Português (Brasil)

|Crítica| 'Bad Boys: Até o Fim' (2024) - Dir. Adil El Arbi e Bilall Fallah

|Crítica| 'Bad Boys: Até o Fim' (2024) - Dir. Adil El Arbi e Bilall Fallah

Crítica por Victor Russo.

Compartilhe este conteúdo:

 

'Bad Boys: Até o Fim' / Sony Pictures

 

Título Original: Bad Boys: Ride or Die (EUA)
Ano: 2024
Diretores: Adil El Arbi & Bilall Fallah
Elenco : Will Smith, Martin Lawrence, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig, Paola Nuñez, Jacob Scipio e Joe Pantoliano.
Duração: 115 min.
Nota: 3,0/5,0

 

A tentativa desajeitada e desesperada de emular Michael Bay encontra algum refresco no tom desavergonhado e em Martin Lawrence como uma metralhadora de piadas

Depois de mais de 15 anos longe dos cinemas, Bad Boys retornou em 2020 marcando uma mistura de homenagem com transição. A dupla Adil e Bilall olhava com carinho para os dois filmes de Michael Bay e ao sentir o peso da autoria do cineasta de estilo muito marcado (amado por uns, odiado por muitos), a dupla parecia recuar e deslocar, em parte, aquele universo com a cara do cinema policial dos anos 1990 e começo dos 2000 para um lugar mais controlado do blockbuster contemporâneo, que não permite tantos exageros e se delicia com uma carga emocional familiar e de trauma. Só que, após um certo sucesso comercial nesse retorno (embora um tanto esquecível, é verdade), ao invés de manter esse rumo mais seguro, Adil e Bilall dobram a aposta em tentar resgatar, agora de forma completa, o que marca o cinema de Bay, escancarando a homenagem ao introduzir um cameo ainda mais explícito do cineasta (seguido por outra aparição na mesma sequência, bem vergonhosa).

Entretanto, nessa busca por agradar o fã e homenagear Bay, os cineastas se colocam, sem perceber, em um lugar arriscado. Se Bay é amado e odiado é justamente porque ele tem um estilo extremamente particular, sobretudo em como filma essa ação, em meio a uma desespacialização constante e frenesi perturbador dos muitos cortes. Ao tentar replicar tal estilo, Adil e Bilall caem em uma homenagem meio desajeitada, apostando todas as fichas no desconforto e no exagero, sem saber direito o que estão fazendo. O ângulo holandês (ângulo torto), os cortes incessantes, a câmera tremida, o close em grande angular durante a ação e até a simulação de um ponto de vista, similar ao gameplay de video game, em um momento específico apenas, soam simplesmente como uma metralhadora de recursos sem personalidade. Há uma incapacidade de manipular o estilo de Bay para encontrar algo novo tanto quanto copiá-lo. É apenas uma réplica meio mal feita revestida de homenagem que não encontra nem ritmo nem imagem capaz de engajar com os movimentos e ações. É uma busca por ser outro que tira a personalidade de um longa que clama por rejeição ao industrial. Não há uma unidade nessa visão, apenas um inchaço de recursos super expressivos a fim de gerar sensações no público, tornando essa constância de desequilíbrio visual (cortes, ângulo torno, câmera se movendo rapidamente, close em grande angular com distorções, plongée e contra-plongée super marcados) não algo que confronte o sistema dominante dos filmes de ação ocidentais, e, sim, um filme sem uma encenação definida, tornando tais recursos aleatórios, a partir do momento que muitos deles aparecem apenas pontualmente como uma piada que se estende até perder a graça (o plano e contra-plano em plongée e contra-plongée para marcar a diferença de altura dos personagens) ou o POV de video game que não se sustenta e faz questão de recorrer ao corte para explicar quem está segurando aquela arma, como se já não fosse claro o suficiente.

Nesse sentido, o que torna Bad Boys: Até o Fim uma adição mais interessante do que o anterior para a franquia é justamente a falta de vergonha, não só de retornar para uma dinâmica mais noventista, até de piadas questionáveis atualmente e um cinema policial mais clássico em sua estrutura, mas, principalmente, no uso raramente efetivo de um recurso que se popularizou e se banalizou com o Universo Marvel, os cortes frequentes para piadas em meio a ação e acontecimentos frenéticos. Nesse sentido, não só Martin Lawrence faz de seu personagem o alívio cômico desastrado de sempre, mas o próprio filme o torna livre, sem muita preocupação dramática ou em que se apegar, um dispositivo para essa metralhadora de piadas, encontrando em um texto completamente sem amarras do “bom gosto” os picos de cada cena. É aí em que a dupla se sai bem ao revitalizar o começo da franquia se usando justamente de uma dinâmica atual, mas revertendo-a a um descompromisso que não existe nos dias de hoje. É sobretudo por isso que o longa vai deslizar quando volta a querer emular Bay em sua cafonice dramática, mas se levando a sério demais no processo. 

Compartilhe este conteúdo: