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|Crítica| 'Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes' (2024) - Dir. Zack Snyder

|Crítica| 'Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes' (2024) - Dir. Zack Snyder

Crítica por Victor Russo.

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'Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes' / Netflix

 

Título Original: Rebel Monn - Part Two: The Scargiver
Ano: 2024
Diretor: Zack Snyder
Elenco : Sofia Boutella, Michiel Huisman, Ed Skrein, Djimon Hounsou, Bae Doona e Anthony Hopkins.
Duração: 123 min.
Nota: 2,5/5,0

 

A paixão que Zack Snyder demonstra pela sua criação se transforma também em uma falta de filtro para alguns fetichismos meio infantis

Zack Snyder é um cineasta que pode ser acusado de muita coisa (a maioria com bastante sentido), menos de ser um diretor que não tem carinho pelo que produz. Mais do que isso, ele é definitivamente apaixonado por cada centímetro de suas obras (o que me faz repensar se toda a campanha para o Snyder Cut não era mesmo muito mais uma necessidade emocional de criador do que apenas marketing, como eu defendi por muito tempo). Entretanto, se o dirigir de forma dedicada com os seus sentimentos e uma visão bastante específica dá personalidade à obra, esse mergulho irrestrito de Snyder nas suas próprias vontades impede o cineasta de perceber o olhar meio juvenil, até infantil que emprega em suas invencionices. É como um fã que tem a liberdade de suprir todas as suas vontades sem ninguém para lhe dar um feedback. 

Assim, o cineasta que um dia representou um orgasmo com uma nave soltando fogo, em Watchmen, uma bobeira de adolescente, mas eficiente visualmente, agora parece estagnado nos mesmos planos em câmera lenta milimetricamente pensados para passar uma sensação virtuosa, ou nas referências que não vão além de homenagens quase copiadas do original, sem que haja qualquer pensamento em reformulá-las para a visão daquela obra. Neste caso, se as referências à Os Sete Samurais e Star Wars não têm qualquer peso, o trabalho imagético é bem mais problemático. Em determinado momento, o casal demonstra algum tipo de afeto pela primeira vez no longa, e, logo no momento em que o beijo vai acontecer, Snyder corta para um grande plano geral em contra luz, que mais parece uma daquelas fotos de cartão postal e diminui os personagens na escala do plano até quase sumir. Pode soar como algo isolado, mas não é. Mora aí o verdadeiro olhar do cineasta, uma rejeição ao carnal, ao humano, ao visceral. Tudo se transforma em um afastamento estético, uma busca incessante pela beleza da imagem. É até um direcionamento da carreira de Snyder como artista, um diretor que em seus primeiros anos lidou com gêneros e até com o tesão, em filmes como Watchmen, 300 e Madrugada dos Mortos, mas agora resta apenas aquilo pelo que ficou conhecido e ganhou idolatria, os planos com cara de publicidade.

Porém, em teoria, essa desumanização nem seria um problema, poderia ser apenas uma fixação do cineasta capaz de criar uma mise en scène sólida. É aí que Rebel Moon: A Marcadora de Cicatrizes degringola para um lugar sem vida, pelo menos durante a hora inicial. Se no anterior, a ação era um protocolo sem peso que apenas abria espaço para a sequência, enquanto a apresentação daquele mundo e de alguns personagens era bem mais interessante, aqui acontece o inverso. Toda a espera pela guerra, com os camponeses sendo treinados e os personagens principais contando seus passados, não poderia ser mais desinteressante. Isso porque a preocupação em nenhum momento é realmente com os seres humanos em tela, eles são apenas dispositivos para Snyder criar seus planos exibicionistas. Assim, não existe qualquer vontade de desenvolver esses personagens, fazendo dessas sequências meras convencionalidades. É justamente quando o filme se joga em uma segunda metade totalmente focada na ação que ele ganha uma pulsão, uma vontade de existir pela mão de seu criador. O drama mesmo só vem a funcionar minimamente quando inserido nessa ação, com momentos específicos nesse espaço de batalha em que personagens do grupo estão prestes a perder suas vidas e o diretor se delicia alongando o tempo antes da tragédia.

Ainda assim, mesmo na ação, o diretor se trai com o seu típico escuro meio esfumaçado dos efeitos digitais. Enquanto tenta encenar tudo de forma plástica, pensada e pomposa, a imagem quase sempre se torna difícil de se perceber. Mais uma vez, parece faltar um olhar conjunto de um outro profissional, no caso, de um diretor de fotografia, a fim de iluminar o caminho do cineasta sem essa liberdade irrestrita direcionada ao fetichismo. O filme, então, cresce na hora final, mas nunca consegue realmente empolgar imageticamente como Snyder sente consigo mesmo. 

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