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|Crítica| 'O Telefone Preto' (2022) - Dir. Scott Derrickson

|Crítica| 'O Telefone Preto' (2022) - Dir. Scott Derrickson

Crítica por Victor Russo.

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'O Telefone Preto' / Universal Pictures

 

 
Título Original: The Black Phone (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Scott Derrickson
Elenco : Ethan Hawke, Mason Thames, Madeleine McGraw, Jeremy Davies e E. Roger Mitchell.
Duração: 103 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Scott Derrickson retorna ao terror para fazer um típico filme da Blumhouse

Enquanto era “convidado a se retirar” do MCU por “divergências criativas”, logo após ser contestado publicamente sobre “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” por Kevin Feige, Derrickson voltou sua atenção para “O Telefone Preto”, um terror com toda a cara da Blumhouse. A produtora cresceu no mercado de terror justamente por produzir filmes baratos, com uma pegada mais popular e capazes de lucrar muito nas bilheterias. É difícil traçar, então, uma linha de qualidade da distribuidora, já que ela vai desde ótimos filmes, como “Corra!”, “Nós” e “O Homem Invisível”, até obras no mínimo questionáveis, como “Verdade ou Desafio” e “Ilha da Fantasia”. A cara da Blumhouse, que dá boa liberdade para alguns cineastas, é fazer dinheiro.

Nesse sentido, “O Telefone Preto” parece estar na média do estúdio, uma obra que tem o seu charme e a visão de seu diretor, mas que recicla muito do terror que mais vende atualmente, desde uma longa preocupação pseudo profunda de construir relações familiares, até elementos estéticos, como a câmera que fecha o plano na figura ameaçada pouco antes de fazer um movimento que mostra algo assustador atrás dela, o filtro meio sépia para reforçar que a história se passa no passado ou até a voz modificada para retratar espíritos se comunicando com os vivos.

Só que, talvez com exceção dessa relação familiar entre pai, filho e filha, que só entra na trama quando convém e com muito pouco peso dramático, muitas vezes só para mostrar que existe algo fora do cativeiro, Derrickson se mostra habilidoso, mais uma vez, para trabalhar com espaços reduzidos e uma trama mais fechada. Talvez o grande mérito desse novo longa seja justamente em como constrói pequenos elementos e tentativas frustradas de fugas para visualmente usar o campo ou fora de campo nos momentos principais, como um buraco no chão que mesmo quando parece esquecido, nós sabemos que ele está lá, criando uma angústia constante com o que não estamos vendo.

É bem verdade que, em “O Telefone Preto”, Derrickson, apesar de alguns jump scares, não busca um medo tão forte no desconhecido ou ser investigado, como faz em “A Entidade”, perdendo um pouco o poder sensorial do horror ao colocar todas as cartas na mesa desde muito cedo. Porém, em parte, esse problema vem do péssimo marketing do filme, que acaba por ter implicações (negativas) no lado artístico da obra.

Além do trailer entregar os principais momentos do longa, a maior perda causada pela divulgação do longa está na necessidade de vender o filme pela imagem de seu ator mais famoso: Ethan Hawke. Mais precisamente porque boa parte do terror do longa está na mística desse sequestrador de crianças, que anda torto e fala com uma entonação medonha justamente ao tentar vender uma falsa empatia e segurança para sua vítima. Ao mesmo tempo, nunca vemos o seu rosto, partindo daí a mística e o desconhecido dele, o terror por não saber o que está por baixo das suas máscaras macabras. 

Mas é justamente aí que mora o maior problema. O filme já foi vendido deixando claro que ali está Hawke, um ator super conhecido. Claro que a construção do personagem nos afasta do ator como pessoa e de seus outros trabalhos, mas, nesse caso, era importante não sabermos qual rosto está ali embaixo. E, a partir do momento que você sabe que Hawke vive esse psicopata, fica quase impossível comprar essa mística do perturbado de motivações desconhecidas, já que ele não é mais desconhecido. É um daqueles casos que uma aparição surpresa ou o uso de um ator menos famoso seriam escolhas muito mais interessantes.

Assim, apesar dos clichês transbordarem na tela, a direção firme de Derrickson dá uma substância emocional e visual e faz de “O Telefone Preto” um filme que funciona bem. É uma pena que mais uma vez o marketing faça questão de interferir de forma negativa na experiência da obra.

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