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|Crítica| 'Moneyboys' (2024) - Dir. C.B. Yi

|Crítica| 'Moneyboys' (2024) - Dir. C.B. Yi

Crítica por Victor Russo.

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'Moneyboys' / Pandora Filmes

 

Título Original: Moneyboys (Taiwan)
Ano: 2024
Diretor C.B. Yi
Elenco : Kai Ko, Zeng Meihuizi, Bai Yufan, JC Lin e Sun Qiheng.
Duração: 116 min.
Nota: 2,0/5,0
 

C. B. Yi mira em Hou Hsiao-Hsien, mas faz de seu plano apenas um enfeite bonito para uma narrativa insossa

Não é preciso nem ir atrás de entrevistas do diretor, a cena na ponte iluminada e coberta e a forma como Yi a enquadra denunciam a inspiração do cineasta em Hsiao-Hsien, um dos grandes cineastas da Nouvelle Vague Taiwanesa e que tem um plano praticamente igual em seu excelente “Millennium Mambo”. Claro que “Moneyboys” tem a cara do filme pessoal, daqueles que o cineasta olha para a sua juventude a fim de denunciar e, principalmente, relembrar sua jornada e seus amores. É um daqueles longas que não tem uma preocupação tão grande no acontecimento como condutor da narrativa, mas que pretende se deitar sobre cada um desses eventos por longos minutos, muitas vezes em planos únicos, a fim de reviver aquilo por uma lente cinematográfica. Em teoria, assemelha-se ao posteriormente denominado pelos críticos franceses como Cinema de Fluxo e que tem em Hsiao-Hsien um dos grandes nomes.

Sò que, por mais que até as elipses temporais lembrem “Millennium Mambo”, assim como esse foco na vida de um protagonista jovem (no filme taiwanês uma mulher) passando por amores e situações que nem sempre estão conectadas e não necessitam de uma relação clara de causa e consequência, Yi parece não entender o que realmente define o cinema de quem ele se inspira. “Millennium Mambo” e o cinema de Hsiao-Hsien como um todo tem no plano sua força dramática. Como se este tivesse uma vida própria, fosse ele o real condutor das cenas e não os personagens ou os eventos. É o plano longo que toma a liberdade de abandonar personagens, passear de forma livre e construir um espaço ao seu bel-prazer.

Com exceção do plano-sequência que encara a fuga do seu protagonista, prestes a ser preso, em que a decupagem toma a liberdade de construir um espaço para além do personagem e é ela quem dita o rumo da ação mostrada, Yi parece não entender exatamente o que faz “Millennium Mambo” ser uma obra tão especial. “Moneyboys” tenta seguir o mesmo caminho, mas o plano aqui é muito mais um enfeite bonito do que um totalizador da narrativa. Isso fica perceptível em como não há liberdade aqui para esse plano se desenvolver, ele não só está amarrado aos personagens, como, principalmente, soa completamente calculado. São imagens que denunciam sua feitura e a intenção de soar belo acima de tudo. O contra-luz e as iluminações mais chamativas funcionam quase como uma busca do filme de se destacar por esses quadros isolados, daqueles que páginas de Instagram dedicadas à “fotografias bonitas” vão pegar quatro ou seis deles e postar como uma forma de reforçar o visual do longa. Mas, na prática, é um embelezamento que pouco surte efeito na prática. Mais do que isso, ao ter no protagonista o seu grande foco, Yi não só se distancia de sua inspiração, mas afasta também a mise-en-scène dessa figura em primeiro plano. É como se o que cerca Fei pouco tivesse importância narrativa, com exceção do já citado plano-sequência e da dança ao final.

Assim, fica a impressão de que tudo que permeia esteticamente esse retorno à juventude do cineasta ao resgatar a sua história, pouco tem do sentimento dele para com o passado, sua vida, suas origens e os espaços que habitou, mas tudo isso surge mais a fim de se enquadrar em uma narrativa típica e muito aceita por festivais. Se os longos planos de Hsiao-Hsien reforçavam o tempo e o espaço em seus filmes, o planos e cenas de muita duração em “Moneyboys” são apenas uma consequência formulaica de um filme que pouco consegue tocar por sua fotografia bonita e bem desenhada. 

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