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|Crítica| 'How to Have Sex' (2023) - Molly Manning Walker

|Crítica| 'How to Have Sex' (2023) - Molly Manning Walker

Crítica por Victor Russo.

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'How to Have Sex' / MUBI & O2 Play

 

Título Original: How to Have Sex (UK)
Ano: 2023
Diretor: Molly Manning Walker
Elenco : Mia McKenna-Bruce, Samuel Bottomley, Lara Peake, Shaun Thomas e Laura Ambler.
Duração: 91 min.
Nota: 3,5/5,0

 

Em meio a tantos estímulos visuais e sonoros, Molly Manning Walker busca a intimidade da protagonista ao direcionar a câmera para o rosto de Mia McKenna-Bruce

"How To Have Sex”, filme vencedor da mostra Um Certo Olhar no último Festival de Cannes, abre nos levando por um caminho já bastante conhecido, aquele filme de spring break, em que acompanhamos jovens fazendo festa, indo em baladas, conhecendo pessoas novas, transando, usando drogas etc. Entretanto, desde o início, Manning Walker faz questão de ressaltar a problemática real do longa: Tara (McKenna-Bruce) ainda é virgem e pretende transar pela primeira vez nessas férias paradisíacas. Ainda assim, toda a temática é envolta inicialmente  em uma descontração jovem, como se aquilo fosse algo importante, mas divertido ao mesmo tempo. 

O tom vai se manter o mesmo até o desaparecimento da protagonista por alguns minutos. Ao escondê-la, antes de retornar e mostrar tudo que aconteceu, Manning Walker não só está reforçando a importância do evento para Tara, mas, sobretudo, colocando-se ao lado da personagem, não mostrando o ocorrido até que a própria Tara, ao seu modo, pareça se sentir um pouco mais segura para nos revelar tudo. Ao fazê-lo, a diretora nos transforma em confidentes, como se até os momentos finais, em que a protagonista finalmente vai ser compreendida por uma das amigas, nós fôssemos os únicos capazes de estar ali ao lado dela. Por isso, faz muito sentido a escolha da cineasta não só de filmar o ato na praia pela perspectiva dolorosa de Tara, mas, sobretudo, manter a câmera próxima ao seu rosto durante quase todo o restante do filme.

Dessa forma, em um filme com tantos estímulos para o espectador, como vários jovens no plano, gritaria, música alta, cores gritantes, entre outros, Manning Walker direciona sua câmera para o que realmente importa: a intimidade de Tara. Só que o longa nunca vai martirizar sua protagonista, Tara não é um objeto de sofrimento e pena, mas uma mulher que somos convidados a conhecer. E é a partir daí que a atuação de McKenna-Bruce começa a ganhar destaque, assim como a decupagem e a fotografia que vão ter leves mudanças a partir do sentimento da personagem. Se inicialmente Tara estava na mesma vibe de todo mundo, querendo curtir, e McKenna-Bruce falava e gritava até ficar sem voz, depois da perda da virgindade quase forçada, somos desafiados a entendê-la em sua quietude. Até quando fala, ela não está realmente dizendo o que sente. Porém, sua dor e falta de entendimento não são constantes, sobretudo quando ela encontra algum conforto e alívio em um grupo novo de jovens, fazendo com que a câmera se abra mais e aumente a profundidade de campo, permitindo ao espectador reconhecer melhor a interação dela com essas pessoas. Os sorrisos aparecem timidamente no rosto da atriz, mas sempre com algum pesar, como se ela tentasse viver e curtir, só que isso não fosse totalmente possível até que ela pudesse ser realmente compreendida por alguém.

Ao transformar o público nesse observador passivo desafiado a entender Tara, Manning Walker silenciosamente por meio das expressões e atitudes de McKenna-Bruce discute com a imagem a incompreensão da sexualidade, do prazer e, principalmente, do consentimento que a sociedade tem com as mulheres. O que é reforçado não por uma estereotipação do homem vilão necessariamente, visto que a personagem encontra algum conforto no garoto mais bondoso que a respeita, por mais imaturo que ele seja, enquanto o desentendimento não só parte de quem a fez mal diretamente, talvez até sem muita intenção, mas isso pouco importa, como também de uma das suas amigas. E nessa intimidade em meio a tantos estímulos, Manning Walker encontra a força de um abraço para fechar o filme, nos mantendo em uma posição de distância e fazendo da imagem a verdadeira reveladora de tudo.

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