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|Crítica| 'The Flash' (2023) - Dir. Andy Muschietti

|Crítica| 'The Flash' (2023) - Dir. Andy Muschietti

Crítica por Victor Russo.

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'The Flash' / Warner Bros. Pictures

 

Título Original: The Flash (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Andy Muschietti
Elenco : Ezra Miller, Sasha Calle, Michael Keaton, Ron Livingston, Maribel Verdú, Kiersey Clemons e Ben Affleck.
Duração: 144 min.
Nota: 2,5/5,0

 

“The Flash” até tem cores e alguns personagens-referências com peso, o que é raro no cinema blockbuster atual, mas não deixa de ser um filme de algoritmo e sem diretor

Há anos o cinema de heróis domina as salas de cinema. Hollywood criou a demanda, os nerds se sentiram empoderados e ajudaram desde então a movimentar esse fazer cinematográfico, que se expande para além do cinema, atingindo um grande público que até então pouco tinha interesse nos seres superpoderosos dos quadrinhos. Claro que, como tudo na indústria de cinema mais rica do mundo, esse sucesso não veio por acaso e nem partiu de um desejo do público. A oportunidade de fazer dinheiro com obras de heróis se desenhava desde o começo dos anos 2000, teve um grande impulso com os filmes de Christopher Nolan, até a Marvel reconhecer o potencial de lucrar rios de dinheiro com um universo compartilhado e supostamente infinito. 

Entretanto, o estabelecimento de uma fórmula, que vai desde a estética cinzenta que esconde o CGI para emular o realismo, passando pelas piadinhas que se misturam ao melodrama, até chegar a uma lógica narrativa de que o importante é sempre o filme seguinte, construído inicialmente pelas cenas pós-créditos que unificaram esses universos cinematográficos, foi se desgastando com o tempo. Por mais que as milhares de páginas geeks pelo mundo ainda tentem viver de teorias, previsões e elogios a essas obras, grande parte do público fora dessa bolha não aguenta mais ver o mesmo filme de novo e de novo. Ainda mais quando ficou clara a percepção de que não haverá um fim, a não ser que esses estúdios parem finalmente de lucrar com essas obras. Mais uma vez, Hollywood criou a demanda e como sempre a repetiu à exaustão, até o momento em que boa parte dos espectadores saíram da caverna e começaram a rejeitar cada vez mais esses longas. As bilheterias mostram que os estúdios passam por uma crise. Quando blockbusters desvinculados de grandes universos, como “Avatar: O Caminho da Água” e “Top Gun: Maverick” fazem mais dinheiro que todos os filmes recentes de MCU, DCEU, Velozes e Furiosos, Transformers e todas essas franquias intermináveis é porque Hollywood perdeu o controle. Em breve, eles criarão uma nova demanda para manipular o público e voltar a ganhar dinheiro, mas o momento não é esse. A crise vem crescendo.

Sinto que já fiz essa longa introdução outras vezes, em filmes recentes de super-heróis provavelmente. Talvez continuarei fazendo nos próximos, já que mesmo dando cada vez menos dinheiro, a fórmula segue se repetindo e “The Flash” é o novo exemplo disso. Não que o filme fracasse completamente artisticamente, até longe disso. Mas ele pouco se interessa em propor além do que a gente vem assistindo aos montes nos últimos anos. Fica claro que o caminho para a DC é abrir mão desse universo compartilhado, que só surgiu por uma vontade mercadológica de surfar essa onda geek. Filmes como “The Batman” e “Coringa” provaram que filmes independentes (no sentido de não dependerem de outros) funcionam melhor não só como obras audiovisuais, mas também têm obtido melhores resultados nas bilheterias. Só que a Warner seguirá com as duas possibilidades até que a primeira se esgote completamente, o que está próximo.

Todavia, o meu papel não é ser futurólogo e pouco me importa se “The Flash” vai ou não render dinheiro. O que realmente me interessa é perceber como mais um longa de grande alarde parece ter sido feito por algoritmo. Parece não, provavelmente foi, pelo menos em parte. Não diminuindo o papel dos profissionais envolvidos, claro. Aqui, além de Andy Muschietti na direção, são três roteiristas, centenas de artistas gráficos e por aí vai. Mas o peso do estúdio fala mais alto. Só dá para perceber Muschietti em sua aparição rápida como figurante do filme. Por trás das câmeras, com exceção de um ou outro detalhe, o longa poderia ter sido dirigido por qualquer outra pessoa. O mesmo vale para quase todos os demais profissionais envolvidos.

É bem verdade que vale um destaque para as cores em algumas sequências de ação ou o CGI mais cafona, que combina muito com o personagem, nos momentos de transições temporais. Alguns dos personagens-referências nessa combinação de universos têm peso dramático, vão além das meras piscadinhas para fãs, o que é raro em filmes assim. E é sem dúvida o Flash de Ezra Miller mais interessante e interessado desde a primeira aparição do personagem no DCEU. A combinação de dois Barrys faz bem aos dois e ao filme. Os personagens e seu objetivo dão impulso ao longa. São esses pequenos momentos que a obra ganha um pouco de personalidade e de Muschietti. Pena que não é tanto assim.

Em meio a alguns personagens com maior presença, o longa faz questão de ser um festival de referências e piscadinhas. A narrativa vira uma bobagem qualquer para que esses easter egg possam surgir, enquanto as piadinhas rolam soltas e o melodrama dá uma seriedade que contrasta negativamente com os momentos mais bregas e interessantes do longa. Tudo isso explodiria a cabeça dos fãs há uns anos. Depois de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, “Liga da Justiça”, “Doutor Estranho  e o Multiverso da Loucura” e “Homem-Aranha Sem Volta Para Casa”, nada disso é novidade. Não que “The Flash” seja pior que todos esses, é melhor do que pelo menos dois deles. Só que é um filme datado que se acha inovador. Cada referência pode ser prevista minutos antes de acontecer. Assim, tudo que era para ser empolgante fica apenas morno. Fica claro que o cinema de heróis ainda tem combustível, mas essa fórmula não. “The Flash” é mais um a cair nessa armadilha que só deve funcionar com os fãs mais empolgados.

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