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|Crítica| 'Noites Alienígenas' (2023) - Dir. Sérgio de Carvalho

|Crítica| 'Noites Alienígenas' (2023) - Dir. Sérgio de Carvalho

Crítica por Victor Russo.

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'Noites Alienígenas' / Vitrine Filmes

 

Título Original: Noites Alienígenas (Brasil)
Ano: 2023
Diretor:  Sérgio de Carvalho
Elenco :Gabriel Knoxx, Adanilo, Gleici Damasceno, Chico Diaz e Joana Gatis.
Duração: 91 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Noites Alienígenas vê na fuga a única esperança, mas faz da fantasia apenas uma conveniência vazia

Vencedor do prêmio máximo no Festival de Gramado e segundo longa de Sérgio de Oliveira, "Noites Alienígenas", após uma cena ritualística, começa sua história com Alê, personagem interpretado pelo ótimo Chico Diaz, cantando sobre o mundo estar destruído, antes de dizer a Rivelino (Gabriel Knoxx) sobre haver mundos além do nosso e alienígenas no comando.

O que inicialmente parece apenas um personagem viajando depois de fumar um baseado e reproduzindo teorias da conspiração, como a de que aliens construíram as pirâmides do Egito ou Machu Picchu, transforma-se em uma representação do tema central do filme: a fuga como única esperança.

Se Alê tem sonhos impossíveis e diferentes dos demais personagens, é também porque ele chegou ali antes, viu o tráfico se desenvolver na região e aqueles que ele viu crescer agora dominam as gangues que se matam por controle. Sangue dos jovens esse que o longa prefere não mostrar sendo derramado, já que o objetivo claro é relatar aquela realidade, e, não, transformá-la em entretenimento.

Isso não quer dizer que Alê é o único afetado pela situação. Pelo contrário, ele é quase como uma figura que consegue enxergar aquilo tudo com um certo distanciamento, apenas temendo por conhecidos que gosta e, por isso, fazendo "caridade", como diz Rivelino.

Essa é a razão dele ser o único que pode sonhar com o fantástico, luxo que Rivelino, sua mãe (Joana Gatis), Paulo (Adanilo Reis) e Sandra (Gleisi Damasceno) não se podem dar.

Com isso, a fuga de cada um desses personagens é muito mais mundana e palpável, ainda que muitas vezes inalcançável. Rivelino tenta se mudar dali, mas acaba sendo pego pelo tráfico. Sandra sonha em fazer medicina na Bolívia ou ir para São Paulo, mas não consegue se distanciar. Paulo até tenta ser um bom pai, mas encontra sua fuga nas drogas, como a única coisa capaz de tirá-lo, ainda que apenas psicologicamente, daquela realidade. Enquanto isso, Beatriz, mãe do Rivelino, só consegue fugir saindo para festas, que logo acabam e a jogam de volta para essa realidade.

Entretanto, apesar do pessimismo do final ser condizente com aquela obra, "Noites Alienígenas" tem dificuldade de fazer justamente aquilo que propõe como tema central: fugir da realidade.

Isso porque, em meio a essa trama mais humana e dedicada a explorar um problema social local que reflete grande parte do Brasil e da América Latina, o longa faz uso de simbolismo que o joga para dentro da fantasia, gênero esse que tem crescido no cinema brasileiro dos últimos anos, com Juliana Rojas como seu grande nome.

O problema é que a fantasia que remete ao local, que até justificaria o nome do filme, soa completamente deslocada, sem nunca ser realmente integrada na narrativa do longa. Assim, ao invés do fantástico abraçar aquele mundo e seus personagens, ele fica renegado a uma muleta narrativa meio fetichizada. Parece que entra mais como uma forma do filme se elevar por conter simbolismos do que como algo realmente pertencente daquele universo.

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