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|Crítica| 'Homens de Barro' (2025) - Dir. Angelisa Stein

|Crítica| 'Homens de Barro' (2025) - Dir. Angelisa Stein

Crítica por Victor Russo.

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'Homens de Barro' / O2 Play

 

Título Original: Homens de Barro (Brasil)
Ano: 2025
Diretora: Angelisa Stein
Elenco: Gui Mallmann, João Pedro Prates, Alexandre Borin e Néstor Monasterio.
Duração: 72 min.
Nota: 2,5/5,0
 

Apesar das dificuldades financeiras transpirarem em tela, assim como um certo amadorismo na progressão da narrativa, Angelisa Stein demonstra uma bonita paixão por fazer cinema

É muito comum o “bom cinema” vir sempre acompanhado de uma defesa pelo conhecimento técnico, não necessariamente em termos de domínio da linguagem, mas na capacidade de compor planos bonitos ou construir personagens a partir daquele manualzinho típico de Hollywood, encarado até hoje por muitos como uma regra. Tais análises tentam quantificar a arte cinematográfica, uma forma de padronizar a crítica e facilitar a percepção e debate sobre um filme. Essa percepção exclui fatores menos palpáveis, a capacidade de um filme de te tocar em lugares inesperados, de demonstrar uma paixão pelo que está sendo retratado ou mesmo um certo coração pulsante dentro da obra que nos permite sentir algo ao assisti-la, sem precisar recorrer sempre à explicação como uma maneira de responder ao que deveríamos sentir calados. Mais do que isso, a racionalização que tenta excluir os sentimentos, por consequência, torna-nos espectadores descorporizados frente ao mar de pulsões que um filme pode trazer. Homens de Barro pode apresentar todas as dificuldades de organizar uma narrativa, fazê-la progredir de forma fluida ou mesmo ter um refinamento em cada uma das escolhas audiovisuais, mas certamente não pode ser acusado de ser programado, protocolar ou sem vida, o longa transborda um desejo genuíno de representar essa realidade em tela, uma vontade evidente de fazer cinema, apesar de todos os impeditivos financeiros, técnicos e de conhecimento que essa arte cara e complexa é capaz de impor, sobretudo a realizadores estreantes, como é o caso de Angelisa Stein.

Dessa forma, fica claro ao assistir ao longa que não foi uma produção fácil. É difícil fazer cinema, ainda mais no Brasil, em um filme de difícil interesse, bastante localizado e de produção evidentemente pequena. As poucas locações e suas repetições constantes, os atores inexperientes de carreiras curtas, ou iniciantes como a diretora, e, sobretudo, a curta duração que aqui revela bastante uma falta de conjuntura entre o longa, a dificuldade de criar uma coesão e fluidez entre as cenas, que parecem começar e se encerrar meio do nada, com uma certa incompreensão temporal, de forma quase sempre abrupta e deixando um espaço não preenchido nesse meio. Quase tudo é um tanto corrido, provavelmente por falta de investimento, a relação de rivalidade entre as famílias para criar essa espécie de Romeu e Julieta moderno conta com um apanhado de cenas picotadas e tentativa de amarrá-las por um voice over daquele que nunca se revela o real protagonista, assim como o relacionamento do casal principal tem menos tempo ainda para algum desenvolvimento.

Entretanto, se a montagem não consegue conectar tão bem as quase sempre curtas cenas, assim como o avanço da história depende demais de um voice over meio desnecessário para criar conexões narrativas, quando Ângelo (João Pedro Prates, na melhor atuação do longa) e Pássaro (Gui Mallmann) finalmente se encontram, o mundo parece parar. Mesmo que o amor soe repentino e seu desenvolvimento quase inexistente, é essa paixão de Angelisa por fazer o seu filme que parece encontrar seu coração na imperfeição quando os dois sobem na moto e vão fazer amor às escondidas (tão escondido que nem mesmo nós podemos presenciar aquela paixão em sua maior ardência). Seja no escuro ou ao pôr-do-sol, o casal é aquele pontinho de calor dentro do longa, tão forte que é quase impossível não rolar um beijo no meio de uma festa cheia, na cidade super conservadora e religiosa. Sempre que o filme se afasta deles e foca nos demais, tudo perde força, as escolhas soam mais amadoras, como a reprise da fala do pai para reforçar o tema central no momento de maior conflito. É em Ângelo e Pássaro que o filme realmente existe, e é bonito ver tanto sentimento em meio a uma grande falta de acabamento.

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