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|Crítica| 'Rivais' (2024) - Dir. Luca Guadagnino

|Crítica| 'Rivais' (2024) - Dir. Luca Guadagnino

Crítica por Victor Russo.

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'Rivais' / Warner Bros.

 

Título Original: Challengers (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Luca Guadagnino
Elenco : Zendaya, Josh O'Connor, Mike Faist, Darnell Appling e Bryan Doo.
Duração: 132 min.
Nota: 4,0/5,0

 

Em um jogo constante por controle, Luca Guadagnino exibe os seus artifícios para fazer Rivais pulsar em desejo carnal e paixão pelo cinema

Luca Guadagnino ter ganho grande parte de sua visibilidade por Me Chame Pelo Seu Nome é um caso bastante curioso. Longe de ser um “Oscar Bait”, o longa ainda assim é o mais convencional e até mais inocente do cineasta, mas o menos representativo na carreira dele. Ainda que essa paixão ardente ecoe em alguns de seus filmes seguintes, o longa parece mais um experimento para o que vem depois do que realmente algo próximo da maturidade do diretor. Sobretudo em seus três últimos filmes, Suspiria, Até os Ossos e, agora, Rivais, Guadagnino soa cada vez mais apaixonado pelo cinema e por seu próprio cinema. Do refazer um clássico de Argento que aos poucos vai se desgrudando do original para criar à sua própria versão, passando pelo romance de adolescentes à margem que pulsa um fervor sanguinário, até esse trisal que faz do tênis um artifício para um jogo de dominação sexual, o italiano é um dos poucos cineastas contemporâneos preocupados em fazer cinema mesmo, sem uma necessidade de símbolos inseridos só para cinéfilo metido a intelectual tentar desvendar o filme. Ele só quer nos envolver com aquele tesão latente, nos fazer sentir o que está em tela e não esconde isso nem por um segundo. Por mais que talvez Rivais não seja o seu melhor longa (esse posto ainda pertence a Suspiria), a obra revela a entrega do cineasta ao limite do seu cinema fervoroso e exibicionista (pelo menos até o momento). 

Assim, o primeiro truque que se expõe é justamente o de narrar essa história começando pela partida final, para em seguida ir e voltar por diversos momentos no tempo, revelando cada vez mais sobre aqueles três personagens e sua relação. Ao estruturar a narrativa dessa forma, Guadagnino não só mostra que a partida final em si não é um fim, mas uma representação desse jogo constante dos personagens, como, principalmente, exibe logo de cara que é ele quem está no controle, e não os personagens. Ele leva o filme para onde quer, a hora que quer, da forma que quer. Faz a gente acompanhar um ponto a partir da câmera enlouquecida colocada em uma bolinha, cria uma ventania e usa as luzes de freio para uma cena decisiva que arde em desejo sexual, manipula o andamento dos personagens com lesões inesperadas ou a falta de sorte. Em um filme que os três personagens disputam o controle daquela relação, como em um jogo de tênis, com a bolinha pingando de um lado para o outro antes da próxima raquetada, Guadagnino se delicia ao fazer desses três seus fantoches, ao mesmo tempo que convida o público para ser seu aliado nesse voyeurismo safado. 

Porém, por mais que a estrutura em si já represente essa dominação controladora, Rivais vai pulsar justamente pela liberdade que o cineasta dá para o seu trio, algo que aqui se assemelha mais aos seus filmes anteriores, como o próprio Me Chame Pelo Seu Nome. Ainda que os personagens busquem algum controle, inicialmente totalmente tomado por Tashi (Zendaya), que manipula aqueles dois amigos bobinhos como uma típica personagem hitchcockiana que se permite ser olhada e se usa disso a seu favor, e posteriormente em uma disputa dela com Patrick (Josh O’Connor), enquanto Art (Mike Faist), apesar de ter sido o único a suceder como grande estrela no esporte, é um mero fantoche nesse jogo de sensualidade, no final, Guadagnino está mais preocupado em entregar o controle em cada um desses momentos que ele cria, essa mistura constante de fúria, paixão, dúvida e tesão, que tomam conta dos personagens. Claro, o diretor mantém seu poder exibicionista, selecionando os planos, focando em detalhes dos corpos em câmera lenta, fazendo a trilha sonora sumir ou gritar como em uma casa de swing, escolhendo qual rumo a história terá e marcando para qual período do tempo vai levá-la. Mas, nesses momentos, em que Tashi, Patrick e Art tentam assumir o controle, se provocam e assim ficam vulneráveis, é justamente quando Guadagnino pouco pode fazer a não ser deixar levar por essa transpiração sexual tomando conta da tela por meio da interação desse trisal. Não há nada para ser explicado, nada para ser entendido. É o olhar e o corpo que parece pedir por aquilo, os personagens se entregam, os atores doam seus corpos e resta a nós, como espectadores, simplesmente apreciarmos e sentir o que há de mais humano e carnal em um delicioso e constante jogo de sedução. É o diretor que entende o verdadeiro poder do cinema e faz explodi-lo em sensações indescritíveis. É o filme adquirindo uma vida própria.

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