|Crítica| 'Esperando Bojangles' (2022) - Dir. Régis Roinsard
Crítica por Leonardo Ferlin.
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'Esperando Bojangles' / Califórnia Filmes
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No limiar entre a realidade e a fantasia, Régis Roinsard nos apresenta uma elaborada fábula sobre a loucura
Inspirado no best-seller homônimo de Olivier Bourdeaut, o terceiro longa do diretor francês Régis Roinsard brinca com nossa imaginação ao apresentar uma história dúbia, assim como sua protagonista - interpretada pela ótima Virginie Efira - em um mundo que nos remete às grandes fábulas da humanidade.
Pode-se dizer que o filme é dividido em duas partes bem distintas. A primeira nos mostra um mundo mágico, onde o amor floresce entre Camille (Efira), uma alma livre e radiante, e Georges (Romain Duris), um simpático vigarista com sede pela boa vida. Já a segunda parte nos mostra as consequências de uma vida idílica, acentuada pela espiral de deterioração mental de Camille.
No meio dessa vida de danças, festas e muita imaginação, encontra-se o filho do casal, Gary (Solan Machado-Graner), um garoto extremamente inteligente e incompreendido por seus pares e professores na escola, mas isso não parece incomodar o jovem, que se perde e se diverte nas intermináveis loucuras de seus pais.
Mas nessa fábula às avessas, tudo cobra seu preço e partimos para elas em uma brusca mudança no tom nos acontecimentos. O colorido dá lugar à tons mais sóbrios e a trilha cheia de jazz e upbeat sai de cena para temas mais tristes. É a vida e a saúde mental pedindo um pouco mais de atenção. Camille está visivelmente doente.
Roinsard consegue tocar em temas importantes com uma leveza e profundidade ímpares. Saúde mental, amor, responsabilidades e morte são postos na tela sem rodeios, mas com a alma e sutileza que poucos diretores conseguem mostrar.
Assim, ‘Esperando Bojangles’ utiliza de belas paisagens, personagens carismáticos e trilhas pungentes para nos guiar por esse mundo mágico e cruel, onde nada é feito sem que as duras consequências nos alcance. Uma verdadeira fábula de gosto agridoce que ficará por algum tempo em nossas mentes.