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|Crítica| 'David Contra os Bancos' (2023) - Dir. Chris Foggin

|Crítica| 'David Contra os Bancos' (2023) - Dir. Chris Foggin

Crítica por Raissa Ferreira.

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'David Contra os Bancos' / Synapse Distribution

 

Título Original: Bank of Dave (UK)
Ano: 2023
Diretor: Chris Foggin
Elenco : Rory Kinnear, Joel Fry, Phoebe Dynevor, Jo Hartley, Hugh Bonneville e Paul Kaye.
Duração: 107 min.
Nota: 2,5/5,0

 

Chris Foggin exalta a união de uma pequena comunidade contra grandes poderes em uma comédia simplista de mocinhos e vilões

Em um breve momento em que o filme se volta para as cenas de tribunal, o advogado Hugh (Joel Fry) diz que a imprensa está de olho naquele caso em busca de uma história simples, de mocinhos e vilões, e essa fala resume perfeitamente o que “David Contra os Bancos” é. A história baseada em eventos reais da vida de Dave Fishwick até tem diversos pontos que poderiam ser aprofundados, seja em críticas à economia e políticas dos bancos britânicos, na prosperidade de pequenas comunidades que se organizam ou no fato de um homem milionário de uma pequena cidade ter começado um banco para fomentar seu próprio coletivo, mas a escolha aqui é realizar um filme positivo e simples em todos os sentidos, que não busca grandes coisas além de uma história feliz que agrade todos os públicos. É o que costumo chamar de filme “sessão da tarde”, que poupa esforços de uma edição para cortar cenas inapropriadas e já nasce com uma classificação livre, mas que também não desafia seu público a fazer grandes questionamentos. Se a história de como uma recessão econômica no país fez Dave (Rory Kinnear) querer provocar o sistema a admitir suas próprias falhas, o longa de Chris Foggin pode até citar isso, mas não faz grandes gestos nesse campo, sempre se mantendo numa linha segura da superficialidade dos temas para garantir que a peteca do feel-good movie não caia nunca. Assim, a narrativa sempre aposta nesse maniqueísmo em que existem “os bancos” sempre citados dessa forma como uma unidade maligna de executivos brancos de meia-idade sentados numa sala bastante clara e cinza e a comunidade de Burnley, cheia de pessoas felizes que querem fazer o bem.

O embate entre a capital, Londres, e a pequena cidade, sempre desprezada pelos habitantes engomadinhos da metrópole, também levanta questões interessantes que só ficam ali na superfície. Hugh é muito mais protagonista que Dave nesse sentido, já que é a sua jornada que move a narrativa, seu contato com a pequena cidade, com as pessoas que ali vivem e sua forma de ver as coisas, que transformam sua relação com seu trabalho e sua vida, aquela fórmula básica e clássica tanto usada no cinema. Dave, que é a figura refletida da vida real, parece bem menos carismático nas fotos que vemos nos créditos do que a atuação bastante simpática de Rory Kinnear conseguiu criar, e talvez isso tenha salvado o personagem, já que o próprio longa parece não dar muita importância para uma aproximação humana com ele. Dave se estabelece na narrativa como um pilar daquela cidade, a quem todos recorrem e que sempre está firme, quase como um objeto realmente, apesar do carisma que o ator traz, o filme o vê como uma peça obrigatória dos acontecimentos, mas é a relação do advogado que move tudo. É por isso, também, que a médica Alexandra (Phoebe Dynevor) está sempre na casa de Dave sem explicação nenhuma, para movimentar seu romance com Hugh.

Foggin não se preocupa muito com os detalhes, apenas com o resultado final. Encaramos muitas cenas em que a música é extremamente presente, por exemplo, e que em dado momento aparentam ser apenas motivadas por um gosto pessoal do diretor, por serem deslocadas narrativamente, como quando Alexandra e Hugh estão em um show e as cenas parecem uma grande ponte para lugar nenhum. A amarração final para todos esses momentos musicais se dá na arrecadação para construir o Banco do Dave, com um grande espetáculo do Def Leppard que multiplica em umas 500 vezes a noção de comunidade que o filme construiu, com uma plateia gigante. No final as coisas até se amarram, mas sobram momentos em que as coisas não tem lá muita motivação ou sentido, só ocorrem para chegar ao ponto que querem chegar. É tudo bastante ingênuo e inofensivo, buscando puramente uma diversão desapegada e rasa. Não que precise ser realmente mais do que isso, mas “David Contra os Bancos” até levanta muitas bolas que poderiam trazer maiores conflitos para seus personagens ou reflexões no resultado final, falamos afinal de uma história em que a política é sempre presente e os diálogos em diversos momentos apontam para embates ideológicos que simplesmente não cabem na proposta de Foggin, então ficam apenas na sugestão superficial e, em certo ponto, até culminam num discurso genérico motivacional, o que atesta essa falta de vontade de se comprometer com qualquer crítica mais séria.

Para o que busca fazer, “David Contra os Bancos” se sai bem, numa diversão inocente sem ambições maiores e que é adequada para públicos de todas as idades, deixa a desejar mas não é a pior coisa que você pode ver numa tarde qualquer. 

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