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|Crítica| 'Pânico VI' (2023) - Dir. Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett

|Crítica| 'Pânico VI' (2023) - Dir. Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett

Crítica por Victor Russo.

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'Pânico VI' / Paramount

 

Título Original: Scream VI (EUA)
Ano: 2023
Diretores: Matt Bettinelli-Olpin & Tyler Gillett
Elenco : Melissa Barrera, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding, Courteney Cox, Hauden Panettiere e Samara Weaving.
Duração: 123 min.
Nota: 3,0/5,0
 

No filme mais gráfico da franquia, “Pânico 6” acaba sendo, em grande sentido, aquilo que Wes Craven sempre ironizou

Diferente da lógica tradicional das franquias, em que novos filmes são feitos só porque os anteriores fizeram dinheiro, “Pânico” sob o controle de Craven parecia fluir e se expandir de acordo com aquilo que o cinema e o mundo forneciam como munição (claro, acreditar cegamente nisso é ingenuidade também, os filmes dependiam da bilheteria e nunca tiveram muito problema nesse sentido). Assim, as sequências depois do segundo foram feitas com espaço temporal, como se novos filmes só chegassem se o cineasta visse alguma bola levantada por Hollywood para ele cortar.

Com o falecimento de Craven, os responsáveis pela franquia pareciam dispostos a seguir uma lógica parecida (o que até é possível ainda, caso o próximo filme demore a sair), ao selecionar dois cineastas (Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett) que se destacaram justamente com o terrir autoconsciente (“Casamento Sangrento”), são apaixonados pelas obras do ghostface e devem dirigir todos os longas dessa nova fase. Pode-se questionar no quinto (primeiro da dupla) o elenco novo, o tratamento com os personagens clássicos ou mesmo que a ideia central não é tão inventiva (questões que discordo pelo menos parcialmente). Mas é difícil negar que os cineastas pelo menos tentam honrar o legado de Craven ao submeter o terror a uma autoconsciência e manipular eventos e encenação de acordo com uma tendência atual do cinema.

É verdade que o sexto longa se esforça em alguma medida para fazer isso, mas é o menos astuto desde terceiro e provavelmente o menos capaz de todos ao reconhecer tendências. Simplesmente justificar sua existência como uma sequência da revisita não tem força de discurso, já que essa prática no final vai ser simplesmente a lógica tradicional das franquias, o que “Pânico 3” já ironizou a ponto da própria franquia ter “Facada” (“Stab”, em inglês) dentro dela mesma. O olhar constante para o passado a fim de se desvencilhar das obrigações (personagens e regras) e seguir um novo rumo também já está presente no quinto.

Então, ainda que carregado de valores que um “Pânico” pede (autoconsciência, brincadeiras com regras do slasher por personagens fãs do terror, revelação do assassino no final e sua relação com assassinos anteriores), “Pânico 6” parece ser o primeiro a existir só porque o anterior fez sucesso e não porque há uma grande sacada nova. Em certa medida, ele é justamente aquilo que Craven ironizou aos montes nos primeiros longas, por mais que continue mostrando que um “Pânico” abaixo da média da franquia ainda é melhor do que a grande maioria dos slashers já feitos.

Em certa medida, isso fica ainda mais evidente quando o longa sai apenas do aspecto do cinema e vai para o mundo contemporâneo. Há uma tentativa de trabalhar Sam (Melissa Barrera) por dois caminhos. O primeiro e mais interessante tem a ver com a própria franquia, ela questionando a si mesma por vir de uma família de psicopatas e o medo de se tornar uma também. Já a segunda e mais presente é emblemática para o longa, pois se trata da “crítica social” mais recorrente no cinema dos últimos anos: a toxicidade das redes sociais e a criação de uma pós-verdade, quase sempre por meio de teorias da conspiração. Ou seja, ao contrário dos filmes de Craven, esse parece confortável em surfar ondas do momento ou temas já explorados à exaustão sem dar nenhum toque pessoal.

E não é como se o longa fosse prejudicado por um momento sem temas interessantes para ironizar dentro de um filme de metaterror. Muito pelo contrário, o próprio longa reconhece algumas temáticas que impregnam o cinema e a cinefilia atual e quase não foram trabalhadas. A primeira retorna do longa anterior com Tara (Jenna Ortega), uma fã dessa bobagem elitista de chamar filmes de terror psicológico de pós-terror e tratá-los como uma novidade superior. O segundo é o filme se assumir como maior e mais gráfico, algo que não é novidade, mas é uma tendência pedida pelo público cansado de filmes de horror higienizados para caber na classificação indicativa PG-13 que domina as salas de cinema. O que ironicamente ganhou relevância no Tik Tok, como, por exemplo, com “Terrifier”. E há ainda de passagem apenas um comentário sobre séries “true crime”, mas um tema que não é novo, mas tem sido ressignificado e debatido bastante recentemente com a nova onda de produções que glorificam em algum sentido esses psicopatas.

O problema é que tais temas estão ali, mas nunca ganham destaque. O longa sempre prefere caminhar pelo convencional ao invés de se arriscar com temáticas realmente atuais e pouco exploradas. É quase um anti-Craven nesse sentido, que, na ânsia de ser muito respeitoso com o seu criador, perde a oportunidade de fazer aquilo que fez de “Pânico” a franquia mais interessante do slasher.

Dessa forma, se “Pânico 6” ainda funciona bem é menos como “Pânico” e mais como um filme de terror mesmo (o que a franquia sempre deixou para segundo plano). Claro que isso só é possível porque Bettinelli-Olpin e Gillet são capazes o suficiente de construírem sequências tensas ao controlar a expectativa do público pela extensão temporal. O melhor exemplo disso é como a montagem e o ponto de vista da câmera ajudam a nos direcionar para os mais possíveis suspeitos, incluindo o que não está sendo visto, na sequência do metrô. Se a franquia, seus roteiristas e essa dupla forem capazes de unir esse potencial de encenar o horror com ideias mais inventivas e contemporâneas, “Pânico” pode se manter firmemente nos trilhos e olhar para o sexto longa apenas como um deslize que nem chega a ser problemático, assim como aconteceu no terceiro. Para isso, a ideia de fazer filme todo ano não parece o caminho ideal.

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