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|Crítica| 'Triângulo da Tristeza' (2022) - Dir. Ruben Östlund

|Crítica| 'Triângulo da Tristeza' (2022) - Dir. Ruben Östlund

Crítica por Victor Russo.

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'Triângulo da Tristeza' / Diamond Films

 

Título Original: Triangle of Sadness (Suécia)
Ano: 2022
Diretor: Ruben Östlund
Elenco : Woody Harrelson, Charlbi Dean, Zlatko Buric, Dolly de Leon, Harris Dickinson e Vicki Berlin.
Duração: 147 min.
Nota: 2,0/5,0
 

Ruben Östlund se coloca em um pedestal ao criticar uma sociedade de aparências, mas sem nunca se preocupar com o ser humano em tela. É puro cinismo mesmo, do Adam Mckay dos festivais.

Dono de obras como “Força Maior” e “The Square” (que também lhe rendeu uma Palma de Ouro), o diretor sueco se colocou em evidência na última década ao trabalhar com uma sátira que busca sempre o desconforto, fazendo do exagero da realidade sua força motriz. 

Porém, apesar dessa auto adoração do seu próprio cinema já ser sentida nos filmes citados, sobretudo em “The Square”, quando ele começa a fazer questionamentos mais incisivos sobre a arte, ainda era possível perceber um interesse do diretor pelo ser humano na obra. Em “Triângulo da Tristeza” isso não existe, é apenas uma crítica distanciada que paga de espertinha e transforma seus personagens em fantoches para o próprio diretor se gabar de sua inteligência.

É bem verdade que muito da força do cinema de Östlund também está na construção de momentos, cenas marcantes, ainda que muitas dessas partam do diretor revelando um culto a sua própria suposta genialidade. Porém, é difícil ignorar essas cenas/sequências e impossível não sentir nada por elas. Foi assim com a do símio em “The Square”, por exemplo, e volta a acontecer com a sequência do jantar do capitão em “Triângulo da Tristeza”. 

Tal sequência dá até tristeza (com o perdão do trocadilho), justamente por vir logo antes das duas piores partes do filme (ele segue a estrutura de três atos, mas se divide em cinco partes), e, principalmente, por ser uma representação daquilo que o filme todo queria ser. Por alguns minutos, durante esse jantar que vira comédia de erros e besteirol, esquecemos aquele Östlund de ego inchado que almeja uma “crítica social foda” para agradar festival. 

Não que não haja críticas ou temas relevantes ali presente, a sociedade das aparências que é o tema central do longa é até a base do humor, a partir do momento que essas máscaras começam a cair por meio da escatologia incontrolável. Porém, o diferencial da sequência está em como Östlund claramente se diverte com ela, coloca o humor inconsequente em primeiro plano, sem medo de soar até meio infantil com piadas de vômito e diarreia. É o diretor em seu modo mais solto e desapegado, o que aparecia até no constrangimento de “Força Maior”, seu melhor filme, e se ausenta no restante de “Triângulo da Tristeza”.

É nessa sequência que o cineasta mais parece se interessar por seus personagens e se divertir com eles, ao invés de rir da superficialidade deles, o que faz durante o restante do longa. Um bom exemplo disso está em como Woody Harrelson e Zlatko Buric abraçam as caricaturas do americano comunista e do russo capitalista até diminuindo a auto importância do tema em prol de um interesse maior nas piadas que surgem dessas duas visões opostas se divertindo em serem contraditórias.

Entretanto, se a maior parte da minha crítica até agora foi para ressaltar o quanto esses poucos minutos são marcantes, isso se dá justamente pela frustração de perceber como Östlund sabe o caminho para um cinema mais honesto e menos pedante, mas prefere não fazê-lo nas demais duas horas. E de certa forma, isso se dá muito mais pela facilidade que é se afastar de seus personagens e tratá-los apenas com estereótipos de uma sociedade imperfeita, do que necessariamente por ser o único que a sátira permitiria.

Nesse sentido, o diretor sueco em muito se parece com uma versão europeia (e mais preocupada com o cinema de festival) de Adam Mckay. É esse afastamento cínico que o coloca em uma posição de Deus, de manipulador genial daquelas peças. Não que haja um problema necessariamente no estereótipo, esse tipo de personagem pode até ser bem aproveitado na sátira, assim como ressaltei Harrelson e Buric acima. 

O problema é que tal qual Mckay em “Vice” e, principalmente, “Não Olhe Para Cima”, essa arrogância no olhar do diretor nos afasta completamente daquele mundo que ele quer criticar. Por mais que seja um espelho exagerado do nosso mundo, aquilo vira pura fetichização de alguém que não se contenta em criticar a sociedade, mas quer reforçar a todo instante o quão inteligente e superior ele é, e o quão fútil e fake são os mundos da moda, influencers e a elite “tradicional”. 

Tudo isso está presente desde a sequência inicial, mas se intensifica na vergonhosa parte da ilha, quando o diretor pouco tenta esconder que para se sentir mais inteligente enxerga o espectador como um bando de idiotas precisando de esclarecimento. A diversão genuína da cena do jantar volta a se transformar em um humor falso que só tem como objetivo uma auto elevação “artística” do autor do longa.

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