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|Crítica| 'Maestro(s)' (2024) - Dir. Bruno Chiche

|Crítica| 'Maestro(s)' (2024) - Dir. Bruno Chiche

Crítica por Raissa Ferreira.

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'Maestro(s)' / Bonfilm

 

Título Original: Maestro(s) (França)
Ano: 2024
Diretor: Bruno Chiche
Elenco : Yvan Attal, Pierre Arditi, Pascale Arbillot, Miou-Miou e Caroline Anglade.
Duração: 96 min.
Nota: 3,0/5,0

 

Sem grandes pretensões, Bruno Chiche conduz um filme simples que usa a música de destaque das incomunicabilidades até a solução para as relações

Vivemos recentemente uma leva de filmes que destacaram maestros como seus protagonistas, e entre a fictícia e marcante Lydia Tár de Todd Field e o fiasco inspirado em um ícone real de Bradley Cooper, haviam grandes coisas em jogo, atuações a serem destacadas em premiações, de grandes personalidades atreladas à música clássica, e filmes cotados a grandes postos em seus anos e temporadas de lançamento, mas, Maestro(s) embora tenha quase o mesmo nome que um dos pouco aplaudidos longas do ano passado, passou despercebido, chegou ao Brasil pelo Festival Varilux e apenas dois anos após seu lançamento é que estreia nas salas comerciais oficialmente. O filme até faz jus a essa trajetória, não é nem um pouco ambicioso como seus colegas temáticos, pretende coisas bem menores e, por isso, vai por caminhos muito mais simples e consegue atingir resultados interessantes, embora desafine pelo caminho. Da construção que estamos acompanhando no cinema dessas figuras, desde Amadeus (1984), é seguro dizer que um maestro é quase sempre uma entidade tão rígida quanto excêntrica, a rigor da música clássica que conduzem e da genialidade que se espera dessas pessoas, personagens que centralizam tramas nesse cenário são sempre bastante trabalhados, seja pela loucura que permeia suas mentes brilhantes e desajustadas, ou pela dureza que atravessa a dedicação de seus trabalhos e invade suas vidas pessoais. Mas, para a obra de Bruno Chiche, talvez a música clássica pudesse ser até substituída por outra profissão, que o cerne de sua trama se manteria, mais vale a ele observar uma questão entre gerações, de pais e filhos, que encontra na música uma forma de se comunicar, do que uma personalidade indissociável de seus personagens. 

É óbvio que a ocupação de Denis (Yvan Attal) e François (Pierre Arditi) é fundamental, porém, Chiche não busca essa personalidade profunda e complexa de ambos como é costume em posições prestigiadas dessa vocação, fossem pai e filho engenheiros, por exemplo, o filme possivelmente encontraria em tijolos e andaimes uma forma de expressar a comunicação entre eles, da mesma forma que faz aqui com a música. Desde as primeiras cenas, a incomunicabilidade é destacada, seja pela ausência do pai na premiação, pela incapacidade de Denis de notar que seu jovem filho prefere cozinhar do que ser músico e nas conduções das orquestras, truncadas, revelando um gênio mais forte de François e mais compreensivo de Denis, porém com ambos precisando se repetir e tentar novamente enquanto os músicos tentam compreender totalmente seus gestos. Essa barreira de comunicação que permeia metade do longa, ao menos, evidencia uma trama bastante simples, pai e filho não conseguem conversar e por isso tudo sofre com a mesma incomunicabilidade que culmina na questão central, uma ligação que vai parar na pessoa errada e por uma ironia que apenas o cinema seria capaz de providenciar, somente o próprio filho poderia contar ao pai sobre o engano, enquanto todos os responsáveis lavam as mãos da situação desconfortável que criaram. Maestro(s) foge, porém, desse confronto dramático mais forte, ainda que seja simples e por isso, conduza com mais facilidade muito de sua proposta, sofre bastante ao não lidar de forma mais direta com seu conflito principal e deixa bastante aquém o trabalho nas questões entre gerações.

Quando as coisas começam a se acertar, ainda que Chiche escolha acovardar seu protagonista e deixar que a mãe desenrole a conversa mais importante que haveria, o longa passa a destacar a comunicação que começa a fluir entre os personagens, usando muito a música como condutora. O namoro entre Denis e a violinista surda, que se rompe em um estúdio, se resolve com um instrumento musical facilitando o diálogo, seu filho finalmente consegue dizer que quer estudar gastronomia enquanto ambos tocam piano juntos, ao mesmo tempo em que Denis se abre sobre seu próprio relacionamento com François. As orquestras começam a compreender tudo e o maestro se faz entender, os instrumentos e a voz fluem, tudo parece resolvido, menos a grande questão entre os dois Dunars. A cena final vai nesse mesmo caminho, em que o simplismo da trama em não enfrentar seus dramas mais intensos, coloca pai e filho lado a lado sem muito desenvolvimento no percurso, apenas um monólogo bem caído feito para pontuar como, de maneira bastante torta - justamente pela forma rasa como o relacionamento é tratado em boa parte do tempo -, François teria apoiado Denis a aceitar seu cargo dos sonhos.

No entanto, a sequência final é a de maior alma de todo o filme e que une bem sua proposta. Quando François entra no palco, a impressão é que haverá um rompante à la Tár, mas seria no mínimo estranho, já que Maestro(s) evita esses conflitos diretos a todo custo. O que se dá é uma comunhão entre condutores, músicos e som, construindo uma narrativa sem texto, apenas pela troca que acontece entre a imagem e a música. Os personagens conversam, enfim, mas sem dizerem uma única palavra na nossa frente, apenas deixando a condução conjunta dizer que estão bem um com o outro, sendo o êxito da orquestra a grande resposta de suas aflições. É bonita a forma como Chiche compõe as cenas, criando um diálogo realmente que, ainda que muito clichê e literal, passa o bastão do grande veterano ao novo destaque da família. Não há muita paixão ao longo de toda a obra, mas nesses minutos finais ela dá um pouco as caras para selar as pontas. 


 

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