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|Crítica| 'Ghostbusters: Apocalipse de Gelo' (2024) - Dir. Gil Kenan

|Crítica| 'Ghostbusters: Apocalipse de Gelo' (2024) - Dir. Gil Kenan

Crítica por Victor Russo.

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'Ghostbusters: Apocalipse de Gelo' / Sony Pictures

 

Título Original: Ghostbusters: Frozen Empire (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Gil Kenan
Elenco : Mckenna Grace, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Dan Aykroyd, Kumail Nanjiani, Bill Murray e Ernie Hudson.
Duração: 115 min.
Nota: 2,0/5,0

 

Gil Kenan abre mão da reestruturação da franquia ao crescer o filme com infinitos personagens e histórias paralelos, enquanto a metralhadora de piadas só ressalta essa dispersão do longa

Em 2021, a franquia Os Caça-Fantasmas retornou com uma nova proposta de renovação, após o fracasso de 2016. Dessa vez, sem um confronto tão grande às ideias postas anteriormente e entendendo o mercado daquele momento, Jason Reitman (filho de Ivan Reitman, diretor dos filmes da década de 1980) substituiu o feminismo pela nostalgia, teoricamente inocente (mas que nada de tem de não-ideológico), fazendo daqueles personagens jovens, em época de Strangers Things e outras obras que resgataram (e continuam o fazendo) um olhar oitentista das crianças como detentoras e condutoras da narrativa, agora, claro, carregando esse suspiro de saudade típico de uma indústria que sabe vender o saudosismo, o suposto futuro da franquia. Assim, Ghostbusters - Mais Além funcionava como uma renovação, mas sem uma mudança drástica. Pelo contrário até, mantinha-se em uma dinâmica de anos 1980, mas inserindo-a ao contexto atual. Os personagens novos tinham elos com o passado, seja de sangue ou de admiração. Era, acima de tudo, uma passagem de bastão para um nova geração, uma escolha confortável para todo mundo, tanto para os fãs do original, quanto para o público mais jovem tendo um primeiro contato agora. Estava longe de ser um filme admirável, mas funcionava para dar um novo andamento para a franquia.

Reitman então deixa a direção (ainda que assine o roteiro) e vê Kenan, com uma carreira que denuncia o seu caráter de “diretor de estúdio”, assumir o posto nessa sequência daquele quase reboot. Se a sensação em 2021 era de que a franquia buscava um novo rumo, com uma espécie de despedida e homenagem aos personagens clássicos nos momentos finais, dando a entender que eles permaneceriam existindo naquele mundo, mas o nosso recorte agora seria os jovens novos personagens, a realidade de 2024 é um freio nesse rumo da franquia. Há uma certa covardia em todas as escolhas de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, um jogar no seguro para tentar “atingir todo mundo” à força. Assim, os personagens jovens são contemplados, assim como seus amigos, sua mãe (Carrie Coon) e seu padrasto (Paul Rudd), todos apresentados no longa de 2021, ao mesmo tempo em que novos nomes aparecem, com destaque para o senhor do fogo (Kumail Nanjiani) e Melody (Emily Alyn Lind), mas tudo isso acontece não como uma diminuição de dependência para com o passado, pelo contrário, o grupo antigo (sobretudo Dan Aykroyd e Ernie Hudson) está mais presente do que nunca. 

Se não bastasse essa falta de foco e direcionamento para o futuro da franquia, que representa um rompimento total com o proposto há três anos, Kenan, como o diretor de estúdio que é, pouco tenta além de ser dominado por toda a fórmula mais básica do blockbuster contemporâneo, fazendo do longa uma bagunça inchada e sem personalidade. É como se a obra quisesse seguir um novo rumo, entretanto ficasse presa ao passado, e ainda tivesse uma ânsia de ser mais um filme genérico da Marvel. Isso se evidencia na falta de qualquer escolha minimamente representativa e ousada da mise en scène. O longa busca sustentar tudo por meio de piadinhas prontas, aqueles típicos cortes para uma fala facilmente antecipável, visto que todo esse humor dá uma sensação de que foi escrito por uma inteligência artificial. Ao mesmo tempo, há essa necessidade típica dos filmes de multiversos de trazer uma gama gigantesca de personagens, núcleos e histórias paralelas, que são sempre mal resolvidas e nutrem uma necessidade de dar motivação melodramática para cada um desses personagens, o que até poderia ser interessante em um filme menor e com mais foco, mas aqui soam mais como dispersões que vão e voltam de vez em quando, mais como aquela cartilha boba que Hollywood ama de que “todo personagem tem que ter um arco”, do que realmente um interesse legítimo do filme por essas narrativas secundárias. Assim, não só a protagonista (McKenna Grace) se enfraquece ao ser constantemente interrompida e escanteada, como todos os demais personagens não se sustentam, incluindo o vilão que até o seu visual parece retirado de um filme da Marvel (com semelhanças gigantes de design em relação à Hera, de Cate Blanchett), o que apenas sedimenta essa bagunça sem personalidade que é Ghostbusters: Apocalipse de Gelo. O mais frustrante é ver boas ideias e até ótimas piadas, principalmente as feitas por Podcast (Logan Kim), serem afogadas por um mar de Chat GPT e por uma falta de perspectiva para a franquia. É um filme que não se importa com nada, aceita-se sendo “só mais um”, até porque, vai ter uma sequência, não é mesmo?

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