanto leva a sério esse verdadeiro pontapé para a franquia, quando, na verdade, para além de alguns cenários e maquiagem um pouco mais caros, a inabilidade do cineasta em encenar o gênero se torna ainda mais gritante, ao mesmo tempo que, toda a pretensão de se levar a sério e trabalhar o clichê do protagonista traumatizado tendo que lidar com o seu passado, rejeite a própria simplicidade típica do gênero e dos filmes trashes. Dá a impressão de que o cineasta realmente acredita que com esse orçamento maior ele realmente está agora fazendo um filme superior e sério. Difícil definir qual é pior, mas o anterior era pelo menos mais honesto e consciente das suas limitações.

Assim, todo o arco de Christopher Robin que se entrelaça com a verdadeira origem do Ursinho Pooh e seus amigos não só é não intencionalmente canastrão, como, na prática, diminui a presença do slasher em tela, as mortes que teoricamente seriam o único interesse para com um personagem infantil transformado dessa forma. Aqui, até o vilão slasher grandalhão, mudo e indestrutível ganha um background que justificaria suas ações, ou que pelo menos nos fizesse ter pena do que fizeram com ele. Se isso já não é ridículo e contraproducente o suficiente com o interesse do subgênero, tudo se torna ainda pior sempre que a matança domina a tela. Esse escapismo fetichista que anseia pela violência, o slasher como esse filme que se vale do ato de matar e da inventividade e brutalidade que o cerca, se perde em meio a uma encenação quase sempre incapaz de mostrar essas mortes, precisando sempre recorrer a cortes que rompem o espaço e o ato. O choque se perde completamente quando primeiro vemos um personagem prestes a morrer, para que no plano seguinte reste apenas uma cabeça ou um membro prestes a ser explodido. A necessidade do espectador em ver a morte acontecendo praticamente inexiste aqui.

Há ainda uma diferença grande em como Frake-Waterfield decupa essas mortes, a variar do gênero da pessoa morta. Todos os homens morrem de maneira protocolar ou até fora de campo, enquanto o diretor dedica toda a sua atenção para despedaçar os corpos femininos, ainda que sempre precise romper a ação em vários planos para fazê-lo. Há um claro fascínio por ver essas mulheres morrendo, uma espécie de fetichismo misógino, que em nenhum momento sugere aquela visão meio puritana ou provocativa que o slasher sempre teve, sobretudo com a final girl como uma personagem comum a esses filmes. Nesse sentido, o longa lembra até o primeiro Terrifier, em como parece sentir prazer em expor mulheres sendo torturadas, violentadas e depois assassinadas, enquanto os homens nunca recebem o mesmo tratamento. Talvez, mais do que Christopher Robin, quem precisa tratar suas questões reprimidas na terapia é o próprio cineasta.

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