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|Crítica| 'Men - Faces do Medo' (2022) - Dir. Alex Garland

|Crítica| 'Men - Faces do Medo' (2022) - Dir. Alex Garland

Crítica por Victor Russo.

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'Men - Faces do Medo' / Paris Filmes

 

 
Título Original: Men (EUA)
Ano: 2022
Diretor: Alex Garland
Elenco : Jessie Buckley, Rory Kinnear e Paapa Essiedu.
Duração: 100 min.
Nota: 2,5/5,0
 

“Men” é um reflexo do “método A24”, em uma obra com escolhas estéticas interessantes, mas que não se conversam na unidade fílmica

O novo filme de terror da A24 marca o retorno de um longa de Alex Garland para a produtora, depois de estrear na direção com o ótimo “Ex Machina”. O cineasta tem uma carreira bastante curiosa, iniciando como roteiristas de filmes de gênero mais frontais, com destaque para “Extermínio” e “Dredd”, antes de começar a dirigir longas que rejeitam o gênero puro e simples e buscam uma visão mais profunda e transcendente das temáticas abordadas. Isso funciona em seu já citado “Ex Machina”, assim como no bom “Aniquilação”, mas acaba por ser o que faz “Men” ruir aos poucos.

Geralmente não cito estúdios e produtoras nas críticas, mas nesse caso é bastante relevante. Isso porque, apesar de um ótimo catálogo em seus 10 anos de existência, é inegável que a A24 gostou dessa posição de queridinha dos cinéfilos. Então, por mais que seja louvável essa visão da empresa de dar liberdade total aos seus diretores, é inegável também que a produtora vem reforçando um discurso bastante elitista, como se os seus filmes fossem a representação da verdadeira arte, usando-se de termos ridículos como “pós-terror” e “horror elevado”.

Então, se por um lado os diretores podem fazer o filme que desejam, por outro, a A24 segue estimulando a realização de longas que se encaixem nesse método, filmes que rejeitam os gêneros para se usar deles como degraus para uma abordagem mais austera, dramática e estilizada (seja de forma mais sutil ou mais chamativa, como é o caso de “Men”). É a ideia problemática de que esses gêneros são um cinema de baixa qualidade e precisam dessa “injeção dramática e profunda” para se tornarem “arte”. Muitos desses longas que seguem a cartilha até funcionam, como os ótimos “O Farol”, “Hereditário” e “A Bruxa”, mas esse não é o caso de “Men”.

Preso a essa cartilha, Garland seleciona o “tema relevante” que quer trabalhar, mas que tem pouco domínio, assim como uma gama de simbolismos e planos bonitos, mas que nunca parecem se ligar completamente à unidade proposta. Mais do que isso, se por um lado o longa escolhe ser cheio de metáforas e mensagens pouco explícitas, por outro, ele se trai e usa a chamada de vídeo como uma forma da protagonista explicar para a amiga sobre o que o longa é. É como se Garland não confiasse apenas na imagem, nos homens cercando essa mulher e aterrorizando-a, e precisasse recorrer aos diálogos para tornar óbvio o discurso, ainda que o filme o trate com a pompa dos planos esteticamente expressivos e metafóricos e da austeridade proveniente do distanciamento gerado pelas atuações frias.

É bem verdade que em alguns momentos Garland até consegue conversar tema, simbolismos e imagem de forma mais eficiente, como na retratação dos jardins e florestas que a personagem passeia como se fosse uma ressignificação do Éden, não só pela maçã como fruto proibido, mas, principalmente, pela saturação do verde, criando uma aura quase mística antes da aparição do homem nu (uma nova versão mais ameaçadora de Adão). Assim, por meio da imagem, o diretor consegue falar sobre como essa mulher é um reflexo de todas as mulheres e que os abusos dos homens não são uma contemporaneidade, mas, sim, algo que existe desde a criação do ser humano (claro que se usando de uma figura religiosa para isso).

Porém, essa possibilidade de uma mensagem imagética que nos convida para a imersão, assim como a casa escura de parede vermelha que parece julgar aquela protagonista, como se ela fosse uma “pecadora”, perde-se completamente a partir do final do segundo ato, quando Garland abandona o terreno mais palpável para dar um show de exibicionismo vazio, colocando as metáforas e planos estilizados que mais parecem ter como objetivo aparecer naqueles perfis de Instagram que destacam “fotografias bonitas” e “paletas de cores”  do que em servir à unidade fílmica proposta inicialmente.

Assim, Garland não só trai a sua própria mensagem ao perder a sua protagonista em meio a um emaranhado de metáforas vazias, como rompe uma possível unidade, fazendo de “Men” apenas um exercício de estilo em que os fragmentos não se conversam. Restam apenas elementos isolados, como a boa atuação de Jessie Buckley, uma cena no túnel que brinca com o som de forma eficiente e planos bonitos e metafóricos. 

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