Português (Brasil)

|Crítica| 'Besouro Azul' (2023) - Dir. Ángel Manuel Soto

|Crítica| 'Besouro Azul' (2023) - Dir. Ángel Manuel Soto

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Besouro Azul' / Warner Bros. Pictures

 

Título Original: Blue Beetle (EUA)
Ano: 2023
Diretor: Ángel Manuel Soto
Elenco : Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, Adriana Barraza, Harvey Guillén, Damián Alcázar e Raoul Max Trujillo.
Duração: 127 min.
Nota: 3,0/5,0

 

"Besouro Azul" resgata um pouco da ingenuidade e do heroísmo que foram se perdendo nos filmes de super-heróis ao longo dos anos, ainda que as escolhas estéticas nem sempre acompanhem essa proposta

A chamada fórmula Marvel, que em algum sentido (a obsessão pelo racional) é uma consequência dos filmes do Batman de Christopher Nolan, e o seu sucesso comercial ajudaram a modificar o gênero de super-herói, a fim de acompanhar uma tendência hollywoodiana dos últimos 15 anos aproximadamente, visando um certo realismo ou uma falsa noção de realidade lógica. Consequência direta ou não do ceticismo do mundo contemporâneo, a fantasia que dominou não só os filmes de heróis, mas boa parte do cinema americano da década de 2000, foi se perdendo. As piadinhas podem enganar e dar uma sensação de ingenuidade, mas na prática, com raras exceções (como os Guardiões da Galáxia), há uma seriedade latente no gênero que rejeita o lúdico não só nas temáticas e personagens, como principalmente na imagem, sendo a evidência mais clara a ideia de que o bom CGI (que domina esses filmes) é o realista, quase sempre escondendo as imperfeições da técnica em uma escuridão nas cenas de ação.

Por mais que "Besouro Azul" ainda viva sob a sombra do CGI realista e em parte isso contradiga sua proposta central, o filme de Ángel Manuel Soto encontra bastante da ingenuidade que o gênero clama há tempos, criando paralelos bem claros até com os Homem-Aranha do Sam Raimi. Ao mirar na cultura latina, tanto com personagens mexicanos, como ao trazer uma estrela brasileira em Bruna Marquezine (o Brasil é um dos maiores fandom da DC), o que poderia ser apenas uma escolha comercial (e, sim, tais escolhas de representatividade só foram levadas às telas porque vendem), encontra uma vida cada vez mais rara no gênero.

Por mais que os filmes sejam de super-heróis, o interesse crescente é nos "super" e não nos "heróis". Ou seja, parece que virou algo divertidinho os super poderes que geram cenas de ação explosivas. Os heróis são cada vez mais inalcançáveis e indestrutíveis, um pouco consequência do efeito Homem de Ferro e da não necessidade de preservar o humano por trás da máscara. Até porque, agora é legal ser super-herói. Lembra do "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades"? Então, isso tinha ficado lá para o começo dos anos 2000.

É nesse sentido e não nas genéricas cenas de ação (exceção feita à final meio Mucha Lucha) que "Besouro Azul" encontra sua personalidade. O herói que não só rejeita e tem que se adaptar aos seus poderes como um fardo, mas, principalmente essa vida mundana, os problemas financeiros e de família que aparecem como verdadeiras questões para a formação do seu caráter. Jaime Reyes (Xolo Maridueña) é uma pessoa normal que precisa salvar o mundo, basicamente.

E seguindo justamente essa proposta que Soto descentraliza muito das ações do protagonista. Não só Jenny (Marquezine) age para combater a tia, mas principalmente a família Reyes se torna ativa no processo. Claro, em parte, são utilizados como as tradicionais piadas. Mas há algo a mais, seja no tio excêntrico que se coloca na linha de frente, na avó com uma metralhadora fantasiosa na mão ou a irmã utilizando um gadget que dá soco. Tudo isso ajuda a resgatar essa ingenuidade mais boba, o lúdico e divertido que já foram um dia a essência desse gênero (quando nem sequer era tratado como gênero), antes dessa apropriação comercial e geek que exige que os super-heróis devam ser levados a sério. Devem mesmo? "Besouro Azul" mostra que nem sempre.

Nesse sentido, o mais frustrante é justamente como o filme não se entrega totalmente a esse lúdico. A família mexicana que se transforma em um certo estereótipo cultural, as sequências escuras, como a do túnel, ou o capanga com background demonstram uma certa resistência pela ingenuidade total. Este último acaba por ser até um contraponto à vilã de Susan Sarandon. Outra tendência dos filmes de super-heróis e de Hollywood como um todo é a ideia de que o maniqueísmo é ruim e superficial, transformando os vilões cada vez mais em seres tridimensionais (o que muitas vezes é bom), como se o mal não existisse nunca, fosse sempre uma consequência de ações do mundo naqueles personagens. O capanga à la 007 de "Besouro Azul" tem um apelo final a essa suposta complexidade. A personagem de Sarandon, por sorte, dialoga com a ingenuidade mais maniqueísta. É má e pronto, não precisa ser nada além disso. Infelizmente acredito que o longa e essas ideias pouco impactarão o gênero, o ingênuo demorará bastante para ser visto com fascínio novamente.

Compartilhe este conteúdo: