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|Crítica| 'The Greatest Beer Run Ever' (2022) - Dir. Peter Farrelly

|Crítica| 'The Greatest Beer Run Ever' (2022) - Dir. Peter Farrelly

Crítica por Victor Russo.

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'The Greatest Beer Run Ever' / Apple TV+

 

Título Original: The Greatest Beer Run Ever (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Peter Farrelly
Elenco : Zac Efron, Russell Crowe, Kyle Allen, Bill Murray, Jake Picking e Will Ropp.
Duração: 126 min.
Nota: 2,0/5,0
 

Entre a sátira e o melodrama, a ingenuidade do protagonista de “The Greatest Beer Run Ever” até torna o filme mais palatável do que “Green Book”, mas isso não quer dizer muita coisa

Assim como Adam McKay, Peter Farrelly fez toda uma carreira na comédia besteirol, até que um dia teve uma crise de consciência e resolveu se tornar um cineasta de premiações e festivais. E o mais curioso é perceber que a derrocada das carreiras desses diretores começou justamente no mesmo ano, em 2018, quando McKay lançou o fraco “Vice”, enquanto Farrelly venceu o Oscar com o patético “Green Book”.

Porém, se McKay foi se tornando mais megalomaníaco a cada filme, resultando na bomba “Não Olhe Para Cima”, a empreitada seguinte de Farrelly é pelo menos mais inofensiva e até inocente em certo sentido, apesar de manter uma característica central na filmografia recente desses dois cineastas, uma mea culpa capenga de quem se acha a voz da razão, mas que no fundo é só a visão distanciada de alguém que não sabe realmente do que está falando.

Então, se Farrelly tenta em “Green Book” comentar sobre o racismo, mas no fundo só conta uma história de redenção de um racista, em “The Greatest Beer Run Ever”, a base inusitada da história real permite o retrato de um protagonista ingênuo em situações que beiram o absurdo. Isso não impede Farrelly de mais uma vez tentar traçar comentários críticos aos Estados Unidos, nesse caso, à Guerra do Vietnã e repercussão da mídia sobre, mas que, na verdade, essas críticas são para lá de superficial. Pelo menos isso ocorre sem nunca recorrer ao heroísmo patríotico típico dos filmes de guerra do país, pelo contrário, o protagonista se torna um mero espectador do eventos e nunca perde o seu lado ingênuo e obstinado.

Ainda assim, o longa segue a fórmula de “Green Book”, o feel good movie que trata de um tema importante, mas tira o peso do evento real e seus desdobramentos por meio de uma certa leveza, piadas e aquela dose de melodrama motivacional. Nesse sentido, o longa anterior de Farrelly, apesar de seus inúmeros problemas, era mais coeso, tinha uma unidade problemática, mas ainda assim era uma unidade. “The Greatest Beer Run Ever” parece ter se utilizado apenas dos tiros da guerra, em um tiroteio de ideias mal acabadas.

Ora o filme vende a ideia de que nada importa, o que vale é a ingenuidade, usando o absurdo de distribuir cervejas na Guerra do Vietnã como desculpa, ora apela para o melodrama e uma série de diálogos que só estão ali para o diretor gritar quais temas ele quer abordar e qual é o seu posicionamento. Isso fica claro na cena do protesto, em que o protagonista e sua irmã discutem, em um diálogo que parece ter sido escrito por uma criança de 12 anos. 

Mas, se não bastasse esse tráfego nada fluido entre gêneros, em muitos momentos o longa extrapola a sátira para cair no besteirol. O que de certa forma é o lugar em que o longa mais se encontra, já que a simplicidade dos diálogos, da decupagem, do design de produção e da fotografia meio chapada combinam muito mais com os longas que o diretor fazia no começo de carreira do que com um drama de Guerra. Essa simplicidade fica bastante evidente em um flashback no início do filme, em que o protagonista e o amigo se seguram no táxi e vão de “carona” com o carro. Enquanto assistia, só conseguia lembrar dos flashbacks da série “Seinfeld”. Só que enquanto lá o absurdo do visual era parte da comédia, aqui as escolhas estéticas buscam nos tocar. Óbvio que não conseguem.

E, no fundo, até esse emaranhado de ideias desconexas poderiam funcionar se o filme conseguisse nos conectar aos personagens e colocar algum peso nas ações propostas. Entretanto, Farrelly se sente cômodo nessa posição distanciada de fazer um filme político que não parece um filme político, a ponto de uma execução ser sobreposta por uma música e ignorada segundos depois.

Além disso, nos resta os mesmos eventos sendo repetidos à exaustão, fazendo da sátira apenas um tédio interminável com personagens nada importantes e que pouco servem para modificar o protagonista de alguma forma, com exceção do interpretado por Russell Crowe, o único com alguma substância e capaz de trazer certa verdade ao discurso do longa.

No fim, dá impressão que Farrelly deixou sua zona de conforto do besteirol, mas sem nunca abandonar suas muletas por completo. É quase como se o filme quisesse soar importante por ser baseado em uma história real de um evento relevante e pelos diversos discursos emocionais ou críticas ácidas, mas o diretor nunca sustenta isso por completo, volta sempre para a comédia mais idiota por ser seu lugar seguro, mesmo quando o filme pede o contrário.

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