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|Crítica| 'Holy Spider' (2022) - Dir. Ali Abbasi

|Crítica| 'Holy Spider' (2022) - Dir. Ali Abbasi

Crítica por Victor Russo.

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'Holy Spider' / MUBI & O2 Play Filmes

 

Título Original: Holy Spider (Dinamarca)
Ano: 2022
Diretor: Ali Abbasi
Elenco : Zar Amir Ebrahimi, Mehdi Bajestani, Arash Ashtiani e Forouzan Jamshidnejad.
Duração: 118 min.
Nota: 2,0/5,0
 

Para um filme que busca criticar a misoginia revestida de religião, é bem contraditório que "Holy Spider" utilize as mulheres apenas para chocar por meio de rostos desesperados e mutilados

Cada vez mais, parece que a cinefilia e a crítica de cinema se impressionam ou reduzem os filmes a temas importantes ou beleza estética. Nesse sentido, o novo filme de Ali Abbasi é um prato cheio para essa análise mais rasa e supostamente preocupada com o filme como uma oportunidade de discutir questões relevantes da sociedade. O problema de tal ótica é que ela ignora o maior potencial discursivo e ideológico de um filme: a imagem.

Nesse sentido, “Holy Spider” tem um discurso firme em diálogos e personagens a fim de revelar como o conservadorismo político, social e religioso no Irã (mas que vale para todo o mundo) estimula práticas misóginas que diminuem não só a importância da mulher no país, mas as tornam alvos de homens, que, independente do que façam, serão vistos positivamente, seja como herói-mártir (como o assassino) ou como alguém impune de seus atos (como o policial e o ex-editor-chefe da protagonista).

Entretanto, não basta ter um discurso que denuncie textualmente esses atos, se a imagem e o desenvolvimento narrativo do longa acaba levando a mensagem, senão para um caminho totalmente contrário, para uma falta de sensibilidade dessas mulheres, que não são só vítimas, mas Abbasi faz questão de expor o sofrimento delas, acreditando que o choque é a melhor saída para reforçar uma mensagem importante, algo bastante comum em cineastas deste século.

O problema é que tal atitude acaba diminuindo essas mulheres, tirando a identidade delas e as fazendo apenas objetos de uma narrativa mais preocupada com o protagonista masculino. Isso porque, a subversão do filme de serial killer aqui é feita ao tirar a importância do “quem fez?” ou mesmo do “como fez?”. Desde o início sabemos quem é o assassino das aranhas, como ele age e porque age, o que é uma escolha interessante até certo ponto para sabermos quem é aquele cara e como ele é um ser humano terrível, mas que tem as características de uma sociedade que odeia mulheres.

Porém, a ideia de “Holy Spider” era dividir essa narrativa em dois pontos de vista. De um lado, esse assassino vivendo com a sua família durante o dia e assassinando mulheres à noite. Do outro, uma jornalista destemida vindo da capital para resolver aquele caso, já que é a única que realmente parece se importar com aquelas vidas perdidas. Isso até ambos os caminhos se cruzarem.

A questão é que Abbasi parece muito mais interessado com o serial killer, apenas reforçando o fascínio da sociedade pelos assassinos em série, do que pela heroína. Se ela é a maior personagem do longa e a única capaz de romper com aquela estrutura misógina de poder, o longa prefere diminuí-la e fazer do homem que mata mulheres o grande foco de toda a narrativa. 

Não satisfeito com o protagonismo, Abbasi ainda faz questão de mostrar boa parte dos assassinatos sendo cometidos, usando quase sempre do close no rosto dessas mulheres sendo mortas das formas mais brutais. É bem verdade que o diretor tem um controle bastante eficiente do tempo, do espaço e das situações, esticando os minutos em que vemos essas mulheres inocentemente entrando no covil de abate. Mas isso é muito pouco para um filme mais preocupado em chocar às custas dessas mulheres, diminuindo-as na história e as reduzindo a rostos enforcados, espancados e desesperados.

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