|Crítica| 'The Moon: Sobrevivente' (2025) - Dir. Kim Yong-hwa
Crítica por Raissa Ferreira.
![]() |
'The Moon: Sobrevivente' / Sato Company
|
Em tentativa de mensagem heroica, mas sem visão própria, Kim Yong-hwa sustenta seu filme em repetições e caricaturas
O cinema hollywoodiano controla a maior parte do imaginário popular quando o assunto é viagem ao espaço. O universo, tão inexplorado e misterioso ao ser humano, é prontamente associado em representações visuais ao modelo estadunidense, provavelmente atrelado ao logo da Nasa como cereja do bolo. Curiosamente, o domínio do país, e da língua inglesa, é reconhecido logo de cara em The Moon: Sobrevivente, propondo que a narrativa seja uma chance da Coreia do Sul emplacar o segundo lugar ao desbravar a lua, o que parece quase uma alusão ao fato de realizar um filme no espaço, com sua parcela de melodrama, principalmente considerando que a produção audiovisual recente sul-coreana tem sido a que mais se aproxima dos moldes hollywoodianos, sendo bem aceita inclusive em suas maiores premiações. Porém, a obra de Kim Yong-hwa não apenas tenta copiar uma fórmula daquele que considera superior, faltando personalidade, como também o faz demonstrando pouquíssima habilidade. Há essa intenção de ilustrar um domínio técnico para construir imagens que, de fato, não deixa a desejar, mas que soa como uma paródia ruim de algo que já existe e é falado em inglês. Começando por como o longa se baseia em uma repetição de atos, denotando falta de repertório. Após uma introdução aos moldes do falso documentário, o protagonista Hwang Sun-woo (que aparentemente é vivido por um ídolo de KPOP, Do Kyung-soo) assume a liderança em uma trajetória em círculos, sempre passando por um problema que levará a momentos de tensão, constantemente coordenados em grupo com o astronauta desajeitado dentro de uma nave ou solto no espaço, e uma equipe o auxiliando por comunicação em áudio e vídeo em algum escritório na Coreia do Sul. Assim que a solução é encontrada, chega o alívio e, em breve, tudo se inicia do mesmo ponto. Diversas vezes a fórmula se repete e em pouco tempo se torna totalmente cansativa, a ponto da tensão perder seu efeito, já que fica óbvio pela insistência que Hwang Sun-woo chegará ao alívio em todas as etapas.
Para um filme com pouco mais de duas horas, sustentar tudo em uma base tão frágil é uma inabilidade principalmente de roteiro, que busca preencher o que falta em um melodrama familiar. O jovem astronauta que sobrevive erro após erro, desastre atrás de desastre, é filho de um dos homens envolvidos na missão anterior do país, que fracassou. Seu elo dramático vem, além disso, com a presença de Kim Jae-gook (Sul Kyung-gu), que carrega a responsabilidade pela morte do pai do garoto e dos astronautas da missão passada. Essa questão é sublinhada a cada novo ciclo de tensão e solução, na tentativa de criar uma figura heroica a partir do protagonista, trabalhando perdão, luto e superação na relação entre os dois personagens. Hwang Sun-woo não é apenas alguém tentando sobreviver, mas a representação de uma nação que quer triunfar, a figura inesperada, o menos brilhante de sua equipe, mas que pelo esforço e pelo apoio coletivo, conquista seus objetivos. Talvez The Moon: Sobrevivente se enxergue assim, mas é apenas uma projeção de tudo aquilo que já foi trabalhado em outros filmes sobre o espaço (não foi em Ad Astra que vimos uma sequência parecida no lado oculto da lua?). Nessa lógica que roda e para sempre no mesmo lugar, Kim Yong-hwa até faz algo diferente dos filmes mais icônicos que em seu fascínio pela imensidão do universo, contemplam o silêncio. Aqui ele preenche tudo, sem permitir respiros, em um desespero para manter a tensão viva.
Mais complicado ainda é como o longa apresenta e desenvolve seus personagens como caricaturas. O núcleo estadunidense parece uma esquete de humor, com vilões dignos de qualquer besteirol, mas claramente levando-se bastante a sério. Ainda que trabalhe melhor com os atores sul-coreanos, pesa muito a mão nessas figuras heroicas de grande honra, conduzindo a pessoa espectadora como uma criança pela trilha sonora e os closes para dizer que até mesmo nos erros, os personagens são dignos de respeito. Há algum mérito em deixar que os astronautas de diversos países que falam inglês não tenham destaque ou personalidade, se percam numa massa de “trabalhadores da Nasa” mas ao os assumir como os salvadores definitivos, a obra praticamente declara que mesmo que cumpra sua missão, a Coreia do Sul permanece bem longe daqueles que dominam o espaço, a lua e, pode-se bem dizer, o cinema que The Moon: Sobrevivente tentou fazer. Fica essa reverência meio triste, um reconhecimento derrotista, mas o filme precisaria ser muito melhor para dizer que é uma pena, que ele até poderia ter chegado lá.