|Crítica| 'Sonic 2' (2022) - Dir. Jeff Fowler
Crítica por Victor Russo.
'Sonic 2' / Paramount Pictures |
“Sonic 2” segue à risca a cartilha da sequência que quer virar franquia: a pretensão de ser maior do que o original em tudo.
"Sonic: O Filme” estreou em 2020 com a baixa expectativa do público, resultado de décadas com apenas adaptações ruins de video games. Com uma proposta convencional e recorrendo a basicamente todos os artifícios dos blockbusters atuais (algo que “Detetive Pikachu” também fez corretamente), o longa agradou ao apostar em uma mitologia própria, contando uma nova história, bastante familiar, e fugindo um pouco da pretensão realista que domina Hollywood no momento. Foi encarado pelo público, com justiça, como uma aventura honesta e gostosinha, o que imediatamente garantiu uma sequência.
Então, dois anos depois chega “Sonic 2”, que já tem uma nova sequência confirmada, demonstrando a confiança da Paramount no sucesso comercial da franquia. Só que, se o original vinha com desconfiança e sem muita pretensão, o segundo chega com uma percepção completamente diferente, tanto do público, quanto da própria produção. Jeff Fowler retorna então à direção, mas com uma visão bem mais (prejudicialmente) ambiciosa do que o primeiro longa.
A sequência ainda mantém uma certa convencionalidade, não aquela despretensiosa que fazia bem ao primeiro longa, mas a de crescer a sequência a fim de estabelecer uma franquia. Tudo aqui se torna grandioso, o roteiro se estende por mais de duas horas, sem tanta naturalidade para tal, as piadas bombardeiam o público incessantemente, Jim Carrey retorna ainda mais exagerado (disso eu até gosto) do que no primeiro filme, não nos poupando de nenhuma expressão hiper caricata, o CGI é ainda mais necessário, novos núcleos e personagens são criados e o escopo da ação e do ambiente dramático é extrapolado para muito além da cidadezinha do primeiro longa.
Dessa forma, o filme tenta pegar o público pelo macro, essa ideia de que o grande é melhor. Só que, tanto Fowler quanto o roteiro apresentam uma grande dificuldade de lidar com todos esses elementos. O roteiro perde a naturalidade das ações, inserindo desastrosas sequências com personagens humanos secundários (como tudo que envolve a viagem ao Hawaii) e se transformando em uma sequência de mini-esquetes, com a maioria sendo inserida apenas para algumas piadinhas. O que fica claro na cena de dança em um bar da Sibéria. Além disso, a mitologia envolvendo a esmeralda, que deveria mover a narrativa, fica jogada para escanteio por boa parte da obra.
A direção, por outro lado, quer explorar ao máximo a fofura do personagem central, mas, com isso, não deixa nunca o filme engatar, prendendo-o a uma sucessão de piadas e interrompendo qualquer ação para mais piadas. E isso fica tão claro que o próprio longa se mostra autoconsciente disso, a fim de tentar esconder as escolhas repetidas, colocando o Sonic para falar por diversas vezes que sua grande qualidade é ser provocador (que nada mais é do que uma outra forma de falar “piadista”).
Com isso, a sequência cresce demais, mas sem uma base tão sólida. Claro que ainda acerta pontualmente, tanto em piadas quanto em todas as escolhas mais absurdas e fantasiosas que rejeitam uma possível seriedade ou realismo. Mas, fica claro que o objetivo final é só surfar na onda do original e criar uma franquia de mini capítulos, introduzindo um personagem novo a cada obra e trazendo um conflito qualquer coisa junto.