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|Crítica Mostra 2023| 'She Came to Me' (2023) - Dir. Rebecca Miller

|Crítica Mostra 2023| 'She Came to Me' (2023) - Dir. Rebecca Miller

Crítica por Victor Russo.

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'She Came to Me' / Rebecca Miller

 

Título Original: She Came to Me (EUA)
Ano: 2023
Diretora: Rebecca Miller
Elenco : Peter Dinklage, Marisa Tomei, Anne Hathaway, Brian d'Arcy James e Joanna Kulig;
Duração: 102 min.
Nota: 1,5/5,0

 

Sátira de costumes de Rebecca Miller fala muito sem nada a dizer

As comparações entre Miller e o cinema de Noah Baumbach são antigas e não desprovidas de sentido. Ao mesmo tempo, "She Came To Me" tem uma preocupação para além daquela psicanálise de botequim da classe média (ainda que esses traços apareçam aqui). Os muitos personagens e arcos miram na insegurança do (suposto) protagonista (Peter Dinklage) rico e poderoso em crise de criatividade, na sede sexual da trabalhadora comum e empoderada (Marisa Tomei), nas manias de limpeza de uma mulher milionária (Anne Hathaway), além de uma imigrante ilegal (Joanna Kulig), um escrivão racista (Brian D'arcy James) e as barreiras para um casal jovem que realmente move a trama (Evan Ellison e Harlow Jane). Só que, ainda que aquele olhar sócio-analítico esteja presente, a cineasta busca a comicidade pelo exagero da sátira de costumes, do estereótipo (escrivão) ao ápice da caricatura (milionária).

Enquanto tenta amarrar à força todos os núcleos a uma mesma trama, ainda que, em teoria, sejam apenas duas famílias automaticamente ligadas, Miller é incapaz de encontrar um tom e uma visão que permeie toda a narrativa. Quando Hathaway está presente vira uma sátira escrachada focada em ridicularizar a elite, se o casal aparece, um romance adolescente, enquanto Kulig e James se aproximam de um filme sério com críticas à contemporaneidade e Dinklage e Tomei um filme água com açúcar com cara de comédia francesa. No meio de toda essa bagunça de estilos, a diretora ainda busca metáforas visuais que nada tem da profundidade que ela espera. Se Dinklage se escondendo atrás das plantas é ruim, mas inofensivo, a associação do casal jovem (ela branca e ele preto) a um leite com achocolatado é só puro mau gosto mesmo. As escolhas de como ela filma o protagonista ainda passam pelos tristes e pouco criativos plongée (quando mostra quem ele está vendo) e contra-plongée (para mostrá-lo sendo visto), para ressaltar como o personagem é pequeno em estatura e está se sentindo diminuído pela sua falta de inspiração daquele momento específico.

Se tudo parece meio disperso e sem graça, a percepção de Miller para a abordagem de problemas reais é ainda pior. Um padrasto denunciar o namorada da enteada por estupro apenas pelo fato dele ter 18 e ela 16 poderia ser algo cômico de tão absurdo e só poderia partir de uma mente completamente perturbada e desprovida de realidade. É aqui onde o filme derrapa ladeira abaixo, já que a comédia simplesmente some nesse momento. É aquele momento "crítica social foda" que se espalha no como um vírus pelo cinema contemporâneo. Não só não há qualquer profundidade na crítica ao racismo aqui, como Miller cai naquele lugar comum da sátira atual metida a espertinha de só ridicularizar os milionários, mas os tornarem seres inofensivos, enquanto os verdadeiros vilões são os personagens da classe trabalhadora. Assim, o escrivão é o racista maquiavélico, enquanto a milionária enlouquece e vira freira.


 

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