Português (Brasil)

|Crítica| 'O Cara da Piscina' (2024) - Dir. Chris Pine

|Crítica| 'O Cara da Piscina' (2024) - Dir. Chris Pine

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'O Cara da Piscina' / Diamond Films

 

Título Original: Poolman (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Chris Pine
Elenco : Chris Pine, Danny DeVito, Annette Bening, Jennifer Jason Leigh, DeWanda Wise e Stephen Tobolowsky.
Duração: 100 min.
Nota: 0,5/5,0

 

Entre a sátira e a homenagem, a estreia de Chris Pine na direção é um grande desinteresse pelo próprio filme e seus personagens

É bastante curioso como o film noir ganhou um imaginário cool que outros gêneros dominantes da Hollywood clássica não adquiriram. Ao mesmo tempo que o musical e o faroeste soam como projetos de risco que nenhum estúdio quer tocar atualmente, enquanto essas grandes corporações mesmo ajudaram a fomentar uma rejeição no público por esses filmes que parecem distante do fazer atual, mais apegado a uma realidade, o noir, sobretudo a vertente policial e investigativa do amplo guarda-chuva que é esse gênero (que nem é realmente sedimentado como gênero), não só continua tendo uma influência considerável até sobre grandes blockbusters (como The Batman, apenas para citar um exemplo), como tem sido usado há décadas como homenagem a uma Hollywood em seus tempos áureos. O inusitado disso é justamente perceber que essas nunca foram as obras dominantes da Hollywood clássica, pelo contrário, eram filmes-B, de menor investimento e até capazes de burlar até certo ponto a censura da época (o chamado código Hays), enquanto faroestes, musicais, melodramas, comédia maluca, entre outros, dominavam as atenções dos estúdios e do público na época. Mas, criou-se esse imaginário do noir como o gênero a representar aquela época, o que faz algum sentido não tanto pela popularidade no período, mas por serem filmes que sempre falaram muito sobre Los Angeles, sob um aspecto decadente, tornado-se assim um prato cheio para a exploração do glamour do período, tal como a decadência e podridão da indústria.

Dessa forma, sobretudo desde a década de 1990, o neo noir foi começando a não mais se misturar tanto com outros gêneros (como Blade Runner e Uma Cilada Para Roger Rabbit) ou repensar aquilo que já existia, como os filmes da Nova Hollywood, e passou a ser visto nesse lugar de resgate, como um prato cheio para observações da indústria por uma ótica quase sempre satírica, como vimos Robert Altman (O Jogador), Irmãos Coen (O Homem Que Não Estava Lá, O Grande Lebowski, Fargo, Queime Depois de Ler), Paul Thomas Anderson (Vício Inerente), David Lynch (Cidade dos Sonhos, A Estrada Perdida) entre outros autores, dedicando alguns de seus melhores filmes. É justamente essa percepção que move Chris Pine em sua estreia na direção (e também protagonizando o próprio filme). Não bastasse a homenagem literal a Chinatown, como uma forma de afirmar o óbvio, que esse filme é neo noir, o longa vai citar uma série de filmes e atores, simular tons mais lavados pela película e trazer um personagem que não quer sair do passado, rejeitando a contemporaneidade e apresentando com nostalgia uma série de objetos do século passado. Ao mesmo tempo em que a sátira se dá não de forma sutil, mas pela forma excêntrica de agir do protagonista, mirando claramente em O Grande Lebowski e Vício Inerente, e pela falta de naturalidade de seus coadjuvantes, enquanto o cara da piscina é jogado em uma trama secreta de corrupção e assassinato, como é comum nessas sátiras noir.

Todo o cenário construído parece perfeito para um cineasta iniciante demonstrar todo o seu amor pelo cinema e conhecimento que tem do gênero. Mas, infelizmente, a inabilidade de Pine coloca tudo a perder, não conseguindo em nenhum momento ir além da excentricidade de seus personagens e das homenagens vazias, a ponto do filme praticamente se assumir como uma cópia desengonçada de Chinatown. Assim, se como uma investigação típica do Noir o longa não podia ser mais desinteressante, ridicularizando o gênero na tentativa de exaltá-lo, o grande problema mesmo está em como encena essa distância emocional dos personagens, lembrando em algum sentido os personagens de Wes Anderson, mas sem um domínio dessa caricatura. Pine fica tão preso na premissa de tudo que o restante parece não ter vontade nenhuma de existir, transformando a sátira em um vazio temático incapaz de arrancar qualquer riso do espectador, a partir do momento que os personagens que o filme tenta nos aproximar são a verdadeira piada. Não só as situações não tem graça, como somos convidados a rir não com elas, mas das pessoas ali envolvidas, daquelas caricaturas baratas, tornando-se ainda mais problemático quando o filme faz questão de pontuar constantemente as diversas questões psicológicas do protagonista, como depressão e ansiedade, ao mesmo tempo que Pine tenta a força nos fazer rir do personagem. É uma mistura de mau gosto e desinteresse do filme por ele mesmo, um longa que nasce morto em sua premissa e faz os 100 minutos que vêm depois carregar um tédio inexplicável, como se a obra fosse obrigada a continuar rodando contra a sua vontade. 

Compartilhe este conteúdo: