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|Crítica| 'Maria Callas' (2025) - Dir. Pablo Larraín

|Crítica| 'Maria Callas' (2025) - Dir. Pablo Larraín

Crítica por Victor Russo.

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'Maria Callas' / Diamond Films

 

Título Original: Maria (EUA/Itália)
Ano: 2025
Diretor: Pablo Larraín
Elenco: Angelina Jolie, Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Haluk Bilginer e Kodi Smit-McPhee.
Duração:123 min.
Nota: 2,0/5,0

 

Diferenciando-se dos outros dois filmes da “trilogia”, Pablo Larraín não se interessa por Maria, mas se fascina e se resume a olhar solenemente para La Callas

Após Maria cantar pela primeira vez em 1977 para o seu professor de voz, ele diz que quer menos Maria e mais La Callas. Tal frase definiria a abordagem de Pablo Larraín em seu terceiro longa sobre mulheres que marcaram a história de diferentes maneiras, só que pouco há de Jackie e Spencer em Maria Callas. Se nas duas obras anteriores o cineasta estava interessado em adentrar a solidão dessas mulheres, escanteadas pelos sistemas de poder de seus respectivos países, buscando um reconhecimento psicológico da dor sentida por elas, o longa protagonizado por Angelina Jolie em teoria segue os passos do anterior, só que aqui pouco há da mulher Maria Callas, a pessoa por trás do mito. Há vislumbres do que ela sente em como se porta quando sozinha ou em como se relaciona com seus dois companheiros fiéis, a governanta Bruna (Alba Rohrwacher) e o mordomo Ferruccio (Pierfrancesco Favino), mas o encantamento do diretor pela figura real cria uma barreira de aprofundamento, jogando-se para longe, como um observador apaixonado e obcecado pelo mito.

Dessa forma, o longa parte de uma estrutura comum aos outros dois e até se diferencia bastante da maioria das cinebiografias hollywoodianas (que repetem a mesma fórmula de Wikipédia filme após filme), observando os seus últimos dias de vida de Maria, enquanto uma entrevista imaginada revela alguns flashbacks de seus dois relacionamentos durante a vida e um outro vislumbre dela cantando. Apesar de um pouquinho do seu passado, praticamente inexiste a vontade de mostrar toda a sua vida, como se fosse desnecessário a ascensão e a queda, já que a personagem fosse grande o suficiente para se render a tal simplificação formulaica. Todo esse olhar com romantismo e contemplação não se permite tocar na figura idealizada, toda a iluminação e construção dos cenários, além dos muitos closes e atuação de Jolie, fazem questão de reforçar esse sentimento de uma espécie de anjo na terra, a detentora de talentos inigualáveis, que mesmo quando toma atitudes reprováveis, é vista sem qualquer julgamento. Larraín não esconde tal idealismo, inserindo na trama uma espécie de metalinguagem, um personagem que seria a representação dele mesmo e do sonho de entrevistar e se apaixonar por aquela mulher que morreu quando ele tinha apenas um ano de idade. 

Ao adotar tal estilo, prezando pela solenidade absoluta, uma transposição para quase fantasiosa daquele passado, Larraín impede a conexão do público com sua musa. Rapidamente a sua proposta se satura, Callas enquanto símbolo inalcançável, não importa quantos closes sejam feitos, torna impossível um engajamento com a trama e não permitem a Jolie construir essa figura tão complexa e histórica para a música e para a arte de forma geral (passa longe de ser o primeiro interesse cinematográfico por ela). A atriz faz o que pode, mas sua atuação pomposa e sem muitas nuances parece mais um quadro pintado do que uma personagem cinematográfica. 

Não ajuda também o fato das escolhas estilísticas, que clamam por um cinema elevado, seja no preto e branco dos flashbacks, seja na luz solar dos devaneios, não conseguem sair desse lugar mais óbvio e marcado. Como a protagonista de Larraín, não há nuance, sobretudo nos flashbacks, sendo o preto e branco para tal artifício narrativo para lá de ultrapassado. Ao mesmo tempo, se há todo o cuidado com essa fotografia meio programada e que dita o ritmo moroso do longa, pelos longos planos em travellings lentos, não há a mesma preocupação com a conexão entre o som e a imagem. Jolie dublar Callas faz todo o sentido, reforça até o sentimento do cineasta de que seria impossível alguém cantar como ela. Entretanto, Jolie é Callas imageticamente falando, e Larraín também se sente confortável com isso. Mas a mixagem de som e a dublagem da atriz dificultam a aceitação dessa verdade imposta pelo filme a partir do momento que a vemos dublando em planos aproximados e claramente há uma incapacidade em tornar minimamente parecida a música escutada e a boca que mexe em tela, a ponto de constantemente o som começar bem antes da atriz começar a se movimentar os lábios, o que já ocorre no primeiro plano do longa.

Ao final, Larraín deve ser o mais satisfeito com a obra, como se realizasse uma vontade pessoal e se iluminasse em poder imaginar tal aproximação com o seu ídolo. Infelizmente, isso pouco nos atinge enquanto espectador.

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