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|Crítica| 'Maestro' (2023) - Dir. Bradley Cooper

|Crítica| 'Maestro' (2023) - Dir. Bradley Cooper

Crítica por Victor Russo.

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'Maestro' / Netflix & O2 Play

 

Título Original: Maestro (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Bradley Cooper
Elenco : Bradley Cooper, Carey Mulligan, Matt Bomer, Maya Hawke, Sarah SIlverman e Sam Nivola.
Duração: 130 min.
Nota: 2,5/5,0
 

Bradley Cooper busca a todo custo rebuscar a cinebiografia clássica com escolhas estéticas chamativas, mas só se afasta ainda mais do espectador no processo

Pensar em como Hollywood (e boa parte do cinema mundial) desenvolve cinebiografias é entender também como muitas vezes o público é manipulado em um caminho de diminuir o cinema em sua essência. A ideia de a importância de contar a vida de uma pessoa em tela se bastar ao passar pelos eventos mais relevantes da história dela é simplesmente ignorar o potencial cinematográfico no audiovisual, aquele peso que a sétima arte ainda carrega de ter vindo depois das outras. Ainda hoje, nada é mais comum do que essa forma literária de encarar o cinema, colocando sempre a história como a real importância, ainda que essa ingenuidade geralmente apareça disfarçada de filme nas frases que sempre começam com “mas o roteiro…”. Com isso, é comum que a maior indústria de cinema do mundo siga a sua produção em massa desenvolvendo esse tipo de filme que conta a vida toda ou grande parte dela, geralmente com algum tipo de ascensão e queda, ou reservando para o final um feito marcante. É comum que essa narrativa tire o peso do personagem e de cada evento ao apenas passar por tantas coisas, mas é também compreensível o porquê dessas obras serem produzidas em uma escala tão grande. Chama-se o público pela figura central, na maioria das vezes ou uma pessoa conhecida com muitos fãs ou marcada por um grande feito, se multiplica o modelo de execução, permitindo aquela bilheteria fácil sem muita preocupação formal. Hollywood aprendeu a vender esse tipo de filme, assim como o espectador foi colocado sem perceber no lugar de comprar cada nova obra sem questionar.

Nesse sentido, Bradley Cooper nem tenta romper essa estrutura tradicional, vai passar também pela vida do seu personagem por um longo período de tempo, e as consequências são semelhantes às que estamos acostumados, com o agravante aqui (também muito comum em cinebiografias) de que somos levados a compreender a magnitude daquela figura, Leonard Bernstein (interpretado pelo próprio Cooper), apenas pelo que é dito dele ou por como ele fala apaixonadamente sobre música, mas pouco vemos dessa interação dele com o que compõe ou orquestra, para além de uma boa sequência ao final, que até lembra a intimidade que ele cria no palco em “Nasce Uma Estrela”, mantendo a câmera ali e no backstage, fugindo da decupagem mais genérica de shows (poucos diretores resistem à tentação de filmar reações da plateia). Entretanto, talvez seja o único real momento que somos levados a sentir a capacidade desse homem. No restante, sabemos que ele fez peças de sucesso, como “Amor, Sublime Amor”, foi o primeiro grande maestro estadunidense, venceu o preconceito por ser judeu e manteve o seu sobrenome que entregava sua descendência, entre tantas outras coisas. Sabemos porque o filme nos diz tudo isso, porém nunca de fato vemos. 

Essa escolha, comum nesse tipo de filme, por contar e não mostrar os feitos, tira a paixão que o filme deseja sentir pelos personagens e pela música. O romance é esvaziado, Carey Mulligan é jogada apenas para o papel da esposa que sofre, enquanto fica realmente bem difícil sentir algo por Cooper. É como se víssemos uma página de Wikipedia transformada em imagens bonitas, mas vazias. Isso porque Cooper até tem uma clara preocupação estética ao narrar essa história, seja no uso do preto e branco em um momento específico ou nos raccords e movimentos de câmera mais chamativos. Só que tudo isso acaba soando muito mais como um “quero ser um diretor autoral” do que realmente provoquem algum efeito emocional no espectador. Talvez as duas exceções estejam na já citada apresentação e em quando Felicia (Mulligan) descobre estar com câncer, um dos poucos momentos que o filme desacelera e se usa de um cenário quase inexistente para colocar aqueles personagens em um vácuo, reforçando o sofrimento da notícia recebida. Mas é muito pouco para mais de duas horas de projeção que não vão além de um filme morno e com um diretor obcecado por ser um esteta.

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