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|Crítica Mostra 2023| 'Dinheiro Fácil' (2023) - Dir. Craig Gillespie

|Crítica Mostra 2023| 'Dinheiro Fácil' (2023) - Dir. Craig Gillespie

Crítica por Victor Russo.

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'Dinheiro Fácil' / Sony Pictures

 

Título Original: Dumb Money (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Craig Gillespie
Elenco : Paul Dano, Pete Davidson, Shailene Woodley, America Ferrera, Seth Rogen, Sebastian Stan e Myha'la Herrold.
Duração: 104 min.
Nota: 2,5/5,0
 

Em seu filme mais contido, Craig Gillespie rejeita a megalomania autoindulgente da sátira contemporânea, mas faz da sua revolução antissistema um mar de ingenuidade (ou conivência)

Adam Mckay. Jay Roach. Mark Mylod. Matt Johnson. Desde “A Grande Aposta”, Hollywood tem visto com bons olhos essa nova onda de sátiras sociais e políticas, que carregam um discurso quase sempre de superioridade do cineasta frente não só aos personagens imbecilizados, mas, principalmente, aos espectadores, geralmente tratados como seres incapazes de entenderem as piadas metidas a inteligente por conta própria. Não é coincidência também que todos esses cineastas vieram de uma comédia mais clássica ou inocente, como a comédia romântica e o besteirol, antes de se colocarem nesse pedestal. Craig Gillespie, por mais que também tenha vindo da comédia, seu foco sempre foi um pouco mais subversivo e talvez isso explique o porquê de, mesmo dentro dessa tendência atual, “Dinheiro Fácil” em nenhum momento se põe em uma posição acima do espectador como os demais diretores citados.

Mais do que isso, ao olharmos para a carreira do cineasta (“A Garota Ideal”, “Eu, Tonya” e “Cruella”), Gillespie parecia a pessoa certa para dar sequência a essa sátira mckayniana de piadinhas constantes e estímulos frequentes, com zoom atrás de zoom, cortes para telas que nada tem a ver com a narrativa principal e um monte de autoexplicação. Entretanto, o que temos aqui é um Gillespie mais contido, até um pouco fora da sua zona de conforto. Não que o filme seja mais lento ou coisa do tipo, ele tem esse ritmo da Hollywood atual, muito influenciado pelo mundo das muitas telas e Tik Tok, mas a decupagem, com exceção de alguns vídeos de redes sociais ou discussões em jornais, é bem mais clássica do que metida a espertinha. O filme soa até bastante genérico em seu tratamento com a história real, recorrendo, inclusive, aos textos finais de sempre.

O problema é que “Dinheiro Fácil”, assim como a sua encenação, não tem nada de revolucionário como o seu discurso prega. É, na verdade, o típico filme hollywoodiano que grita por mudança contra os poderosos, mas que só deve funcionar mesmo para os estadunidenses que pouco são capazes de ver além dessa ótica capitalista. Ou seja, ao mesmo tempo que o filme se diz contra o sistema, ele é o sistema, e a mudança proposta por esse grupo de trabalhadores é facilmente suprimida pelo próprio mercado. O pior é que a obra é tão ingênua em sua suposta revolução que nem percebe a contradição ao final. É como se tudo não passasse de um susto para aqueles liberais que controlam todas as ações do jogo, até que eles mesmos permitissem a esses operários a falsa ilusão de mudança.

Em grande parte, isso diz muito sobre a escolha de como representar essa união. O cinema hollywoodiano, seguindo os preceitos liberais e da suposta meritocracia, sempre individualizou o protagonismo para defender, implicitamente, esse discurso do cidadão americano conquistando tudo pelo seu próprio esforço. Gillespie até tenta mudar isso, dá uma noção inicial de grupo, com essa montagem que se esforça para fazer o espectador sentir empatia por aquelas várias pessoas precisando de dinheiro e com alguma atenção para os seus backgrounds. Mas, no fim, pouco há para realmente se importar com esses personagens secundários, apesar de seus rostos conhecidos. Esse próprio aprofundamento em suas vidas é tão protocolar quanto o de um dos vilões, interpretado por Seth Rogen. No fim, essa revolução é muito mais resultado de um homem só, do herói, bem sustentado em sua excentricidade por Paul Dano, é verdade. É ele quem controla o jogo, quem enfrenta o sistema, quem tira algum ganho e, principalmente, quem o longa realmente se importa em se aprofundar um pouquinho mais em sua vida pessoal, ainda que esse drama forçado quase nunca funcione dentro da proposta satírica da obra. Ou seja, ao final, pouco há de união antissistema e muito tem do clássico self made man de sempre. Pode-se até argumentar que há uma conivência de Gillespie para com a ordem em que está inserido, mas não sei se iria tão longe. Acho que é pura ingenuidade mesmo.


 

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