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|Crítica| 'Avatar: O Caminho da Água' (2022) - Dir. James Cameron

|Crítica| 'Avatar: O Caminho da Água' (2022) - Dir. James Cameron

Crítica por Victor Russo.

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'Avatar: O Caminho da Água' / 20th Century Studios

 

Título Original: Avatar: The Way of Water (EUA)
Ano: 2022
Diretor: James Cameron
Elenco : Sam Worthington, Zoe Saldaña, SIgourney Weaver, Stephen Lang, Kate Winslet e Cliff Curtis.
Duração: 192 min.
Nota: 4,0/5,0
 

13 anos depois, James Cameron está ainda mais fascinado com o mundo que criou e nos transporta para exibi-lo até em suas ações mais banais

Em 2009, “Avatar” veio para gerar uma revolução no 3D, mudança essa que foi realmente bem utilizada em apenas alguns poucos filmes posteriores. A nova tecnologia atraiu interesse e fez do filme a maior bilheteria da história, sendo ultrapassado apenas dez anos depois por “Vingadores: Ultimato”. Entretanto, o deslumbramento pela estética rapidamente se transformou em críticas ao longa, sobretudo pelos que criticavam uma suposta fragilidade da história, com a comum frase “Avatar é uma cópia de Pocahontas”.

Porém, por mais que não deixe de ser incômodo o fator “salvador branco” do longa (o que não é invenção de “Pocahontas”, mas está presente em uma série de longas, quase sempre americanos, entre eles, os mais famosos e semelhantes a “Avatar”: “Dança com Lobos” e “O Último Samurai”), em 2009, Cameron já mostrava aquilo que mais lhe interessava. Primeiro, claro, a evolução da tecnologia, e, por consequência, uma nova possibilidade para o uso da linguagem cinematográfica, o que o fez persistir nas novas melhorias por mais de uma década depois do original. Segundo, e não à parte do 3D, o fascínio por aquele mundo novo em todos os seus aspectos.

Seguindo os eventos do primeiro filme, mas criando uma passagem de tempo logo de início, Cameron chuta um pouco a questão do “salvador branco” de lado para deslocar o seu interesse só para aquilo que mais lhe atraia no primeiro longa: o deslumbramento por aquele mundo e como a técnica possibilita exibi-lo. Para isso, o cineasta diminui ainda mais a importância de uma trama super complexa e presente, ao mesmo tempo que mantém a sua abordagem mais frontal dos personagens, criando arquétipos, o que não impede o filme de ser dramaticamente poderoso. Além disso, até o protagonismo de Jake Sully perde força (no bom sentido). Ele segue sendo, teoricamente, o personagem principal e a razão da história andar. Mas, na prática, o protagonista é Pandora. 

Fica bastante evidente que Cameron deseja muito exibir aquele mundo para gente, transformando, assim, qualquer acontecimento em um evento poderoso. O primeiro mergulho dos Na’vi da floresta, a primeira conexão com um animal novo, a briga juvenil entre os jovens do local e os forasteiros, a tentativa de sobreviver a uma emboscada e a criação de uma nova amizade de elo forte, entre muitos outros acontecimentos. O filme quase esquece de andar com a sua história (ainda que esteja se movendo com esses momentos “menores”), ignora um protagonismo único e nos joga para próximo de cada um desses personagens conhecendo um novo mundo em seus mais pequenos detalhes. Tudo isso com uma decupagem que abre sempre o plano para dar noção do todo, mas mantém também a câmera mais próxima dos personagens a cada descoberta, aproximando-nos deles.

Cameron gera, então, a ideia do “igual, mas diferente”. Isso porque, até certo ponto a história anda de forma parecida, o vilão caçando o mocinho, os bonzinhos aprendendo a viver em um mundo novo e se deslumbrando pelo lugar, os homens explorando e destruindo Pandora e por aí vai. Entretanto, nada disso acontece da mesma forma, e o fascínio por aquele mundo só cresce ao apresentar mais um mundo dentro daquele que já conhecíamos. Chegando ao ponto até de o vilão ter o seu momento de se impressionar com o lugar, passar a vivê-lo e ainda ter com quem se importar, um garoto criado em Pandora.

É como se Cameron resumisse o filme tematicamente no discurso que abre o longa, quando Jake diz ser impossível não se apaixonar por Pandora. O 3D vem mais uma vez para transformar essa ideia em imagem, passando do campo temático para a sensorialidade que só o cinema é capaz de criar ao gerar imagens em movimento combinadas com o som.

De certa forma, um dos pais do blockbuster rompe com as “regras” do blockbuster atual e ignora qualquer busca por roteiros rebuscados, personagens complexos ou ideias de como um filme precisa estabelecer pontos de virada ou clímax. Para Cameron, tudo está a serviço de Pandora e ele vai exibi-la da forma mais contemplativa, bela e dramaticamente poderosa, independente se vai contrariar aquilo que críticos e público acreditam que deve ser o cinema atual. 

Em certo sentido, é um soco na cara desse realismo contemporâneo preocupado com a lógica e desinteressado pela imagem. Para o cineasta, o que importa é cada momento que a fantasia daquele lugar é capaz de criar. Pouco importa se faz sentido, não precisa fazer. Ele quer apenas nos fazer sentir parte daquele local. Talvez o ápice disso esteja no clímax do longa, que antecipa o rápido duelo entre herói e mocinho, enquanto volta todo o seu interesse para a sobrevivência daqueles personagens por meio de um elemento intrínseco a Pandora, transformando o desespero do afogamento na contemplação de um belo resgate.

Assim, “Avatar: O Caminho da Água” ganha vida ao criar cada elemento novo do seu mundo fantástico, com suas novas regras e aprendizados, enquanto convida o público para emergir junto com os personagens pelas águas de Pandora e apreciar tudo que há de mais belo para ser exibido no fundo daquele mar.

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