|Crítica| 'Terrifier 2' (2022) - Dir. Damien Leone
Crítica por Victor Russo.
'Terrifier 2' / Imagem Filmes
|
“Terrifier 2” mira em se tornar uma franquia mainstream, enquanto torna o trash e o gore apenas fetiches
Em 2016, “Terrifier” ganhou o público, ou no mínimo um nicho considerável, por ser um filme de horror direto, com uma história bem básica, personagens que só existem para morrerem, um vilão vestido de palhaço assustador cheio de ferramentas assassinas em um saco de lixo e muito gore. Se muito podia ser questionado sobre a obsessão dele em matar mulheres, a analogia para lá de ridícula com o nome Art (“arte mata”) ou essa obsessão pela morte gráfica que tornava a tortura como diversão, era inquestionável o seu lado mais trash, tanto no valor de produção quanto na não preocupação em compor planos muito bonitos ou se aprofundar muito em tudo que surgia na trama. Era um horror frontal em todos os sentidos.
Seis anos depois e com orçamento e visibilidade muito maiores, “Terrifier 2”, também dirigido por Damien Leone, esconde-se sob a sombra do trash e do gore mais uma vez, mas, no fundo, a sua busca é por se tornar a nova franquia de slasher, com um público fiel e a possibilidade de criar uma longa mitologia que se estende por diversos filmes. A semelhança entre Sienna e Laurie Strode não é só coincidência, assim como também não é essa aura misteriosa e imortal de Art, parecido com Michael Myers e outros assassinos mascarados. Apesar de formalmente distinto, o longa de Leone mira sem nenhum pudor na franquia "Halloween''.
Se no primeiro víamos simplesmente o palhaço macabro e suas vítimas aleatórias, e o interesse do filme estava nas mortes, o segundo adiciona mais de uma hora de duração para poder se preocupar em parecer mais robusto em substância. Enquanto o anterior mal tinha uma protagonista, o novo tenta tornar Sienna uma personagem interessante e bem mais complexa. Perseguida aleatoriamente por Art e destinada a vencê-lo, antes vemos a personagem com a sua família, os problemas com a mãe, o irmão que ela desconfia ser um psicopata, o pai que se matou, a fantasia que ela constrói como recordação do pai, e por aí vai. Além disso, tenta estabelecer um vínculo bem mais sólido com as amigas, quase gritando para o público que devemos se importar com todos esses personagens.
Ao mesmo tempo, o longa aproveita esse desenvolvimento mais lento para socar uma porrada de temas, criando até um discurso mais político quando comenta sobre essa idolatração de serial killers por parte da sociedade, uma espécie de elevação do assassino a um patamar de importância que permite às pessoas usarem suas fantasias e armas, enquanto renega as vítimas e o sofrimento ao esquecimento.
Porém, não só toda a construção dessa nova mitologia, dos temas e dos personagens é para lá de genéricos (o que não seria um problema se o filme não investisse tanto nisso), como se torna contraditório com essa busca forçada por ser trash, gore, frontal etc. A começar que o baixo orçamento não é mais uma questão, o filme tem claramente muito mais dinheiro para construir novas locações, investir em atrizes melhores e compor planos mais limpos.
Assim, some aquela naturalidade do trash, a beleza na sujeira e no exagero indiscriminado. “Terrifier 2” é muito limpinho quando distante de suas mortes, parece em tudo um terror genérico com pretensão a personagens e temas, igualando-os à obsessão pela morte. Então, se no primeiro soava natural Art abrir uma mulher ao meio com uma serrinha, agora ele mutilar uma garota e exibir em uma cama nada mais é do que Leone fazendo do trash um fetiche. Essa ideia meio sem sentido de que “trash é legal, dá para colocar um gore aí e ninguém vai julgar por isso”.
Ou seja, “Terrifier 2” não é trash em nada, a não ser quando é conveniente para parecer mais maneirinho e atrair um público que ama ver mortes extremamente gráficas. No restante, a preocupação maior é mesmo em criar uma mitologia com o objetivo de se transformar em franquia. É o trash como mero fetiche situacional, porque nem esteticamente o filme tem muito dessa forma específica de fazer cinema.