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|Crítica| 'Lobisomem' (2025) - Dir. Leigh Whannell

|Crítica| 'Lobisomem' (2025) - Dir. Leigh Whannell

Crítica por Victor Russo.

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'Lobisomem' / Universal Pictures

 

Título Original: Wolf Man (EUA)
Ano: 2025
Diretor: Leigh Whannell
Elenco: Christopher Abbott, Julia Garner, Matilda Firth, Sam Jaeger e Benedict Hardie.
Duração:103 min.
Nota: 2,5/5,0

 

Leigh Whannell volta a reimaginar os monstros clássicos da Universal por uma evidenciação do dispositivo a fim de unir o horror ao familiar

Diretor que iniciou sua carreira como ator e uma espécie de pupilo-parceiro de James Wan, Leigh Whannell, em sua ainda curta carreira no cinema de horror, é um dos mais habilidosos nomes nessa leva de cineastas que olham para o passado e resgatam figuras consagradas do gênero. Isso porque Whannell pouco preza pela homenagem pura, sua visão é sempre para frente, para as novas possibilidades de dar um novo passo na história daqueles monumentos estabelecidos e inseri-los dentro de uma concepção de agora, ou até mirando em um futuro ainda impossível. Upgrade não buscava uma referência direta em nenhuma obra pronta, mas repensava esse futurismo cyberpunk a partir do ciborgue dependente de chips e de certos medos contemporâneos, não exatamente como uma reinvenção do já estabelecido para o gênero, mas da mescla dele com a ação e da revelação do artifício, não só dentro da trama, como principalmente na seleção do filmar, na câmera que marca presença e é tanto ponto de vista do personagem como objeto de manobra para o cineasta. Em O Homem Invisível, Whannell já complexifica e integra ainda melhor tais elementos, do sci-fi e da ação a um horror de temas atuais, sem nunca ser apenas discurso verbal, mas, sim, uma materialização daqueles perigos e ações por meio de um dispositivo tecnológico: a invisibilidade permitida por uma roupa que cria um outro estágio ainda mais macabro de gaslighting. É uma das poucas releituras com coragem o suficiente para partir do clássico, mas se transformar em algo completamente novo, entendendo que o filme de 1933 comunicava com aquela época e não faria sentido simplesmente refazê-lo nostalgicamente.

Lobisomem vai lidar com um imaginário ainda maior, muito além da literatura ou da obra cinematográfica estabelecida no auge do cinema de monstros da Universal. A criatura presente em tantos outros universos e com muitos filmes solos dificulta ainda mais a possibilidade de Whannell refazê-lo. Entretanto, habilidoso e ousado como é em reconhecer o existente, mas se desapegar das suas amarras, o filme de 2025 não propõe exatamente uma grande revolução como o seu homem invisível, mas adquire uma certa honestidade para com o público em suas pequenas (mas não tão pequenas) modificações. Ao invés de bater de frente, dessa vez ele escolhe diminuir, volta-se para o menor, uma pequena família em terras afastadas do Oregon, compreendendo essas barreiras da modernidade, enquanto coloca pitadas de ação em um terror muito mais localizado. Não há grande escala nem muitas tecnologias, o dispositivo que interessa Whannell nesse filme é puramente de ponto de vista cinematográfico. Não é também fetichista ou uma autoexaltação, trata-se de uma simplicidade bastante evidente entre esposa (Julia Garner) e filha (Matilda Firth) para com o pai (Christopher Abbott) virando criatura, que ressalta esses dois mundos em um só, mas com uma barreira na comunicação que já vinha de antes. Não à toa, será a filha, muito mais próxima do pai, que entenderá os seus pedidos mais profundos, justamente aquilo que Blake não conseguiu compreender em seu pai (Sam Jaeger).

Após um prólogo e o estabelecimento rápido daquela pequena família, o que Whannell propõe é justamente uma noite de terror, a desestabilização completa das expectativas no começo da viagem, antes mesmo deles se acomodarem na casa deixada por Grady. É justamente nesse momento que o filme cresce, com uma ameaça desconhecida que vem da floresta, recusando aos personagens a possibilidade de pensar e obrigando-os a agir. Whannell compreende o gênero, usa da ação como artifício para a sobrevivência, mas não recusa ou dilui o terror em melodrama. Pelo contrário, conhece bem o suficiente o gênero para jogar com que esperamos, sobretudo em como cria essa mise en scène, escondendo a ameaça no escuro, mas às vezes a revelando apenas para nós, ou até se utilizando dos movimentos de câmera e enquadramentos para sugerir possíveis sustos que nunca chegam (tornando os que vem de fato muito mais efetivos). Além disso, a escolha por um visual diferente e a não recusa de mostrá-lo a partir do momento que é reconhecido, é mais uma prova de como o diretor se interessa legitimamente pelo horror mais visual.

Se Lobisomem, então, não consegue ter realmente o impacto que poderia, é justamente por que o horror depende do argumento familiar, e esse é frágil demais desde o início. Até como ele resolve a relação pai e filho, ou marido, esposa e filha, parece quase um protocolo, com diálogos e motivações bem genéricos apenas para nos obrigar a ter alguma empatia com aquelas figuras quase sempre insossas (exceção feita a alguns momentos mais bonitos entre Blake e Ginger). Um rompimento entre esses laços de gênero até poderia criar dois filmes em um, deixando o terror mais prazeroso e o melodrama insportável. Whannell escolhe pela unidade, e essa nunca engata completamente justamente pela dependência de algo muito interessante com outro bem qualquer coisa.


 

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