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|Crítica| 'Morbius' (2022) - Dir. Daniel Espinosa

|Crítica| 'Morbius' (2022) - Dir. Daniel Espinosa

Crítica por Victor Russo.

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'Morbius' / Sony Pictures

 
 
Título Original: Morbius (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Daniel Espinosa
Elenco (Vozes) : Jared Leto, Matt Smith, Adria Arjona, Jared Harris e Tyrese Gibson.
Duração: 104 min.
Nota: 1,5/5,0

 

Sem saber se vai contar uma mitologia própria ou se adequar ao MCU, “Morbius” é um filme com crise de identidade.

"Morbius” é mais um filme do universo de vilões do Homem-Aranha da Sony. Filmes que até fazem parte indiretamente do MCU, agora que as portas do multiverso foram abertas, mas que a Marvel nunca deverá utilizar em seu universo calculadinho e 100% controlado por Kevin Feige. É mais fácil algum dos homem-aranhas surgir nesses filmes de vilões. Isso ficou bem claro quando a cena pós-créditos de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” usa o Venom de Tom Hardy só como desculpa para criar um novo Venom no MCU.

Assim, sem o Homem-Aranha, o herói que combateria esses vilões, a Sony parece saber da insignificância desse universo, mas segue fazendo filmes nele pela lógica “vai que dá dinheiro” ou “eles são meus, eu faço o que quiser com eles”. E, no fundo, apesar de ser uma escolha artisticamente terrível, comercialmente já se provou eficaz, como vimos nos dois longas do “Venom”. É quase como se o estúdio tivesse testando os fãs de super-heróis e rebaixando suas obras em qualidade só para ver até qual momento os nerds vão seguir consumindo. Talvez o limite seja “Morbius”.

Se o longa inicia com uma espécie de prólogo, primeiro do personagem capturando morcegos na Costa Rica e depois criança na Grécia, a fim de mostrar a busca pela cura e a sua doença (porque a montagem decidiu inverter a ordem temporal, eu não faço a menor ideia, talvez para parecer mais complexo. É a única explicação possível), constantemente o roteiro vai introduzir elementos dos outros filmes desse universo e também do MCU, como menções aleatórias e sem sentido ao Venom e ao Clarim Diário. E ainda mais evidente na cena pós-créditos.

Mas essa indecisão entre trilhar um caminho próprio ou pertencer a um universo mais comercial vai afetar principalmente a identidade cinematográfica do filme. Ou melhor, a falta de identidade. Se “Morbius” anseia por ser um filme de terror de vampiro, e até investe algumas passagens nesse sentido, seja na fotografia mais escura ou mesmo em cenas mais diretas, como a do hospital (que abraça todos os elementos do cinema de horror, ainda que de uma forma bem clichêzona), por outro lado, parece que há o tempo todo uma força maior o puxando para os filmes de super-herói, mais evidente na obsessão por sequências de ação, uma classificação indicativa baixa que não permite cenas violentas e um uso pesado do CGI.

Assim, somos transportados cena a cena a um filme novo, e não de uma forma agradável. Ora o CGI é escancarado (e mal acabado) para mostrar os poderes dos vampiros, ora ele tenta nos aterrorizar mostrando figuras horripilantes (e ainda mal acabadas). CGI esse que o diretor Daniel Espinosa demonstra uma dificuldade imensa de lidar. Se em seu filme “Vida”, ele se mostrava competente ao passear pela nave, muitas vezes em longos planos-sequência, a fim de nos situar no espaço que o horror começaria, aqui ele só consegue fazer algo parecido quando recorre à câmera lenta, no mais, o excesso de CGI pesado e cortes embaralha tudo na tela, com cenas em que não entendemos absolutamente nada por longos segundos. Talvez o objetivo do diretor fosse forçar nossa visão ou fazer com que imaginássemos o que estava acontecendo em tela, e eu que não entendi a proposta. 

De resto, somos jogados em uma série de cenas perdidas no tempo com os piores clichês possíveis. Desde o bullying em um flashback, até a disputa dos machões por uma mulher (tratada como um pedaço de carne) em um bar. A mesma fragilidade aparece durante todas as construções do longa. Os garotos se conhecem por um dia e já somos obrigados a acreditar que eles continuaram melhores amigos trinta anos depois sem nunca mais terem se encontrado. O protagonista conserta um aparelho com uma mola e automaticamente é tratado como portador de um dom e futuro maior cientista que o mundo já viu. Apesar do filme mostrar para a gente, ele ainda faz questão de colocar Michael narrando para um gravador os seus poderes. E assim por diante.

O mesmo vai acontecer com esse clichê medroso do protagonista vilão que vira mocinho, o que aconteceu também em “Venom”. E, assim como nos dois filmes do Venom, o vilão do vilão-que-virou-herói-mesmo-depois-de-matar-um-monte-de-gente, é quase uma cópia do protagonista, tipo uma versão invertida dele.

Ah, e como esquecer que o filme é protagonizado pelo Jared Leto? Mas, dentre todas as fragilidades e crises de identidade do longa, a atuação sem expressão do ator que virou uma caricatura de si mesmo acaba sendo o menor dos problemas.

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