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|Crítica| 'Garra de Ferro' (2024) - Dir. Sean Durkin

|Crítica| 'Garra de Ferro' (2024) - Dir. Sean Durkin

Crítica por Victor Russo.

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'Garra de Ferro' / California Filmes

 

Título Original: The Iron Claw (EUA)
Ano: 2024
Diretor: Sean Durkin
Elenco : Zac Efron, Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Stanley Simons, Holt McCallany e Lily James.
Duração: 132 min.
Nota: 3,5/5,0

 

A mesma masculinidade que parece ridícula e inofensiva é a causa da tragédia, enquanto somos postos ao lado de um protagonista observador

Baseado na história real da família Von Erich, uma das mais importantes da história do wrestling (luta-livre), Sean Durkin pouco muda na estrutura de ascensão e queda típica desses filmes, mas, ao selecionar como protagonista Kevin (Zac Efron), ele direciona sua narrativa a uma observação quase passiva. O irmão que, assim como nós espectadores, pouco pode fazer além de ver a diversão e dedicação se transformar em obsessão destruidora e trágica à sua volta. Impotente, nada adianta mais confrontar o pai da única forma que lhe foi ensinado, pela brutalidade masculina. Resta a ele, então, apenas abandonar aquele mundo e buscar novas formas de viver. 

Durkin nos traz para esse mundo nos iludindo com a visão de um Kevin obstinado a vencer por ele e pelo pai e de levar a família ao posto mais alto do esporte. A masculinidade, presente desde a sequência inicial no passado e em preto e branco, revela-se primeiro nesses corpos musculosos, cheios de testosterona prontos para extravasar tudo reprimido no ringue. Porém, até mesmo quando lutam, tudo é feito com um certo companheirismo. A graça se dá justamente em como esses corpos, cobertos apenas por uma cueca ou uma sunga, estão sendo tocados e exaltados, e se modificam a partir do espaço que se apresentam. Em casa, a mãe (Maura Tierney) pede para eles se vestirem, mas isso parece estranho para esses homens que revelam sua força não só pela luta, mas justamente pela exibição carismática dos seus físicos. Questionado por Pam, mulher com quem está saindo e futura esposa (Lily James), sobre o que almeja para a sua vida, Kevin só consegue pensar no ringue e nada mais.

Entretanto, o que inicialmente parece uma piada divertida, em uma quase estereotipação desses musculosos de coração bondoso e mente determinada, vai revelando o que há de mais sombrio nessa obsessão pelo poder masculino na figura do pai (Holt McCallany). O corpo é mais uma vez quem sente essa injeção de testosterona, e quando ele consegue ainda se manter firme, é a mente que cede. Enquanto o pai segue manipulando e projetando suas frustrações, Kevin é jogado para o canto e dali observa uma perda após a outra. O corpo que cede no Japão sem vermos, o pé que é perdido e forçado a se manter no ringue mesmo assim, antes da fragilização total da mente, ou aquele que nunca deveria estar entre as cordas e rapidamente tem sua vida sendo tirada de si. A masculinidade que um dia nos divertiu, agora vira o sofrimento de uma família que vai se deteriorando ao jogar qualquer poder feminino para o lado. O ritmo muda, a fotografia se torna cada vez mais sombria, os corpos desnudos e o ringue vão sumindo. Resta a Kevin não só abandonar tudo o que sempre viu como sua vida, mas perceber na mulher ao seu lado a possibilidade de um futuro que o faça lidar com as marcas do passado. 

Efron, não só observa, mas Durkin nos convida a observá-lo. Cada pancada vai marcando não só o seu corpo, mas principalmente o seu semblante. Enquanto o filme perde o humor, o ator também vai perdendo o sorriso, tornando-se quieto, soturno, sentindo a culpa do que não foi responsável tomar conta de si. A grande atuação de sua carreira pouco é expansiva, ele se destaca quando não é o destaque da história, quando é finalmente posto por completo ao nosso lado, como esse ser humano espectador de um mundo que se desenha na sua frente. É só quando vence os ensinamentos de uma suposta masculinidade que lhe foram dados e se permite cair no choro que o personagem finalmente encontra um futuro e volta a sorrir novamente, em um final que não poderia ser mais agridoce.

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