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|Crítica| 'Sempre em Frente' (2022) - Dir. Mike Mills

|Crítica| 'Sempre em Frente' (2022) - Dir. Mike Mills

Crítica por Victor Russo.

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'Sempre em Frente' / Diamond Films
 
 
Título Original: C'mon C'mon (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Mike Mills
Elenco : Joaquin Phoenix, Woody Norman, Gaby Hoffman e Scoot McNairy.
Duração: 109 min.
Nota: 4,0/5,0

 

Sem impor uma verdade, Mike Mills tenta, em “Sempre Em Frente”, descobrir sobre a vida ao lado de seu protagonista.

 

Mike Mills sempre foi um diretor bastante interessado nas relações e nas temáticas essencialmente humanas. Só que, por ser um cineasta que volta sua carreira ao melodrama, um gênero não muito popular, acaba não recebendo o reconhecimento que merece.

Só que, se em “Toda a Forma de Amor” e “Mulheres do Século XX” as bases do seu cinema já estavam estabelecidas, tanto em temas quanto em abordagem, é em seu novo “Sempre em Frente” que ele encontra a sua melhor obra.

Acompanhamos aqui Johnny, um homem por volta dos cinquenta anos e desesperançoso com sua vida, interpretado pelo sempre magnífico Joaquin Phoenix, que entrevista jovens, a fim de escutar o que esses garotos pensam sobre o futuro. Ao mesmo tempo, sua irmã tenta resolver a relação com o marido e deixa para Johnny os cuidados de Jesse, seu sobrinho de nove anos que ele não via há algum tempo.

Então, ao seguirmos a relação de um personagem com um passado que o atormenta de várias formas, e Mills segura essas revelações do que ele viveu até o final, o roteirista e diretor o confronta com as crianças que passam por sua vida nesse curto período de tempo, sobretudo Jesse. 

Assim, sem impor a sua verdade, Mills coloca frente a frente um personagem que não consegue viver o amanhã porque é consumido pelo ontem, com jovens que pouco têm de passado e só olham para o que o futuro pode proporcionar. É como se Mills também não soubesse sobre a vida, o futuro, como lidar com o luto, separações e erros do passado e buscasse nesses jovens, inocentes e sem medo de fazer perguntas incômodas, uma forma de seguir em frente.

Tal relação entre passado e futuro se dá muito bem nas escolhas que Mills faz para a narrativa, quebrando cenas, criando um ir e vir, com flashbacks fragmentados, momentâneos e com pouca exposição, além de falas muitas vezes que não condizem com o que é visto em cena. Assim, somos levados a um jogo temporal em que o futuro nunca se separa do passado, pelo menos não até ele ter sido superado de alguma forma. Destaque também para o som, já que o diretor, assim como o protagonista, está aberto a escutar os outros mais do que falar sobre si mesmo.

Dessa forma, Mills emprega uma direção bastante passiva, no bom sentido. Ele é muito mais um observador daquela história e se coloca na posição de não ter todas as respostas. A decupagem e os movimentos de câmera vão acompanhar essa lógica, sobretudo quando ele tenta captar momentos expressivos, destaque para a cena no parque no ato final. A câmera se move lentamente, o plano vai se abrindo ou se aproximando sem muito exibicionismo e o preto e branco, por mais que eu não veja uma grande função narrativa para o seu uso, traz uma solenidade para essa vida meio sem cores do protagonista.

E, de certa forma, se sempre tento analisar os filmes como um todo, evitando partilhá-los em pequenas cenas ou em acertos e erros, “Sempre em Frente” me leva a contradizer, em parte, a minha própria lógica de análise. Isso porque o longa se constrói por meio desses momentos, Mills valoriza cada simples diálogo ou olhar entre os personagens. É quase como se ele fosse entendendo junto com o protagonista que o importante da vida é aproveitar cada um desses pequenos momentos que vivenciamos, sejam eles felizes ou tristes, sempre será melhor vivê-los do que ignorá-los. E isso se torna ainda mais agradável quando presenciamos, junto com o diretor, a construção palpável de uma relação entre Phoenix e Woody Norman, o jovem garoto que tem muito mais a ensinar do que a aprender.

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